5.10.08

«A religião é o ópio do cérebro»

Leio no JN que «um grupo internacional de investigadores, em que participou um psicólogo português, comprovou que os crentes suportam mais a dor do que os não crentes». Sem qualquer espécie de ironia, parece-me perfeitamente plausível, já que são para tal naturalmente educados e têm no horizonte perspectivas e promessas que os incréus desconhecem.

Mas há uma outra afirmação que me enche a alma de esperança: «Neste momento estamos a comparar Fátima e Lourdes». É que temos mesmo grandes hipóteses de vencer este campeonato, porque não há local onde o sofrimento mais ordene do que a Cova da Iria! O povo ficará então mais sereno, a senhora da Lapa virará, definitivamente, Senhora das Dores, Sócrates dará um Magalhães a cada peregrino e Cavaco sentir-se-á mais enlevado do que quando vê um robot a ordenhar vacas.

4 comments:

maria disse...

nem mais! :)

também adorei o presidente e a ordenha das vacas. temos um novo cómico.

maria disse...

não disse o principal:

a falta de credibilidade para tais estudos científicos.

E como essas coisas são tão perversas...a propósito, vou fazer um post sobre isso. ;)

Raimundo Narciso disse...

Essa da ordenha do presidente deixou-me estarrecido. Não o julgava capaz de tanto.

Anónimo disse...

Que direito uma pessoa tem de rezar para outra se recuperar não tendo esta pedido preces ou ate sendo ateia ou de outra religião.

Há um estudo também sobre a eficácia das preces e o resultado não é dos mais animadores para os crentes, ao contrario da paciência em suportar a dor segundo este estudo. Mas a paciência é uma virtude cristã.

O físico Russell Stannard um dos três cientistas religiosos mais conhecidos da Grã-Bretanha, deu seu apoio a uma iniciativa, financiada pela Fundação Templeton.

Os pacientes foram divididos, de forma estritamente aleatória, em um grupo experimental (que recebeu preces) e um grupo de controle (que não recebeu preces). Nem os pacientes, nem os médicos ou enfermeiros, nem os autores do experimento podiam saber quais pacientes estavam recebendo orações e quais eram do grupo controle. Aqueles que faziam as preces experimentais tinham de saber o nome dos indivíduos por quem estavam rezando, de contrário, não se saberia se estavam rezando por eles, e não por outras pessoas. Mas tomou-se o cuidado de contar aos que faziam as preces apenas o primeiro nome da pessoa e a primeira letra do sobrenome. Aparentemente, isso seria suficiente para fazer com que Deus escolhesse o leito certo no hospital. A simples idéia de realizar tais experiências está aberta a uma boa dose de ridículo, e este projeto não ficou imune a isto.

A equipa de pesquisadores foi em frente, gastando 2,4 milhões de dólares da Templeton sob a liderança do dr. Herbert Benson, cardiologista do Mind/Body Medicai Institute, que fica perto de Boston. O dr. Benson havia sido citado antes, num material de divulgação da Templeton, como alguém que “acredita que estão se acumulando as evidências da eficácia das preces intercessórias no cenário médico”. O que garantia, portanto, que a pesquisa estava em boas mãos e que não seria sabotada por vibrações cépticas. O dr. Benson e sua equipe monitoraram 1802 pacientes em seis hospitais; todos haviam sido submetidos a cirurgias de ponta de safena e/ou mamaria. Os pacientes foram divididos em três grupos.

O grupo l recebeu preces, mas não sabia disso. O grupo 2 o grupo controle, não recebeu preces e não sabia disso. O grupo 3 recebeu preces e sabia que estava recebendo. A comparação entre os grupos l e 2 testa a eficácia das preces intercessórias. O grupo 3 testa os possíveis efeitos psicossomáticos de saber que se está sendo alvo de preces.

As preces foram feitas pelas congregações de três igrejas, uma em Minnesota, uma em Massachusetts e uma no Missouri, todas distantes dos três hospitais. Os autores das preces, como já foi explicado, receberam apenas o primeiro nome e a primeira letra do sobrenome de cada paciente por quem deveriam rezar. Faz parte da boa prática experimental padronizar as coisas ao máximo, e a todos eles foi dito, portanto, que incluíssem em suas orações a frase “por uma cirurgia bem-sucedida com uma recuperação rápida, saudável e sem complicações”.

Os resultados, publicados no American Heart Journal de abril de 2006, foram bem definidos. Não houve diferença entre os pacientes que foram alvo de preces e os que não foram. Houve diferença entre aqueles que sabiam que estavam recebendo preces e aqueles que não sabiam se estavam ou não estavam; mas ela foi para a direção errada. Aqueles que sabiam ser beneficiários de preces sofreram um número significativamente maior de complicações do que aqueles que não sabiam. Parece mais provável que os pacientes que sabiam que estavam sendo alvo de preces tenham sofrido um stresse adicional em conseqüência disso: “ansiedade de desempenho”, nas palavras dos autores da experiência. O dr. Charles Bethea, um dos pesquisadores, disse: “Isso pode tê-los deixado inseguros e perguntando-se: Será que estou tão doente que eles tiveram de convocar a equipe de oração?”

O teólogo Richard Swinburne, de Oxford, escrevendo depois do fracasso do estudo, fez objecções a ele afirmando que Deus só atende a preces feitas com bons motivos.