11.1.09

Venceu a Esmeralda











Por pura e indesculpável preguiça, há meses que adio ser cívica, pedagógica, sentimentalmente (e muitos outros «mente») incorrecta sobre um drama com dezenas de tristes folhetins. Até ler o que o Pedro Correia hoje escreveu sobre este «festival de barbaridades».

Todos conhecemos a história: Esmeralda tem sete anos, a sua saga dura desde os três meses, pelo meio houve toda uma trama que começou e continuou com ilegalidades por parte dos chamados «pais afectivos», milhares de almas piedosas associaram-se, e associam-se, em protestos que roçam por vezes o simples grotesco. Os jornalistas agradecem.

Dir-se-ia que os que tanto se agitam em nome da felicidade da Esmeralda não querem entender que as crianças não são parvas e que acabam sempre por vir a saber – e a preferir – a verdade. Verdade neste caso sempre adiada em nome de mentiras passadas que se transformaram em factos consumados e respeitáveis e que, essas sim, provocaram já certamente graves traumatismos. Chantagens que vão até ao ponto de se falar agora em risco de suicídio.

Admito que esta minha posição é fortemente condicionada pelo facto de ter vivido de muito perto uma situação semelhante, se não exactamente quanto à forma claramente quanto ao fundo. História que teve um final feliz quando a criança, pouco mais velha do que a Esmeralda, conheceu finalmente o pai biológico e com ele estabeleceu, imediatamente e para o resto da vida, a mais excelente das relações.

Não acontecerá sempre? Talvez, mas há pelo menos que tentar e tudo fazer para que aconteça neste caso.

13 comments:

Anónimo disse...

Absolutamente de acordo, Joana. Sublinho esta sua frase: "Dir-se-ia que os que tanto se agitam em nome da felicidade da Esmeralda não querem entender que as crianças não são parvas e que acabam sempre por vir a saber – e a preferir – a verdade."
P. C.

F. Penim Redondo disse...

O que os pais (de todos os tipos) e os jornalistas e os comentadores parecem não entender é que se falou, e fala, demais sobre o assunto.

Para o bem da criança gostaria que todos se tivessem calado há muito tempo e a deixassem viver sossegada o seu drama.

Ana Cristina Leonardo disse...

Muito bem, Joana. E alguém devia processar os Tribunais por esta demora. É inacreditável que se tenha levado estes anos todos a adiar uma decisão que, dado dizer respeito a uma criança, devia ter sido célere. E o "politicamente correcto" dos pais biológicos, adoptivos e agora "afectivos" teve muito que ver com a história. Quem andou por aí a vender o tropa, devia pintar a cara de vergonha. Quanto às formulações sobre o "risco de suicídio" deviam pensar antes de falar. Porque mesmo que isso fosse verdade não é coisa que se venha dizer para as TVs ou para os jornais.
Finalmente, quando diz

Admito que esta minha posição é fortemente condicionada pelo facto de ter vivido de muito perto uma situação semelhante

na minha opinião, isso só lhe dá mais direito à sua opinião. Ao menos, tem alguns dados sobre o assunto

quanto a mim, só espero que daqui a uns anos não andem à procura da Esmeralda perdida.

Joana Lopes disse...

Obrigada aos três pelos comentários, estava à espera de ser «bombardeada» por opinões contrárias, claramente em maioria, julgo eu...

Anónimo disse...

Pois, Joana, tens aqui uma opinião neutra. Ou melhor, uma não opinião.
Eu “sei” sobre o caso Esmeralda aquilo que, de todo, não consigo deixar de ouvir e ver na comunicação social. Faço habitualmente o discurso do nojo que a comunicação social é porque é essa uma convicção que tenho. Com desgosto. E também aqui, como não podia deixar de ser, fez uma boa sujeira. E exuberantemente.
Como tenho a lágrima fácil sobretudo quando se trata de crianças e do amor dos paisinhos, sem informações correctas, eu inclinava-me para os lados dos “pais afectivos”. Agora, abstenho-me de me inclinar para que lado seja. E abstenho-me. Foi o teu ganho.
Curiosamente, eu tenho perto de mim uma pessoa que só conheceu o pai biológico aos 20 anos e rejeitou-o violentamente. Depois, lá fizeram as pazes, o choque e a perturbação foram dum lado e doutro, do lado da filha que não aceitava “aquela coisa” e do lado do pai que viveu um sério desgosto por, também, não ser aceite. O pai ainda teve o gosto de ter uma neta e pouco depois morreu, novo, com toda a família à cabeceira, incluindo, claro, a filha biológica

Anónimo disse...

Pois é Joana mas continuam a não ter um pingo de vergonha.É a primeira vez que me apercebo que nem a Ordem dos Médicos atraves dos responsáveis pela pedopsiquiatria,torna público um comentário a criticar uma decisão judicial de um processo que já passou pelas mãos de mais de uma dúzia de juízes,mas não será que os médicos tem o dever do sigilo profissional?.Todos os relatórios pedidos aos pedopsiquiatras de Coimbra bem como de Santarem pelo Tribunal,só ao Tribunal deviam ser enviados e nunca á comunicação social.Que confiança pode um cidadão ter em médicos deste calibre,que expoem a vida das pessoas que consultam nas páginas dos jornais?Como é que podemos confiar em instituições que se dedicam aos problemas das crianças,quando vimos Villas Boas e Manuela Eanes ao lado do tropa já depois dele ter sido condenado desde o tribunal de 1ªinstancia até ao Supremo pela subtracção da menina Esmeralda.Que noção de Estado de Direito tem estas pessoas para virem julgar os juízes nos estúdios de televisão.Realmente a qualidade da nossa democracia está a ser prejudicada cada vez mais.

Joana Lopes disse...

O problema poderá ter sido, precisamente, esperar 20 anos! Nessa altura, eram dois adultos estranhos um ao outro. Mas claro que não casos iguais, chapa 5...

Anónimo disse...

Reconheço, Joana, que o caso é inteiramente diferente e que não o devia ter referido.
O que interessa aqui é o caso de Esmeralda com os seus seis ou sete anos.

Joana Lopes disse...

Patrícia,

É o sentimentalismo bacoco, alimentado pela comunicação social porque dá audiências.

Anónimo disse...

Eu também concordo consigo.
Quando li este post logo pensei, é desta que a caixa de comentários vai aquecer...
E então não é que não!
Será que todos os seus leitores são "biased" para a sensatez...

Obrigado, Joana Lopes

José Viegas

Joana Lopes disse...

Pois, José Viegas, o meu espanto é grande, mas tenho encontrado aí pela blogosfera várias opiniões semelhantes à minha. Estarão «os outros» tão certos das suas razões que nem as discutem? Mistério...

Isabel disse...

Joana, só hoje vi este post e só posso dizer aleluia!

Joana Lopes disse...

Obrigada,. Isabel. É sempre um prazer tê-la por aqui.
Deixo poucos rastos nas C. de C. mas vejo sempre o seu blogue.