29.6.08

Esta justiça que (não) temos

Nuno Brederode Santos, no DN:

«Os deuses decidem o destino dos homens pela mediação de um juiz de Direito. Com as magras (mas tremendas) excepções da fisiologia do cósmico e da má têmpera das grandes massas humanas (o clima, as catástrofes naturais, as invasões, os genocídios), a alta gestão das nossas vidas jaz – transida, frágil e ansiosa – no regaço negro de uma beca. (...)

Só isso explica termos chegado ao ponto de, perante uma agressão (nem percebi se consumada, mas não importa) aos julgadores, cometida por dois condenados na própria sala de audiências (improvisada, ao que parece), a reacção dos juízes de Santa Maria da Feira ser a de deixarem de julgar. Cavaco não pode deixar de promulgar enquanto não lhe concertarem o ar condicionado. O Governo não deixa de reunir porque há uma Hi-Ace a vender T- -shirts na Gomes Teixeira. E o cidadão não deixa de pagar os seus impostos porque um vizinho o agrediu impunemente. O que há de tão especial em Santa Maria da Feira?»

Em Santa Maria da Feira ou num qualquer outro sítio, só há de especial a nossa passividade. Nunca haverá milhares nas ruas a gritarem contra estes senhores, porque eles também são «trabalhadores». E, talvez, porque não é evidente que mexam nos bolsos dos portugueses. Mas mexem – e de que maneira.

1 comments:

Anónimo disse...

... e julgam segundo critérios de justiça, no mínimo questionáveis.

Subscrevo as reservas de Kafka (que era jurista) e de Espinosa (in Elogio da Loucura)relativamente a tal gente. Não me suscitam grande respeito.

nelson anjos