14.4.07

Os católicos contra a ditadura: a vez da voz - um texto de Rui Bebiano


Só recentemente se começaram a reconhecer de um modo sistemático as formas da oposição ao salazarismo organizadas à margem da actividade do Partido Comunista ou dos seus aliados tácticos e companheiros de jornada. A capacidade de organização e a tenacidade combativa dos comunistas, associadas às consequências da demonização que deles fazia o regime anterior, contribuíram em larga medida para fazer passar à condição de figurantes as outras formas e os outros espaços de resistência. Sem questionar a importância decisiva do PCP no combate contra a ditadura, é preciso reconhecer que se encontra ainda por estudar, por exemplo, a definição de uma «oposição cultural» crescentemente alargada e diversificada ao longo dos últimos vinte anos do Estado Novo, capaz de definir vivências e imaginários alternativos traduzíveis numa desafectação crescente de parte importante da juventude universitária e urbana, dos sectores artísticos e intelectuais e de muitos elementos das profissões liberais e da classe média. Por sua vez, a dissidência individual, inevitavelmente menos notória, permanece em larga medida por reconhecer, se exceptuarmos referências pontuais surgidas neste ou naquele obituário, ou então em homenagens públicas mais ou menos tardias.
Os grupos organizados têm também permanecido quase na penumbra. A corrente socialista ainda não possui um estudo detalhado sobre a sua génese e desenvolvimento (um livro de Susana Martins constitui uma primeira tentativa). A esquerda radical só recentemente começou a ser objecto de estudo sistemático (principalmente com José Pacheco Pereira e Miguel Cardina), enquanto a actividade dos sectores católicos de oposição, apesar de recorrentemente mencionados e hoje publicamente «representados» na intensa acção cívica de muitos dos seus antigos activistas, continua por conhecer. Se exceptuarmos alguns textos de António Alçada Baptista e de João Bénard da Costa, a actividade do grupo tem sido recordada apenas em evocações episódicas, por vezes de pendor algo nostálgico, como aconteceu recentemente quando da comemoração dos quarenta anos da fundação da revista O Tempo e o Modo.
Um contributo novo e relevante para alterar este estado de coisas acaba, entretanto, de ser proporcionado por Joana Lopes, autora de Entre as brumas da memória. Os católicos portugueses e a ditadura, publicado pela Ambar. Logo no prefácio, Pedro Tamen chama a atenção para importância do papel histórico desses portugueses que «descobriram, no essencial, que ser católico não implicava apenas endossar um ideal confinado à parede dos templos (…), antes apontava imperativamente para uma intervenção no plano da vida da colectividade». Refere-se Tamen, naturalmente, aos chamados «católicos progressistas» – designação atribuída pela esquerda marxista que a maioria deles, aliás, rejeitava – os quais exprimiam na época uma atitude de crítica às posições conservadoras dominantes na Igreja portuguesa, de expectativa em relação às decisões do Concílio Vaticano II e de gradual distanciamento, em numerosos casos conduzido até à ruptura, em relação ao regime político vigente. Aquilo que Joana Lopes faz neste livro, a partir da sua própria memória e da investigação que a partir dela foi desenvolvendo – regressando aos acontecimentos nos quais participou, aos documentos que tão bem conheceu, a muitas das pessoas com as quais se cruzou –, foi relembrar a actividade intensa e um tanto subavaliada daqueles sectores.
A autora avisa, de início, que considera não ser este um livro de História («não sou historiadora nem pretendo parecê-lo»), mas tratar-se antes de «um livro de histórias e como tal deve ser lido» (p. 18). Não creio que devamos concordar com a sua modéstia. Torna-se evidente, é verdade, que Joana Lopes não produziu um estudo aprofundado e exaustivo de influências e de ideias, tal como não estudou, por exemplo, a articulação dos «católicos progressistas» com outros sectores de opinião, seja no campo da oposição política ao Estado Novo seja no que respeita aos sectores que se mantinham próximos deste. Mas procedeu a um levantamento muito completo das grandes causas e dos momentos centrais da luta, difícil e prolongada, na qual participou. Um trabalho que não se encontrava feito e que passa agora a estar disponível para todos os interessados. Por outro lado, ao assumir o carácter pessoal de muitos dos testemunhos dos quais se serviu, pratica um esforço memorialista que é, cada vez mais, indispensável para o desenvolvimento da nossa história recente. Neste sentido – e integrando também, naquilo que o livro pode oferecer, os importantes documentos transcritos como anexos – oferece-se aqui um conjunto de ferramentas de uma grande utilidade. Joana Lopes pode não ser historiadora, mas este é, sem dúvida, um livro para a História.
Nele se abordam factos e movimentos tão diversos como o lançamento da publicação Direito à Informação (1963-1969), o posicionamento dos católicos portugueses perante a presença de Paulo VI na Índia, na Assembleia-Geral da ONU e em Fátima (1964-1967), a fundação da revista O Tempo e o Modo (1963-1970, a 1ª série), a criação da cooperativa Pragma (1964), o encerramento do Concílio (1965), o lançamento da revista Concilium (1965-1969), a fundação da cooperativa Confronto (1966), a «tomada por dentro» da velha Acção Católica (1966), a participação portuguesa no II Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos (Roma, 1967), o lançamento dos Cadernos Socialistas No. 3 (1967), a comemoração do Dia da Paz (1968), o caso Pe. Felicidade Alves (1968), a criação do grupo de reflexão C43 (1968), a revitalização do Centro Nacional de Cultura (1968-1969), o lançamento da Tribuna Livre (1968-1969), a participação nas listas oposicionistas da CDE e da CEUD (1969) e a publicação dos Cadernos GEDOC (1969-1970). Para além da vasta actividade em colóquios e reuniões de reflexão de um amplo conjunto de padres e de leigos.
A visita de Paulo VI a Fátima é apresentada como um importante ponto de viragem, tendo constituído uma grande desilusão e significando, para muitos, o instante decisivo num processo de ruptura com a Igreja ou mesmo com a sua fé: «Foi estranho ver, a poucos metros de distância, Américo Tomás, Salazar, a irmã Lúcia e o Papa, quando desejávamos tanto que tudo aquilo não estivesse a acontecer, que não passasse de um simples pesadelo.» (p. 56) Neste contexto, o papel desmobilizador, ou mesmo de clara colaboração com a repressão, por parte de diversos responsáveis eclesiásticos, como o cardeal Cerejeira ou o padre Videira Pires, surge aqui como relevante e como um factor que os estudiosos da História da Igreja em Portugal não deveriam de modo algum omitir.
A dada altura, Joana Pires estabelece uma analogia, alargada à evolução experimentada na época abordada no livro pela Igreja Católica, que merece ser sublinhada. Entende que, durante o Concílio, também ela «arriscou uma glasnost, uma abertura à sua maneira», tendo então esboçado «um tímido aggiornamento». Todavia, «travou-o a tempo de não deixar que ele se transformasse em perestroika» (p. 167). A estrutura não cedeu; cederam apenas aqueles que a tinham procurado abanar. Esta perestroika fizeram-na muitos destes católicos já fora dessa Igreja. Alguns deles, reconstruindo a sua utopia nas fileiras de movimentos que, por formas diversas, com diferentes armas, procuravam interpretar uma outra ideia de Redenção. Sabe-o bem Joana Lopes, militante do PRP/BR quando chegou a madrugada do 25 de Abril.
Joana Lopes (2007), Entre as brumas da memória. Os católicos portugueses e a ditadura. Porto: Ambar. Prefácio de Pedro Tamen. 248 pp. [ISBN: 978-972-43-1203-3]

