6.4.08

Vidas privadas, escândalo público























O bispo de Ciudad Real obrigou uma organização católica a expulsar uma das suas associadas por esta se ter casado com uma pessoa do mesmo sexo – mais concretamente, uma mulher de 54 anos, que decidiu formalizar uma relação que mantinha com uma outra mulher, há mais de dezassete anos.

«Escândalo público», disse o bispo. Ou saía a associada ou era dissolvida a associação (na qual a pessoa em questão foi eleita vice-presidente, já depois de casada).

Escândalo «público»? Tanto quanto percebo, as duas cidadãs limitaram-se a ser protagonistas de um acto normal à luz da legislação em vigor no país.

Quando muito, escândalo «privado» na diocese do dito bispo – que, provavelmente, terá fechado «bondosamente» os olhos enquanto as pessoas em questão não decidiram exercer o direito de publicitar as suas vidas privadas.

Em Espanha, na Europa, em pleno século XXI.
Porquê? Quem ganha o quê?

Fonte

2 comments:

Anónimo disse...

Chamou-me a atenção para o 'entre as brumas da memória' uma conversa com a Shiz e a Ana Sosua Dias onde gostei de a ouvir.
Chamou-me a atenção a vocação da Joana para os temas da cristandade e dos apostólicos romanos; chamou-me a atenção a voz jovial dos seus setenta anos - quanto trabalho deve dar poder dizer ao fim de sete décadas 'je ne regrette rien' ( post de sábado passado). Trata-se seguramente de saber escolher e saber escolher resulta, seguramente, de muita canseira, muita frontalidade e muita noite mal dormida.

Sobre 'vidas privadas e escândalo público' - "do dito bispo - que, provavelmente, terá fechado «bondosamente» os olhos enquanto as pessoas em questão não decidiram exercer o direito de publicitar as suas vidas privadas."- Como cristã, compreendo que a hierarquia, em defesa da família tradicional, em defesa do ninho da sua própria sobrevivência, não aceite ou mesmo condene a homossexualidade ( como é que esta condenação e 'apartheid' se encaixam na Palavra de Cristo já é outro assunto, penso eu).
Mas é esta hipocrisia a que a Joana alude, uma hipocrisia que atravessa séculos - onde conta mais o que se parece do que aquilo que em consciência se é - que não faz sentido à luz do século XXI. Em Espanha ou em qualquer lugar. E julgo que esta hipocrisia, num Mundo mais informado como o de hoje, está a retirar à Igreja, paulatinamente, a legitimidade ( e autoridade), desmobilizando os crentes na obediência.

Joana Lopes disse...

Cara Alexandra,

Muitíssimo obrigada pelo seu comentário.

Respondendo em sequência:
1-VOU ter, ainda não tenho 70 (isto é a brincar, claro). Acredite que não me deu muito trabalho chegar até aqui e dizer "je ne regrette rien". Basta ir-se vivendo o melhor que se sabe. Fala de FRONTALIDADE e isso é importante - é algo que me tem ajudado e a que nunca tenciono renunciar.

2- Como compreendo, vindo de uma cristã, o que diz na segunda parte! E acredite que não só respeito muito como aprecio a sua honestidade intelectual. Não é fácil nem, infelizmente, muito comum que apareçam por aqui pessoas a exprimi-la tão claramente.

Volte sempre que quiser.
Um abraço