5.5.08

O PS e o cónego Melo



















Víctor Louro, ex-deputado do PCP, filho de Víctor de Sá, que saiu daquele partido no fim dos anos 80, integrado no chamado «Grupo dos Seis», escreveu esta carta ao Grupo Parlamentar do PS. Raimundo Narciso divulgou-a:

«Permitam lembrar Becket: “de cedência em cedência (antes, era só um operário; depois, apenas um padre; depois, era ainda só um comunista...) acabam por nos cortar a cabeça...a nós próprios, que não éramos nada disso!"

Tenho o dever cívico de vos manifestar profunda indignação pela atitude do PS, na 6ª feira, na Assembleia da República, a propósito do voto de pesar ao cónego Melo. Mesmo que ela tenha ocorrido após a vergonha da homenagem do seu Presidente ao Dr. A. J. Jardim: temos o direito - e o dever - de não nos habituarmos! É que Melo agiu, em 1974/75, activamente e por meios terroristas contra a democracia que dava os primeiros passos: os comunistas eram as primeiras vítimas, mas o objectivo era a própria Democracia. Por isso é que é intolerável que na hora da provocação, o PS encontre um qualquer alibi para não se pôr do outro lado da barreira.

A vossa abstenção é uma traição à Democracia! Digo-vo-lo com a responsabilidade de vos ter precedido na representação popular no Parlamento. E de ser filho de um Homem que também vos precedeu, Victor de Sá, como outros perseguido durante a luta contra o fascismo, que se viu obrigado a fugir de casa, em Braga, nesse "verão quente" para não ser abatido pela camarilha do cónego que deixastes que o Parlamento homenageasse como um democrata.

É pelo respeito que os nossos mortos nos devem merecer, aqueles que lutaram para que Portugal vivesse em liberdade, que vos manifesto a repulsa democrática por essa indignidade que alguns de vós personificastes.

Não vos queixeis do divórcio do Povo! Esta vossa atitude teve ainda a ironia de ocorrer quando se invocam os 40 anos do Maio 68: alguns de vós estavam, como eu, do lado dos que se revoltaram contra o stato quo do poder estabelecido. E agora, que sois Poder?»


P.S. - Já tinha abordado este assunto aqui.

2 comments:

Anónimo disse...

E, para além destas palavras que li, as chamas do 'inferno' da sua imagem são muito apropriadas ao caso!

Joana Lopes disse...

Pois: inferno foi, de facto, a primeira ideia que me veio à cabeça.