13.4.07

Padres e Ditadura - uma mensagem e um «memorandum» de Nuno Teotónio Pereira




Caros Amigos

Depois do gratificante encontro por ocasião do lançamento do livro [«Entre as Brumas da Memória»], reparei que tinha cometido uma grave omissão nas palavras que na altura proferi, embora tivesse apontado o assunto na cábula que havia preparado. Trata-se do importante papel que tiveram muitos padres ao longo do meio século da ditadura, mas cujo testemunho corajoso não conseguiu mobilizar os fiéis para acções mais decididas e menos atrasadas contra o regime.
Para tentar, embora parcialmente, colmatar essa omissão, junto um memorandum que escrevi há tempos sobre o tema, e que espero possa ser desenvolvido, também em forma de livro, por quem o possa fazer.

Um abraço,

Nuno Teotónio Pereira

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PADRES E BISPOS QUE ENFRENTARAM A DITADURA


P. Joaquim Alves Correia – Missionário da Congregação do Espírito Santo. Autor de um livro que fez História, “A Largueza do Reino de Deus”, foi mandado para os Estados Unidos em 1946, onde veio a falecer em 1951.
P. César Teixeira da Fonte – Sacerdote madeirense, expulso da sua terra por ter apoiado manifestações de protesto de camponeses explorados. Veio residir para o Continente e foi um dos signatários dos abaixo-assinados promovidos por Francisco Lino Neto em 1959, na sequência da campanha eleitoral de Humberto Delgado.
P. Manuel Rocha – originário dos Açores, foi companheiro de Abel Varzim em Lovaina, onde se doutorou na década de 40, regressando depois a Portugal como assistente da Acção Católica Operária. Acusado pelo governo de fomentar a revolta, foi mandado pelo Cardeal Cerejeira para Ludlow, Mass, como pastor de uma importante colónia açoreana.
P. Abel Varzim – Após a ordenação, ofereceu-se voluntariamente para a diocese de Beja, tendo depois seguido para Lovaina, onde se doutorou. Regressado a Portugal, foi nomeado assistente geral da Juventude Operária, acumulando com a direcção do Instituto do Serviço Social e outros cargos da Igreja. Deputado à Assembleia Nacional pela União Nacional, foi aí autor de um aviso prévio sobre os sindicatos que indispôs o regime. Fundador do jornal “O Trabalhador”, conseguiu manter durante anos a sua publicação, apesar dos cortes da censura, a qual acabou por proibir o jornal. Afastado, por pressão do governo, de todos os cargos, foi nomeado pároco da freguesia da Encarnação, em Lisboa, desenvolvendo aí a sua acção pastoral. Finalmente é destituído pelo Cardeal Cerejeira também desse cargo, regressando a Cristelo, sua aldeia natal, onde, até morrer, desenvolve notável acção social. Primeiro signatário, que lhe coube por ordem alfabética, dos manifestos de 1959 referidos acima.
P. Adriano Botelho – Pároco de Alcântara, freguesia marcadamente operária, o seu trabalho suscita críticas do governo, o que leva a que Cerejeira o destitua e mande para a Argentina, numa cidade da Patagónia. Regressado passados alguns anos, é nomeado pároco de S. João de Brito, em Alvalade, onde colabora com movimentos da oposição católica ao regime. Signatário também dos documentos de 1959.
P. João Perestrelo de Vasconcelos – Ainda jovem, é nomeado Capelão do Arsenal do Alfeite, onde seu pai era administrador. Oriundo de família da alta burguesia, ali assume os problemas da classe operária. Também subscritor dos documentos de 59, facilita a Manuel Serra, João Gomes e outros dirigentes da Acção Católica Operária, a utilização da Sede da Associação dos Marinheiros Católicos nos claustros da Sé de Lisboa, onde foi preparada a chamada revolta da Sé, em 1959. Demitido de seu cargo no Arsenal, foi depois para o Brasil.
