27.5.07

As histórias dos católicos progressistas num "passado [que] deixou marcas"

(Texto publicado aqui)

A livraria Almedina Estádio apresenta “Entre as Brumas da Memória”, da autoria de Joana Lopes, numa sessão que terá lugar em Coimbra, no dia 31 de Maio (Quinta-feira), às 21h15, e contará com a apresentação de Rui Bebiano, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e José Dias, presidente do Conselho da Cidade de Coimbra.

“Entre as Brumas da Memória”, livro publicado pela Ambar este ano, retrata o papel que as elites católicas tiveram na luta contra o regime fascista vigente em Portugal, durante a década de 60. É indiscutível que a maioria dessas elites se identificou com os posicionamentos do salazarismo. Mas poucos sabem que foi crescendo na altura o número dos que, de dentro da Igreja, se opuseram ao regime e o afirmaram cada vez mais claramente. É sobre essa organização informal e as suas iniciativas que Joana Lopes escolheu escrever.

Em 1963/1964, os efeitos do Concílio Vaticano II – um dos grandes motores da abertura da Igreja - começam a fazer-se sentir. O conservadorismo da Igreja portuguesa, a ausência de liberdades elementares e a manutenção da guerra colonial deixam parte dos Portugueses descontentes com o regime vigente. Movimentos de contestação aparecem. O dos “católicos progressistas” é um deles.

Apesar de a acção dos católicos da oposição nas últimas décadas da ditadura já ter sido objecto de algumas publicações, Joana Lopes decidiu dar a essa luta uma abordagem mais aprofundada, dando conta da dimensão do movimento, em termos de número de iniciativas e de pessoas envolvidas. “Poucos dos que protagonizaram [essas iniciativas] têm parado para as descrever”, argumenta a autora. Resolveu então fixar no papel o que aconteceu. “(…) Cresceu em mim o desejo de contar algumas histórias, pouco conhecidas ou já esquecidas, de um vasto conjunto de pessoas (…), que viveram intensamente os últimos anos do salazarismo e o início do marcelismo acreditando que a pertença a uma comunidade de católicos e muitas iniciativas que foram tendo - em parte por causa dessa pertença - podiam ajudar a Igreja a renovar¬ se e Portugal a sair do fascismo. Muitas dessas pessoas, nas quais me incluo, há muito que deixaram a Igreja. Mas o passado deixou marcas”, explica Joana Lopes.

Até ao fim da década de 60 – época em que se desenrolaram os acontecimentos abordados neste livro –, Joana Lopes participou activamente em várias organizações e iniciativas dos que ficaram conhecidos como «católicos progressistas». Contudo, “Entre as Brumas da Memória” não é uma autobiografia nem um livro de história, mas sim um “livro de histórias” para os que “ignoravam que alguns dos seus conterrâneos não se limitaram a viver tranquilamente sob o manto, protector e único, do Estado Novo e da Igreja portuguesa” e também “[para] os nossos filhos, que nasceram ou atingiram a idade adulta já em democracia, [e que] pouco sabem de tudo isto e têm talvez o direito de saber”, conclui a autora.

Joana Lopes nasceu em 1938 em Lourenço Marques (actual Maputo, capital de Moçambique) e é licenciada em Filosofia pela Universidade de Lovaina (Bélgica), onde também se doutorou em Lógica Matemática.

3 comments:

cs disse...

Sabe Joana eu já gostava de si, mas depois de saber que somos patrícias, então fiquei mesmo fã

lollll

vou tentar lá estar no dia 31 e comprar um livro tentando um autografo

Um grande beijo

cs

Joana Lopes disse...

Patrícias? Ora ainda bem. Já tenho pensado pôr uns textos sobre Moçambique, de onde vim com 9 anos e onde voltei em 2002.Já percebi, por alusões em caixas de comentários, que há vários moçambicanos que passam por aqui.
Se chegar a ir a Coimbra, «mostre-se»... Um abraço

cs disse...

eu quando encontro algo que me cative não deixo de referenciar no meu blog.
Eu vim com 13 e ainda não voltei.

:))