5.11.09

O PCP e a queda do Muro de Berlim (2)














O que mais me impressiona num texto publicado hoje no Avante!, a propósito do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim, e que tem o significativo título «20 anos de retrocesso», é o pessimismo que reflecte da primeira à última linha. A Leste, tudo é hoje «tremendo» no plano social e económico, «amplas camadas da população» estão reduzidas à miséria e «a grande maioria» está privada «de uma perspectiva optimista de futuro». Nem uma palavra de esperança, de ânimo, de reconhecimento de progresso - apenas desgraça. A única solução desejável seria portanto dar à manivela do tempo e recuar duas décadas para regressar ao mundo que estava a construir o «homem novo». O problema é que isso não acontecerá…

Curiosamente, hoje também, foi publicado no El País um artigo de Mikhail Gorbachev: «20 años después del Muro, la historia continúa».

Repare-se na diferença entre os dois títulos: «a história continua» versus «retrocesso».

Entusiástico, vitorioso? Nem pouco mais ou menos. MK reconhece que muitas foram as desilusões e os fracassos e aponta também o beco sem saída a que chegou o capitalismo. Sem pessimismo negro e paralisante. E regozija-se com o facto de o século XX ter marcado «o fim das ideologias totalitárias» no Ocidente - o que, convenhamos, já não é pouco.

«Hoy en día, mientras dejamos a las espaldas las ruinas del viejo orden, podemos pensar en nosotros mismos como activos participantes en el proceso de creación de un mundo nuevo. Muchas verdades y postulados considerados indiscutibles (tanto en el Este como en el Oeste) han dejado de serlo.»

Mikhail Gorbachev não é certamente o guru iluminado que pode apontar novos rumos ao mundo. Mas este texto, ao contrário do primeiro, deixa-nos pelo menos «respirar»!

P. S. - Chamaram-me a atenção, por mail, para a pouca «credibilidade» de MK. Reproduzo parcialmente o que respondi: é-me relativamente indiferente, neste caso, porque se trata de um / o protagonista na origem dos acontecimentos que estão em causa e dizem-me o que ele pensa neste momento. Por outro lado, eu não estou aqui para «convencer» ninguém (citando apenas pessoas «credíveis»), mas para divulgar informação (neste caso, o artigo de MK) e dar a minha opinião pessoal.

3 comments:

Jorge Lopes disse...

Li o texto no jornal Avante, sugerido pela Joana, e é impressionante que digam ou que escrevam que a queda do Muro de Berlim foi mau para os Alemães. Fico chocado que escrevam que os antigos países da URSS estão pior actualmente. Fico chocado com tudo isso e digo e escrevo que o actual PCP não faz falta à democracia portuguesa, porque simplesmente não é democrata. Se as organizações de extrema direita não podem ser partidos, então o PCP deveria ser banido.
Para o PCP, o que estão bem são os países como Cuba e Coreia do Norte. Estes são os últimos bastiões do comunismo.
Mais uma vez se mostra, e tenho pena que ninguém fale disso, que o PCP lutou para a Revolução de Abril, não porque querer a democracia e liberdade de todos nós, mas sim para de apoderer do poder e constituir mais uma república da URSS (politicamente falando).

Abraço

Anónimo disse...

É verdade que os países das ex-URSS estão piores actualmente. Pode verificá-lo simplesmente olhando para os números que aparecem na wikipédia, especialmente para os números da população, que diminuiu em cerca de 5 milhões desde o fim da URSS até hoje. Você devia ficar chocado era com as evidências, e não com o que o Avante escreve.
A queda do muro de Berlim foi boa para os alemães porque possibilitou que pessoas há muito separadas voltassem a encontrar-se, e porque possibilitou que a sociedade da alemanha do leste se actualizasse do ponto de vista material (coisa que o regime socialista não teve muito sucesso a fazer, em parte por causa da pressão militarista da guerra fria). Mas foi mau por causa do desastre humano que gerou, negar isso é negar factos.
O PCP não quis impor nenhuma ditadura, não acredite em tudo o que ouve na televisão. Se o PCP quisesse impor uma ditadura, para quê votar a favor de constituição?

aim disse...

Porque viu gorado por acção de todos nõs o seu objectivo principal. Não foi Júlio César que disse: se não puderes vencê-los junta -te a eles?