20.2.09

Com dedicatória para uma juíza de Torres Vedras





















Sempre ouvi falar desta portaria mas nunca a tinha visto (leiam até ao fim).

Hoje vale pela anedota, mas há sempre uns puritanos à espreita ao virar de uma qualquer esquina. Cuidado com eles porque são certamente os mesmos que fizeram ontem campanha contra o aborto, estão hoje contra o casamento de homossexuais e lutarão amanhã contra a eutanásia. Mesmo que não pareça, com algumas nuances, está tudo ligado. Ou estarei enganada?


(A imagem foi roubada ao casoual.)

15 comments:

F. Penim Redondo disse...

A anedota é muito gira.

Quanto ao resto acho que estás a entrar numa espiral de exageros muito procupante.

Joana Lopes disse...

Tu sabes que preocupar-te é um dos meus prazeres favoritos, Fernando...

Anónimo disse...

Isso também eu pensava, - que "aquilo naquilo" me faria incorrer apenas no risco de uma multa de 50$00 escudos.

Engano o meu. Fui obrigado a casar e ainda hoje continuo a pagar a multa.

nelson anjos

Joana Lopes disse...

Eh! Eh! Excelente, Nelson. É a vida!

Anónimo disse...

"Cuidado com eles porque são certamente os mesmos que fizeram ontem campanha contra o aborto, estão hoje contra o casamento de homossexuais e lutarão amanhã contra a eutanásia. Mesmo que não pareça, com algumas nuances, está tudo ligado. Ou estarei enganada?"

Está enganada. Sou contra o aborto e a favor do casamento de homossexuais e da eutanásia. Porque é que tem de se misturar tudo? E como eu, há muitos. Nem todos têm essa visão maniqueísta da vida.

Anónimo disse...

Pois é, Nelson Anjos, a Joana diz que é a vida. E é!
Esse foi um dos seus “dias de graça”. Arriscou e, pela certa, fez bem. Porque “nada está definitivamente ganho”, o que neste caso, quereria dizer “perdido”. Tão pouco definitivamente está, que continua pagando a sua dívida. Um enérgico “passou bem” aos dois.
Acho que vou fazer uma transgressão, falando fora do blogue em que o deveria fazer, mas lá vai: para além do seu bom gozo com a tal multa, humor que apreciei, vou referir-me a um comentário em Caminhos da Memória. Gostei francamente da atitude de dúvida que tem em relação a si mesmo e desse olho inquiridor e prudente com que aprecia o que pensa e escreve.
Joana, com toda a minha possível e provável ingenuidade, aquela portaria existiu mesmo?

Joana Lopes disse...

Não é maniqueismo, Ana.
Repare que eu escrevi «com algumas nuances» - será o seu caso e de outros.
Mas, por exemplo, recusa de aborto e de eutanásia são normalmente defendidos por quem põe a «vida» acima de tudo, por exemplo a Igreja. Posição que se estende, frequentemente, a condicionar o casamento pela procriação.

Joana Lopes disse...

José de Sousa,
Eu não garanto, claro, que a portaria tenha existido. Mas há décadas que ouvi falar dela, sem nunca a ler lido até hoje.

F. Penim Redondo disse...

Mais um exemplo eu:

- sou a favor do aborto
- sou contra o "casamento gay" (não faz bem nem faz mal mas eu detesto as coisas a "fingir que")
- aceito mais fácilmente a adopção por casais homossexuais do que o casamento.
- sou a favor da eutanásia

por isso concordo com a Ana. Não comecemos a misturar tudo.
A anedota de onde tudo isto partiu faz parte do passado e, mais uma vez, não tem necessáriamente a ver com o aborto, o casamento ou a eutanásia.

Como já disse não sei onde esta moda de chamar homófobo a torto e a direito faz-me lembrar as infantilidades do PREC em que se chamava facho à mais pequena reticência.

Pensava que já tínhamos crescido.

Anónimo disse...

