25.3.09

Há um que quer ser «desbaptizado»

Há muito desiludido com o Vaticano, um francês diz que ia tendo um desastre de automóvel quando ouviu as últimas afirmações do papa sobre o uso de preservativos e pretende fazer tudo o que for necessário para se «desbaptizar».
Aí está uma ideia no mínimo original, mas parece que a situação não está prevista e que, quando muito, conseguirá um averbamento no registo baptismal.

«À quoi bon?» - perguntar-lhe-ia se o conhecesse.

8 comments:

Woman Once a Bird disse...

Ah, pois, que isto das desvinculações são unilaterais.

Joana Lopes disse...

Exactamente, estive para pôr isso: há excomunhão, mas não «desbaptização».

Anónimo disse...

Joana, podes perguntar-mo, a mim.
Eu, aí pela adolescência tardia, tive uma serie de doenças graves. Que, por duas vezes, podiam ter roubado ao mundo terreno o muito ilustre personagem que sou. Pairava, sobre mim, aquela provável meningite tuberculosa que, advinda, prestimosamente, me empurraria para a cova. Esse não era um programa de vida.
Ora, talvez que tais males, que aquele possível tropeção para o túmulo, pudessem acontecer por não ter sido baptizado. E isso preocupava a minha tia/madrasta (minha mãe para todos os efeitos). Talvez que, em vez de tantos remédios e convalescências em bons ares, precisasse apenas de um pouco de água benta.
Desde pequenino, que eu era ateu, anticlerical, como só se era naquele tempo e naquela idade, sempre pronto a dizer gracinhas sobre padres, e, na companhia do meu irmão, quando para aí nos dava, desafiando o Altíssimo, qual Rolando (por modéstia, esqueço o Antero), para que provasse a sua existência. De forma clara, clarinha, sem batotas nem demoras. E, sobranceiros, até lhe indicávamos a forma de o fazer. O prédio que nos caísse em cima e mais assim umas calamidades destas. Enfim, Deus, para provar a sua existência, teria de fazer alguns estragos e, possivelmente, sem que houvesse seguro que os cobrisse.
Eu passava as minhas convalescências ( e depois os verões) em Vila Nogueira de Azeitão, onde havia um velho padre que, pelos serões, batia cartas num grupo, com uma espécie de tio, farmacêutico, talvez fundador daquela linhagem dos Romanos Baptistas, com o médico da terra, um homem que distribuía fartamente infecções quando dava as suas injecções intramusculares, e com o meu pai. Isso na própria farmácia.
Esse padre chamava-se, a si próprio, o “pior” da terra , mas eu acho que ele andava enganado. Para fazer a vontade à minha mãe deixei-me baptizar. Corpo presente, água para cima sem choradeiras. Julgo que nem cheguei a fazer o sinal da cruz. Tudo a despachar, a facilitar, tudo género simplex.
Pois, Joana, há uns anos ambicionava desbaptizar-me. Eu, ovelha da Igreja Católica! A que título? Eu, um numero a falsear uma contagem. Eu, ali, entre uma multidão estatística, num registo, num livro. Como bem adquirido na lista dum inventário.
Ainda tentei informar-me. Claro que tive a ideia de que era impossível. E talvez só estivesse disposto a fazer qualquer esforço, duvido muito que o fizesse, se desse o resultado desejado.
Se tivesse sido baptizado à nascença creio que não acharia em mim nada de especial. Assim, e como dizê-lo, eu sentia a necessidade de me acertar comigo mesmo. Com a excomunhão, era a Igreja que se desacertava comigo. Ridículo!
Espero que desculpes tanta conversa, a que vou acrescentar, por fim, um abraço.

Joana Lopes disse...

Eh! Eh! Só tu, Zé! Alguma vez pensei conhecer alguém que tivesse tentado desbaptizar-se!

Helena Araújo disse...

Por acaso, desta vez, acho que esse francês devia era desligar o rádio quando começa o noticiário, ou pelo menos interrogar-se se o que os jornalistas dizem é mesmo verdade.

Polémicas à parte:
- A propósito daquele louco furioso que andou a apregoar a excomunhão do médico que fez o aborto na miúda de 9 anos, uma brasileira iniciou uma corrente em que sugeria às pessoas que escrevessem ao bispo a pedir para serem excomungadas. Algo do género: "Senhor Bispo, por favor excomungue-me também, que eu não quero continuar a fazer parte desse clube".

- Na Alemanha as pessoas estão oficialmente inscritas na Igreja para efeitos fiscais. Não se desbaptizam, mas podem ir às Finanças "desmatricular-se" e deixarem de pagar o imposto religioso. Saem da coluna "cristão pagador" e entram na "desertores da Igreja". A coluna de desertores tem estado a aumentar a olhos vistos. E, pelos vistos, não apenas entre os católicos (sempre que há escândalo, lá vão mais uns milhares), mas também nos protestantes.

Joana Lopes disse...

Já sabia da existência da vinculação às Finanças na Alemanha, desconhecia a possiblidade de desvinculação.
Mas o que nunca tinha ouvido referir era o desejo expresso de alguém se desvincular da própria Igreja, por «anulação» do baptismo.

Anónimo disse...

Que não se exagere. Eu só pensei em desbaptizar-me. Incomoda-me um tanto o ter sido baptizado, nas circunstâncias em que o fui, mas logo que, numa primeira apreciação, vi a confusão e o trabalho em que me metia e o insucesso certo que iria ter, desisti e fiquei-me pelo incómodo.
Vê lá, Joana, as diferenças matriciais! Digo assim para não me alongar mais. Tu estranhas um caso de alguém se querer desbaptizar, desvinculando-se da Igreja. Eu nem sei o que isso é, essa entrada na Igreja pelo baptismo, e surpreende-me como não haja mais gente a querer fazê-lo. Voltar atrás dum mau passo, recusar o que outros resolveram por nós parece-me uma coisa que devia ser normalíssima.

Na Suíça, pelo menos no Cantão de Basileia, a contribuição para a Igreja a que se pertence vem incluída nas contribuições. Se alguém declarar que não tem religião, nem por isso deixa de ser taxado, destinando-se a verba incluída a obras sociais ou coisas no género. É o que eu julgo saber. Os suíços, espertalhões, não dão a ninguém a possibilidade de se safarem com uma habilidadezinha.

Helena Araújo disse...

Parece que as informações são passadas à paróquia da residência. Houve uma altura em que estive "desvinculada", e o padre soube logo. Depois reentrei (achei que há dentro da Igreja massa crítica de gente com qualidade, e sentia-me parva a participar numa série de actividades da Igreja sem estar "dentro"), e por sorte não me obrigaram a uma confissão, a recitar o credo de cor, nem nada disso. Parece que em Berlim ficam felizes por cada ovelha que regressa ao redil. Na Baviera também ficam felizes, mas primeiro fazem-na suar um bocadinho.
Pelos cartazes que vejo nas igrejas protestantes, fico com a sensação que reintegram os crentes alegremente e sem complicações.