P. António Jorge Martins – Ainda jovem, foi colocado no Seminário de Almada, mantendo contactos cada vez mais apertados com meios católicos da oposição à ditadura, tendo sido co-fundador da publicação clandestina “Direito à Informação”, iniciada em 1963. Caiu assim nas suspeitas do regime, pelo que Cerejeira o mandou estudar para Estrasburgo, onde refez a sua vida, tornando-se um elemento importante da comunidade portuguesa. Foi também signatário dos documentos de 1959 e de outros posteriores.
P. José da Costa Pio – Coadjutor da freguesia de Arroios, em Lisboa, tendo sido demitido e perseguido. Igualmente signatário dos abaixo-assinados de 1959.
P. José Narino de Campos – pároco em Évora, foi acusado de inimigo da Pátria e da Igreja, exilando-se no Brasil.
P. José Maria da Cruz Dinis – da diocese de Coimbra, conheceu a prisão pela Pide.
P. Joaquim Pinto de Andrade – irmão do dirigente do MPLA Mário de Andrade, foi preso em Luanda pela primeira vez em 1960, quando Vigário Geral da Diocese. Deportado para Lisboa, é transferido para a Ilha do Príncipe. Libertado com residência fixa em 1961, é preso sucessivamente mais 4 vezes pela Pide, julgado e condenado, cumprindo pena no forte de Peniche. Presidente honorário do MPLA durante esses anos, vive hoje em Luanda, muito doente.
P. Franklin da Costa – Professor do seminário de Luanda, foi preso em Portugal pela Pide em 1960, tendo sido obrigado a residência fixa em Lisboa. Depois do 25 de Abril regressou a Angola, tendo sido nomeado Arcebispo de Lubango.
P. Alexandre Nascimento – Preso em Luanda a seguir aos acontecimentos de 4 de Fevereiro de 1961, foi deportado para Lisboa com residência fixa. Regressado a Angola em 1974, foi mais tarde nomeado arcebispo de Luanda.
P. Manuel Joaquim das Neves – Vigário Geral de Luanda, acusado de preparar o assalto à prisão da Pide em 4 de Fevereiro, é preso e deportado, com residência fixa em Braga, onde veio a falecer.
Padres Vicente Rafael, Domingos, Alfredo Gaspar, Martinho Samba e Lino Guimarães – presos em Luanda a seguir ao 4 de Fevereiro, são deportados para Portugal com residência fixa, sendo alguns anos depois autorizados a regressar.
P. Mário de Oliveira – Considerado incómodo pelo trabalho que desenvolvia junto dos jovens, foi designado para capelão militar em 1967, tendo sido colocado no teatro de guerra da Guiné. Após alguns meses foi expulso por indesejável, tendo sido nomeado pároco em Macieira de Lixa, onde desenvolveu uma acção pastoral que lhe valeu ser preso duas vezes pela Pide. É hoje animador duma comunidade cristã na região do Porto e director do jornal “Fraternizar”.
P. José da Felicidade Alves – Professor no seminário dos Olivais, foi nomeado pároco de Belém, onde começou a questionar a guerra colonial nas homilias de domingo. Cedendo às pressões do governo, é mandado pelo Cardeal Cerejeira estudar para Paris, onde vive o Maio de 68. Regressado a Lisboa, funda os Cadernos GEDOC em 1969, “Grupo de Estudos e Documentação”, editados sem a necessária autorização, pelo que são considerados ilegais pela Pide, que instaura um processo aos responsáveis. Depois de casado, foi reduzido ao estado laical e mais tarde readmitido, antes de falecer.
Padres Joaquim Teles Sampaio e Fernando Marques Mendes – conhecidos por Padres do Macúti, paróquia de que eram responsáveis na diocese da Beira, em Moçambique, também denunciaram os massacres cometidos pelas tropas portuguesas em Moçambique, juntamente com missionários estrangeiros. Foram por isso presos pela Pide.
Padres João Dekker e Adriano (holandeses) – Trata-se de dois padres da Congregação dos Sagrados Corações, que trabalhavam na freguesia do Couço (Ribatejo), povoação que ficou conhecida pela resistência dos camponeses à ditadura e cuja população foi objecto de terríveis perseguições. Em 1970 foram presos pela Pide e levados até à fronteira do Caia.
P. Bartolomeu Recker – também holandês e da mesma congregação, foi obrigado a sair do país.
P. Ismael Nabais Gonçalves – Pároco de Igreja Nova, em Mafra, foi preso no final de 1973, no processo que levou a Caxias muitos activistas católicos.




