30.11.08

Assim se vê

















«Eu quero ser bom, mas não de todo o meu coração», terá dito algures uma criança, hoje citada por Manuel António Pina no Notícias Magazine.

Guardei a frase, porque preservo, e cada vez cultivarei mais em mim, uma certa parcela de maldade:

- Contra todos os fundamentalismos ideológicos.
- Contra os que, em nome de um passado honroso, se consideram, sobranceira e autistamente, detentores de certezas únicas e absolutas.
- Contra todos os conservadores, aqueles cuja principal função na vida é manter e defender teorias e práticas inabaladas e inabaláveis. Sejam eles de esquerda ou de direita, não são mais do que agentes que tentam travar a história.

Este blogue (tal como mais uns seis ou sete) resolveu levar para a brincadeira um acontecimento que é difícil abordar a sério com pouca maldade – e eu não disponho de tanta assim. Estou a falar, evidentemente, do congresso do PC. Fui bastante atacada por «brincar» e passo portanto agora para outro plano.

Tudo quanto dissesse seria pouco para explicar as reacções que fui tendo às muitas imagens que vi e aos vários discursos que ouvi durante estes dois dias, porque incarnam precisamente tudo aquilo que rejeito, tendo-me declarado profundamente «contra».

A «força» deste PC apenas me provoca uma profunda tristeza, porque é pouco mais do que o fruto do atraso do meu país. Da crise actual também, explorada à saciedade, contra tudo e contra todos. Sempre em nome de ontens que jamais cantarão.

7 comments:

Anónimo disse...

Cegueira ou inveja? Vai dar ao mesmo! Viva Abril, VIVA O PCP!!!

Anónimo disse...

Não foi o capitalismo que matou o comunismo.
Todos conhecem os algozes do comunismo.
E enquanto esses algozes não forem expurgados da memória jamais vamos lá.

Anónimo disse...

Noutros tempos, quando todos tremíamos com aquela política que nos conduzia ao MAD, havia um desfile militar pelo aniversário da Revolução de Outubro, com aqueles dignitários todos alinhados na tribuna, com imensa tropa de marcha marcial e com enormes mísseis montados em camiões. Aquilo assustava. E daquele lado, o da URSS e aliados, como do outro, guardava mais o “medo a vinha que não o guardador”. Pois, e isto é ainda o lastro de antigas leituras que eu sempre tentei que não fossem pechisbeque, havia um corpo de soldados, pertencente a um quartel nos arredores de Moscovo, que desfilava com aprumo prussiano, de forma tão enérgica e marcial, que se destacava no desfile militar e acentuava aquele efeito de intimidação. Só que esse quartel tinha um mínimo de operacionalidade e o seu trabalho era mesmo aquele. Preparavam-se para marchar da forma mais impressionante. Era para espectáculo.
Todos nos lembramos dos grandes aparatos nos eventos, comemorações, reuniões, etc. dos tempos passados. E presentes. E não só para os lados dos antigos países “socialistas”, como em qualquer circunstância onde seja preciso ou conveniente glorificar, quase diria divinizar, qualquer poder, qualquer instituição ou qualquer figura. Mesmo que seja meramente simbólica, como, por exemplo, a rainha de Inglaterra.
Pois o Congresso do PCP, na imagem que nos oferece, lembra um tanto um cerimonial deste tipo. Eu esqueço aqui o conteúdo das teses e das resoluções e da constituição dos orgãos dirigentes. Lembro, apenas, aquele cenário, enorme espaço, as mesas corridas, para que se pudesse “trabalhar”, bonitas no seu vermelho, as bancadas laterais cheias de assistentes, uma espécie de ritual, a mesa, a ida dos oradores, a Odete Santos, etc. Impressiona, exalta a imaginação, é oferecido um grande acontecimento. Que o vejam, que o sintam, que o saibam. E assim se vê a força do PC.
Pois que se faça o espectáculo e se crie esse acontecimento. Histórico, se não o for já não tardará que o seja, como o foram sempre todos os congressos do nosso Partido e de muitos, se não de todos, os Partidos Comunistas do mundo. Já se está habituado. Aqui e em todo o lado onde subsistem.
O Congresso é quase uma insignificância. O que conta são outras coisas. O Partido como expressão do nosso atraso. O Partido, com o seu dogmatismo estalinista, apenas matizado, e uma certa especificidade de Partido antifascista que fixa descontentamentos. Descontentamentos que, noutras circunstâncias, podiam conduzir a resultados de renovação. Serem uma força "constituante" (Negri). Assim, são atirados para contestações sem futuro. Para que o partido se construa e reconstrua como Partido. O Partido que ocupa o terreno das lutas necessárias, para as desenvolver, encaminhar em formas que, nos nossos tempos, são como chover no molhado. E defende agressivamente esse terreno. O Partido que não é dos nossos tempos e é mais uma força que nos prende ao nosso atraso. O que se passa no mundo é, por ele, filtrado pelo que se passou. Não há pensamento, há fórmulas. E paro aqui.

Joana Lopes disse...

Maria José: nem cegueira, nem inveja. Pena e uma certa revolta.

Joana Lopes disse...

Anónimo:

Se quiser ser um pouco mais claro...

Joana Lopes disse...

José de Sousa,
Excelente comentário que merecia ser «post» (não estará na altura de criares um blogue?!!).
Frisas um aspecto muito importante e pouco sublinhado - o do CENÁRIO - que nos fez estar a «ver» hoje, aqui e agora a URSS do passado, a China do passado e do presente, a Coreia, etc., etc.
Dizes, a propósito do antigamente que «aquilo assustava». Pois ontem houve mais de uma pessoa que me falou de «medo» a propósito das imagens do Congresso. Certamente não de uma eventual tomada do poder pelo PC, mas precisamente pelo simbolismo do cenário, pelos punhos cerrados e os gritos de «PCP», durante minutos, aplaudindo discursos fundamentalistas, sobranceiros e conservadores (os três «contras» que enunciei no meu «post»).
Enfim: «já passou», como é hábito dizer-se às crianças quando se magoam.

septuagenário disse...

Quem matou o comunismo foram precisamente os grandes comunistas : a começar por Lenine passando por Fiel e passando por todos os actuais comunistas.

Ou se ja, para um dia concretizar um qualquer "sonho socialista" tem que se inventar um outro nome, e a humanidade tem que tirar da memória a imagem de todas as figuras "quadradas" e previsíveis de todo o imaginário comunista.