4.9.09

Debater ou não debater
















Na sua crónica no Público de hoje, Vasco Pulido Valente critica a irrelevância das entrevistas que estão a decorrer nas televisões, não só pelo formato adoptado mas também pela atitude dos intervenientes.

«Os dez "debates" são uma espécie de imposto, que o poder, contrariadamente, paga à democracia. (…) Os "debates" servem para demonstrar que existe por aqui um país "normal". Demonstram precisamente o contrário.»

Sim quanto ao que é dito, não necessariamente quanto às expectativas que parecem subjacentes. Esperar muito destes episódios da campanha é pôr a fasquia a uma altura inadequada, porque eles não são mais do que elos numa complicada engrenagem, peças de um jogo que tem as suas regras, com méritos e deméritos, elementos do tal sistema que, não o esqueçamos, é (apenas) o pior excluindo todos os outros.

Uma dessas regras determinou – e bem, no meu entender – que cada líder partidário enfrente todos os outros. Mas há um preço a pagar: alguns debates menos interessantes do que outros, já que todos sabemos que os realmente importantes, mesmo ou principalmente para os protagonistas, não são dez mas apenas três ou quatro.

Por isso entendo mal o burburinho das reacções à entrevista feita ontem a Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa.

Foi claro e explícito, desde os primeiros minutos, que ambos tinham decidido não abrir hostilidades, mas antes denunciar e combater aqueles que consideram os seus verdadeiros adversários nesta campanha. Porque sabiam que o primeiro a atacar se arriscava seriamente a «perder»? Também, mas não só. Qualquer dos dois (sobretudo Francisco Louçã) poderia ter ido mais longe na diferenciação entre os dois partidos? Talvez, mas não era fácil ficar a meio caminho (atacar mas pouco) e ambos terão considerado que o espectáculo não compensaria os danos - o que não se diria hoje sobre a esquerda fratricida se a opção tivesse sido exactamente a oposta da que foi?

Os eleitores indecisos entre votar num ou no outro destes dois partidos (em número pouco significativo, na minha opinião) terão ficado frustrados e não esclarecidos? Oportunidades não faltarão - vinte e quatro dias é muito tempo…

3 comments:

Jorge Conceição disse...

E os candidatos (ainda) sem representação parlamentar?

Joana Lopes disse...

Esse é ainda um outro problema, Jorge. Sinceramente, não sei como pode ou deve ser abordao.

Anónimo disse...

Eu também acho positivo que cada um enfrente todos os outros num debate a dois. Muitas campanhas houve em que isso não aconteceu e é óbvio que se predeu debate e discussão, sobretudo ajudou a bipolarização.