ALGUMA BIBLIOGRAFIA

Alves, P. José da Felicidade (org.)
Católicos e Política – de Humberto Delgado a Marcello Caetano
Lisboa: edição do Autor, s/d.

Coelho, Mário Brochado
Em Defesa de Joaquim Pinto de Andrade
Porto: Afrontamento, s/d.

Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos
Presos Políticos – Documentos 1970-71
Porto: Afrontamento, 1972

Correia, Joaquim Alves
Cristianismo e Revolução
Lisboa: ed. Sá da Costa, 1977

Costa, João Benard da
Nós, os Vencidos do Catolicismo
Lisboa: O Independente, 1997

Freire, José Geraldes
Resistência Católica ao Salazarismo – Marcelismo
Porto: Telos, 1976

Lopes, Francisco
Pe Joaquim Alves Correia – Ao Serviço do Evangelho e da Democracia
Lisboa: Rei dos Livros, 1996

Matias, Augusto José
Católicos e Socialistas em Portugal (1875/1975)
Lisboa: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento, 1989

Oliveira, Mário de
Como Fui Expulso de Capelão Militar
Lisboa: Edições Margem, 1995

Oliveira, Mário de
Estava Preso e Visitaste-me
Porto: edição do Autor, 1974

Rodrigues, Domingos
Abel Varzim – apóstolo português da justiça social
Lisboa: Rei dos Livros, 1990

Santos, João Afonso dos et altri
O julgamento dos Padres do Macúti
Porto: Afrontamento, 1973


A lista é por ordem cronológica dos acontecimentos e contempla apenas os padres que foram objecto de repressão. Não estão entretanto incluídos os missionários estrangeiros em Moçambique que também denunciaram os massacres, como sucedeu com os Padres Brancos e os Padres de Burgos, vários deles expulsos da colónia.
Não inclui por isso padres portugueses que lutaram contra a ditadura, por diversos meios, mas que não chegaram a ser presos ou sancionados pelos superiores. Estão neste caso, por exemplo, várias dominicanos, como frei Bento Domingues e outros, e ainda os padres António Correia e Carlos Póvoa, párocos de Palmela e de Alhos Vedros, que participaram em diversas formas de luta, especialmente no domínio da informação. E o P. Alberto Neto, responsável pela Capela do Rato. E também o P. Telmo Ferraz, capelão da barragem do Picote, que publicou “O Lodo e as Estrelas”.
Também não estão na lista bispos, por serem mais conhecidos os seus casos. Entre eles, o mais destacado é António Ferreira Gomes, bispo do Porto, sendo de nomear também Sebastião Soares de Resende, bispo da Beira, e Manuel Vieira Pinto, de Nampula, expulso de Moçambique pouco antes do 25 de Abril. E ainda Altino Ribeiro de Santana, bispo em Angola.