Joana Lopes
Com esta história da portaria tenho uma sensação de ridículo. Ridículo da minha parte. Aquilo é falso, a linguagem é anedótica, e bem anedótica, sem as convenientes expressões tecno-jurídicas.
E depois há o caso das mãos dadas. Naquela altura, via-se muita gente na rua de braço dado. Algo que parece ter caído em desuso.
É um facto que a mentalidade da época era empeçonhada. Eu, por exemplo, ia ao cinema com uma amiga e acontecia, por vezes, que ela me pagava o bilhete. Ora, ela passava-me discretamente o dinheiro para a mão e era eu, o homem, que ia ao guichet. Essa minha amiga era vistosa e ambos sabíamos o que pensariam em redor, se fosse ela a comprar directamente os bilhetes de ambos.

Anónimo disse...

ai é? agora nao se pode ser contra o aborto e a favor da eutanasia e a favor dos casamentos homossexuais?
ou ao contrario?
as pessoas nao sao panfletos!!! as pessoas pensam e decidem de acordo com a sua consciencia e um dos grandes males tem sido essa atitude de achar que ha os bons e os maus... que a liberdade aconteça na cabeça das pessoas que o pais precisa disso.
estas agressoes, como "cuidado com eles"(os maus, os outros, uns malucos?) nao trazem nada de bom para o mundo!
passe bem
francisco graça moura

Anónimo disse...

Eu lembro-me de ver isto ainda no tempo da outra senhora, de ter mesmo a «mão na coisa», isto é, naquele papel dactilografado (um rapaz conhecido andava com aquilo na carteira, muito dobradinho, e mostrava-o à socapa). Na época pareceu-me logo tão idiota que não poderia ser verdadeiro. Mas às tantas...

Helena Araújo disse...

Joana,
Haverá com certeza pessoas que são contra tudo: desde beijos na boca mesmo entre casados (por causa dos micróbios), passando pelas manifestações de ternura em público, até ao aborto, ao CPMS e à eutanásia.
Mas é uma simplificação grosseira, e contra as regras de um bom debate, meter desta forma maniqueísta toda a gente no mesmo saco.

Se eu disser o que penso sobre a Eutanásia, gostava que me respondessem aos meus argumentos, em vez de mandarem a bola para canto sugerindo que eu, às tantas, também acho bem que se pague 50$00 por ser apanhado em flagrante de ter aquilo naquilo.

Por outro lado, essa gente existe, e é uma minoria. Como é que numa sociedade plural se debate com as minorias, heinhe?
Sim, eu sei: eles querem impor-nos as suas convicções.
E nós a eles: obrigamo-los a pagar impostos para sustentar as escolas públicas (quando eles preferem escolas privadas ou home-teaching), ou o SNS onde agora se fazem abortos (com os quais eles não concordam), etc.

Cuidado com o modo como se fala desses "puritanos" - não se vá dar o caso de sermos iguais a eles, quando falam desses "pervertidos"...

Joana Lopes disse...

Tréguas!
Vamos lá ver se nos entendemos: toda a gente tem direito a tudo, mesmo a ser puritano. Em democracia, há meios para maiorias e minorias se exprimirem a favor ou contre as tais «causas fracturantes»: houve referendo no caso do aborto, poderá ou não haver reconhecimento de casamento de homossexuais, decidido por um governo eleito democraticamente - quem não concorda, que o «castigue» nas urnas.

E eu também tenho o direito de pensar que, DE UM MODO GERAL, coincidem as populações que recusam aborto, o dito casamento entre homossexuais e a eutanásia, esteja ou não enganada.

Helena Araújo disse...

Tem todo o direito, sim senhora!
E ainda por cima, às tantas está em maioria!
Estou tramada...
;-)


Aquela história dos beijos na boca aconteceu-me este verão: uma criança que me estava confiada, e me viu a beijar o meu marido, disse "ai que nojo! tantos micróbios!"
Como é que nós deveríamos ter respondido? (Eu tenho a minha verdade, mas não a posso impor a outros pais. Do mesmo modo que eles não acharão bem que eu tenha levado os meus filhos a ver uma gay parade.)
Mais uma dúvida existencial para eu ir resolvendo...

Bom sábado para si, Joana!