No caso de aceitar o meu desafio, poderei indicar os contactos com testemunhas disponíveis para esclarecer e aprofundar muitos aspectos factuais e que passo a citar:
- António Jorge Martins (Estrasburgo).
- P. Mário de Oliveira (Porto).
- Mário Brochado Coelho (Porto).
- Frei José Augusto Matias (Lisboa).
- Frei Bento Domingues (Lisboa).
- João Gomes (Lisboa).
- António Marujo (Lisboa).
- Luís Moita (Lisboa).
- P. Henrique (Lisboa)
- Abílio Tavares Cardoso (Lisboa)
- Joana Lopes (Lisboa)

12.4.07

Nota de Abertura

Decidi criar este blogue por ter recebido várias sugestões nesse sentido, de pessoas que entretanto leram o livro, que me comunicaram apreciações e que gostariam de conhecer reacções de outros. Algumas contaram-me histórias que eu desconhecia, relacionadas com a mesma época e com os mesmos temas - pode ser que se decidam a contá-las.

Para além de uma Errata que já enviei a muitos (e que J. Pacheco Pereira fez o favor de publicar nos «Estudos sobre o Comunismo») e de algumas fotografias da sessão de lançamento, divulgo hoje dois textos com apreciações diametralmente opostas. Outros virão.

O Nuno Teotónio Pereira está a escrever sobre algo que gostaria de ter dito durante a apresentação do livro, na sessão de 20 de Março, e que publicarei quando receber. Eu própria estou a preparar um texto sobre a minha dificuldade em entender como se movem na Igreja os actuais «católicos progressistas» (não sei se existe hoje alguma outra designação, alternativa e mais adequada).

Todas as colaborações são bem-vindas: na caixa de comentários dos posts ou por texto enviado para o meu e-mail

Este blogue terá, em princípio e naturalmente, uma vida efémera. Enquanto quiserem, ficarei por aqui.

Lançamento do livro - 20/3/2007




Fotos cedidas por Fernando Penim Redondo

Católicos na oposição - um texto de José Pacheco Pereira

Publicado na revista Sábado, (15/3/2007, p.15)

A partir da segunda metade da década de sessenta do século XX, uma das fontes da resistência à ditadura foi a nova geração de jovens católicos “progressistas”, que queriam levar à prática a renovação que o Concílio Vaticano II tinha trazido. Desde muito cedo que as preocupações religiosas e eclesiais ficaram submersas pelas ideias políticas circulantes à volta do Maio de 1968, mas o momento inicial da ruptura com o regime ficou sempre marcado pela pertença a um credo confrontado com o mundo. O livro de Joana Lopes Entre as Brumas da Memória editado pela Âmbar, acrescenta-se a uma série de outras memórias e relatos de percursos de vida, como o de João Bénard da Costa, no retrato dos católicos “progressistas” na luta contra a ditadura. No entanto, estas memórias não se sobrepõem inteiramente, o que torna o relato de Joana Lopes um testemunho original. Enquanto na memorialística de Bénard da Costa, nos livros e ensaios sobre o Tempo e o Modo, a editora Moraes, o papel de António Alçada Batista, se relata o percurso de um sector que rapidamente e mais cedo se politiza em organizações que se viriam a revelar mais “moderadas” (o que tem que ser visto com um grão de sal a posteriori, porque o Movimento de Acção Revolucionária a que quase todos pertenceram pretendia-se “revolucionário”), o livro de Joana Lopes parte mais de dentro do interior da própria Igreja e das suas crises institucionais, da Acção Católica, do Seminário dos Olivais, do abandono das suas funções eclesiais de muitos padres, até chegar a movimentos radicais como a LUAR e o PRP-BR, mais determinados na acção violenta imediata do que os movimentos seus antecessores. Vale a pena lá encontrar a complexidade dos últimos anos da ditadura e a pluralidade da oposição, já bem longe da hegemonia comunista.

Texto também publicado em 16/3/2007, sob o título Para a história dos católicos na oposição em
http://estudossobrecomunismo2.wordpress.com/2007/03/16/para-a-historia-dos-catolicos-na-oposicao/

Do 'catolicismo progressista' à 'Acção Directa' - um texto de João P. Noronha

Publicado em
http://facaseluz.blogspot.com/ (6/3/2007)

A revista Actual do Expresso concede 3 páginas ao livro “Entre as Brumas da Memória – Os Católicos Portugueses e a Ditadura”, de Joana Lopes.

1 - De acordo com este artigo:
  • Os ‘cristãos progressistas’ sentiram-se interpelados pela Encíclica Pacem in Terris. Pretendiam “ajudar a Igreja a renovar-se e Portugal a sair do fascismo”.
  • Mas a visita de Paulo VI a Fátima e a publicação da “decepcionante encíclica «Humanae Vitae»” forçou estes ‘católicos progressistas’ a abandonarem a Igreja. A autora confessa que nesse momento: “a religião saiu da minha vida ou eu dela”.
  • Nalguns casos, na sequência da apostasia destes cristãos, muitos seguiram a via da violência revolucionária. O autor do artigo revela que:
    ”[a] deserção dos católicos progressistas, em muitos casos deu lugar a um intenso activismo político. Quase nunca no PCP, mas em organizações à sua esquerda, designadamente no futuro MES. A autora optou pela «acção directa» que caracterizou uma certa extrema-esquerda. Primeiro no LUAR, depois no PRP/BR, onde se encontrava no 25 de Abril. Nessa altura, porém, já «a laicidade tinha tomado definitivamente conta da minha existência»”

2 - Ou seja, a autora do livro viu as expectativas criadas pela Pacem in Terris goradas pela visita de Paulo VI a Fátima e pela publicação da Humanae Vitae. E, assim, viu-se forçada a abandonar a Igreja e a dedicar-se ao terrorismo. A culpa é da Igreja que não soube renovar-se. Tivesse a Igreja seguido a linha doutrinal proposta pelos progressistas, e a autora do livro não teria sido obrigada a dedicar-se à revolução.

3 - Mas este raciocínio é, no mínimo, estranho.

Eu estive a ler a Pacem in Terris, e nela só encontro apelos à paz, à concórdia e à participação construtiva dos católicos nas nossas sociedades modernas.

E o Papa João XXIII até adverte contra certos entusiasmos mais revolucionários e violentos:

”Não faltam almas dotadas de particular generosidade que, ao enfrentar situações pouco ou nada conformes com as exigências da justiça, se sentem arder no desejo de tudo renovar, deixando-se arrebatar por ímpeto tal, que até parecem propender para uma espécie de revolução.

Lembrem-se, porém, de que, por necessidade vital, tudo cresce gradualmente. Também nas instituições humanas nada se pode renovar, senão agindo de dentro, passo por passo. Já o nosso predecessor, de feliz memória, Pio XII o proclamava com estas palavras: "Não é na revolução que reside a salvação e a justiça, mas sim na evolução bem orientada. A violência só e sempre destrói, nada constrói; só excita paixões, nunca as aplaca; só acumula ódio e ruínas e não a fraternidade e a reconciliação. A revolução sempre precipitou homens e partidos na dura necessidade de terem que reconstruir lentamente, após dolorosos transes, por sobre os escombros da discórdia".”

As condições necessárias para garantir que a resistência armada à autoridade é moralmente legítima são de realização quase impossível (cf. n.º2243 do Catecismo). E o autor da Pacem in Terris parece concordar que os objectivos expressos na Encíclica não jusitificam a violência revolucionária.

Mais, a encíclica não menciona, nem nada promete em relação ao controlo dos nascimentos.

E muito menos a visita de Paulo VI terá contrariado a defesa da evolução gradual das sociedades defendida por João XXIII na Pacem in Terris.

As motivações destes ex-'católicos progressistas', revolucionários da extrema-esquerda não parecem ser aquelas que eles apresentam.

4 - Donde vem então este impulso destruidor e violento que pretende impor pela força determinados ideais, sacrificando a Fé e a pertença à Igreja a outros objectivos mais terrenos e moralmente ilegítimos?

Acima, fez-se referência ao facto dos 'católicos progressistas' pretenderem “ajudar a Igreja a renovar-se”. É no orgulho expresso nesta frase que está a chave para perceber o desastre que se seguiu. É o preconceito fatal de quem pensa saber melhor que a Igreja qual é a sua missão nesta terra.

Não somos nós que ajudamos a Igreja a renovar-se; é antes a Igreja que ajuda a nossa renovação à imagem de Cristo. É essa revolução que os progressistas deveriam ter procurado. Mudar o Mundo uma pessoa de cada vez, começando por nós próprios, e tendo Jesus por modelo e a Igreja por Mestra.

11.4.07

Errata - Assinaturas do Anexo 6

Infelizmente, há quase sempre erros que escapam às diferentes revisões e que se transformam em gralhas... Também elas existem neste livro, embora, segundo julgo, em número reduzido.

Mas há uma situação que me incomoda especialmente: na listagem das assinaturas do Anexo 6 (Carta ao presidente da República sobre encerramento da Pragma), pp. 202-204 , algo se passou na fotocomposição que fez com que muitos nomes estejam repetidos e desordenados e também (o que é mais grave) que faltem cerca de oitenta.

Por este motivo e com a concordância do editor, divulgo aqui a listagem correcta (entretanto também já publicada, em 23 e Março, por José Paheco Pereira em Estudos sobre o Cumunismo,

Abílio Ferreira Oliveira
Adérito Oliveira Sedas Nunes
Aires de Aguiar Busdorff
Alberto José Alves Nabinho
Alberto Nascimento Regueira
Alberto Pinto Magalhães
Alberto Queirós
Alberto Sousa Oliveira
Alberto Vaz da Silva
Alda Maria Taborda
Alexandre Vaz Pinto
Alfredo Logo Canana
Almerinda P.C. M. Teixeira
Álvaro Bebiano Costa e Moura
Álvaro de Mello e Sousa
Amílcar Soares Martins
Ana J.C.Fernandes de Oliveira
Ana Mª Bénard da Costa
Ana Mª Lowndes Marques
Ana Margarida Pinto Ravara
Aníbal de Mello N. Fernandes
António Alçada Baptista
António Antunes Leitão
António Carlos Franco Cosme
António Cerejeira de Sousa
António Correia Lopes
António do Carmo Galhordas
António E.Borges da Cunha
António Ernesto Duarte Silva
António F. B. de Sousa Gomes
António J. Baptista Dinis
António J. Conceição Valverde
António J.Lemos Alves Vieira
António J. Miranda Ferreira
António Machado Rodrigues
António Macieira Costa
António Pereira Jordão
António Pinto Carreira
António Rodrigues Correia
António Roque Antunes
Armando Trigo de Abreu
Arménio J. Marques Vicente
Asdrúbal Calisto
Aurora M. Cunha Murteira
Carlos A.Antunes Milharadas
Carlos A. Bento de Oliveira
Carlos A. Martins Portas
Carlos António Ferreira
Carlos dos Santos Duarte
Carlos Neves Ferreira
Carlos P.C.C. do Nascimento
Celeste S.A.S. Clara Gomes
Cesário Borga Martins
Cláudio R.Marques Teixeira
Daniel J.Branco Sampaio
Domingos Lopes Vicente
Duarte Nuno Gomes Simões
Eduardo Harris Cruz
Eduardo M.S.de Sousa Veloso
Eduardo Prado Coelho
Eduardo.C.L.Ferrão Completo
Elisa Mª Vilas Vicente
Emídio Santana
Eugénia Leal Pereira de Moura
Eugénio A. Marques da Mota
Fernando A.A.Trigo de Sousa
Fernando Carqueja Gonçalves
Fernando Moreira de Abreu
Fernando Pizarro de S.e Mello
Fernando X.Tavares da Mata
Filipe Mário Lopes
Francisco de Sousa Tavares
Francisco J.C.P.de Moura
Francisco Lino Neto
Francisco Manuel Braz Jorge
Francisco S. V. Sousa
Francisco Salgado Zenha
Gastão Cunha
Gonçalo Santos Monteiro
Graça Pita Bastos
Gracinda Grácio Alexandre
Helder Santos
Helena Cidade de Moura
Helena Gentil Vaz da Silva
Henrique J.M.de S. Montelobo
Henrique Jorge Sabino
Henrique Reynolds de Sousa
Henrique Santa Clara Gomes
Horácio José Condessa
Isabel C.D.Cardigos dos Reis
Isabel S. Henriques Belchior
Isilda Nunes Branquinho
Ismael de O. e Silva Santos
Jacinto Correia Raposo
Jaime Gama
João B. Bragança Fernandes
João Bénard da Costa
João D. Cardigos dos Reis
João da Silva Belo
João de O. Correia Rebelo
João G. Gomes Cravinho
João Gastão da Cruz
João J. Pinto da Cruz Malato
João Joaquim Gomes
João Mª de Braula Reis
João Manuel Navarro Hogan
João Martins Pereira
João Paes
João Paiva Raposo de Almeida
João Pedro Miller Guerra
João Raposo de Magalhães
João Reis Antunes
João Sacadura Botte
João Salgueiro
João Sanches Nabeiro
Joaquim A. P. Pires de Lima
Joaquim Alves Lavado
Joaquim B. Osório de Castro
Joaquim T. Antunes Barradas
Joel E. N. Hasse Ferreira
Joel Serrão
Jorge A.A.Trigo de Sousa
Jorge Manuel Rodrigues
Jorge Sá Borges
Jorge Sampaio
Jorge Santos
José A.Cordeiro Baptista
José A.das T.Antunes Barradas
José A.Vasconcelos de Paiva
José Antunes Ribeiro
José Bagulho França Martins
José C. L. Ferreira de Almeida
José Caldeira Monteiro
José Carlos Vasconcelos
José de Sousa Ramos
José Domingos M. de Morais
José Gabriel F.Pereira Bastos
José Jesus Nunes
José L.C.Santos Loureiro
José Luís d’Orey
José M.A.Guerreiro Bicó
José M.Castel-Branco Goulão
José M.Costa de Freitas
José M. D. Félix Ribeiro
José M.D.Pinto Correia
José M.Galvão Teles
José M.Geraldes Barba
José M.Ramos Lopes
José M. Rebelo Guinote
José Mª Torre do Valle Santos
José Mariano Pires Gago
José Oliveira Hipólito
José P.Pinto Leite (Olivaes)
José Paulo Brás Jorge
José Roquete
José Tengarrinha
José Vasconcelos Abreu
José Vera Jardim
Julião D.Quintanova Custódio
Júlio de Castro Caldas
Júlio Gonçalves Dias
Liliane S.Araújo Simões
Luís A.P.Correia Maltês
Luís Alves Nunes
Luís B.Teixeira
Luís F.N.Borges de Medeiros
Luís F.Salgado de Matos
Luís Filipe Lindley Cintra
Luís G.N. Silva Bagulho
Luís Glórias Ferreiras
Luís Gonçalves Matoso
Luís M.A.Gorjão Henriques
Luís Melo Breyner Pereira
Luís Miguel Bénard da Costa
Luís Miguel Valle Cintra
Mª Augusta Martins da Cruz
Mª Benedita P.B. Monteiro
Mª Cabral Correia Guedes
Mª Carlota Oliveira Reis
Mª da Conceição B. Coutinho
Mª da Conceição C. Belchior
Mª da Conceição C.F. Oliveira
Mª da Conceição V. Moita
Mª da Conceição V.P. Bastos
Mª da Graça Braz Teixeira
Mª da Graça P.C. de C. Serrão
Mª de Fátima F.R.P. Bastos
Mª de Jesus Afonsina Ribeiro
Mª de Lourdes B. F. Malato
Mª de Lourdes Belchior Pontes
Mª de Vasconcelos e Sousa
Mª do Carmo Galvão Teles
Mª do Carmo Santos Pacheco
Mª do Carmo T. D’Orey
Mª dos Prazeres F.Completo
Mª Eduarda A.S. Cruzeiro
Mª Elisa Salreta
Mª Elisabeth L.D. Manarte
Mª Emília de Matos Almeida
Mª Fernanda A. S. C. Esteves
Mª Franco Cosme
Mª Helena C. T. Hasse Ferreira
Mª Helena Fernandes Caetano
Mª Helena Lopes de Castro
Mª Idalina Neves de Sousa
Mª Inês P. Chagas Verde
Mª Joana B. Costa Veloso
Mª Joana de Menezes Lopes
Mª José C.Lemos Caeiro
Mª José Cabeçadas A. Ferreira
Mª Leonor Braga Abecassis
Mª Luís Salinas Monteiro
Mª Luísa B. Areosa Feio
Mª Luísa Carmo Inácio
Mª Luísa R. Soares Medeiros
Mª Manuel S.G. e Silva Santos
Mª Manuela Alexandre
Mª Manuela Braz Jorge
Mª Manuela Martins Portas
Mª Manuela Saraiva
Mª Margarida G. Pereira
Mª Margarida Moura
Mª Miranda Santos
Mª Natália Rebelo
Mª Natália Teotónio Pereira
Mª Teresa Abrantes Pereira
Mª Teresa P.Chagas Verde
Mª Velho da Costa
Manuel Antunes S.J.
Manuel C.Lopes Figueiredo
Manuel J.Bidarra de Almeida
Manuel M.A. da Costa Cabral
Manuel Mendes Gusmão
Manuel Tierno Bagulho
Manuel V. da Costa Belchior
Manuel V. Santos Moita
Manuel Vicente
Mariano R. Calado Mateus
Mário Castrim
Mário de Castro Pina Correia
Mário Ferreira Neves
Mário Luís da Silva Murteira
Mário Soares
Mário Sotomayor Cardia
Mário Ventura Henriques
Martinho Guerra Madaleno
Mercedes Martins
Miguel de B.Alves Caetano
Miguel de Oliveira Ascenção
Nadir Ramos Bico
Nelson de Matos
Nuno Brederode Santos
Nuno Castel-Branco
Nuno de Bragança
Nuno Pereira da Silva Miguel
Nuno Portas
Nuno Teotónio Pereira
Ofélia do N.Romão dos Santos
Pedro Cardoso d’Orey
Pedro Soares Onofre
Pedro Tamen
Raul da Silva Pereira
Raul Rego
Ricardo Baptista da Cruz
Rogério Fernandes
Romano Santa Clara Gomes
Rómulo Ramos Esteves
Rui Augusto da Silva Neves
Rui Edgar dos Santos Silva
Rui Grácio
Rui Júdice Gamito
Sebastião José de Carvalho
Simone M.da Silva Araújo
Sophia de Mello Breyner A.
Teresa F.S.Abrantes Saraiva
Vasco Lobo Soares
Vasco Pulido Valente
Vitor S.da Costa Vitorino
Vitor Wengorovius
Vitorino Magalhães Godinho