4.12.09

Os novos do Restelo















Estava eu perto do magnífico Lago Inle quando soube por um telejornal francês, deslocado no tempo e no espaço, que a Europa tinha escolhido dois novos chefes. Vi umas caras desconhecidas e ouvi uns nomes impossíveis de fixar.

Dois dias depois de aterrar, ainda com os fusos horários trocados, assisti perplexa à assinatura do Tratado na Torre de Belém, num cenário bollywoodesco em que a «UE [recuperava] em Lisboa ambição e espírito dos descobridores».

Para quem chegava da Ásia, poucas coisas poderiam parecer mais estranhas do que aquela Europa engravatada, ainda convencida que é o centro do mundo, regozijando-se consigo própria com pompa e circunstância, aparentemente alheia em relação ao resto do universo. Como já foi dito e redito, a nomeação do senhor e da senhora cujos nomes ainda não fixei (talvez por ser belga, associo irresistivelmente a figura do primeiro ao professor Tournesol) é o atestado de uma falta de carisma propositadamente desejada, que chegaria a ser grotesca se não fosse tão grave. Como bem sublinhou a insuspeita Teresa de Sousa: «A Europa pode ter um novo número de telefone, mas quando Obama ligar à pessoa que o vai atender continuará a ser incapaz de agir» (Público, 2/12/2009).

Quando se vem de países com multidões de pessoas pobres e ansiosas por saírem da miséria e das ditaduras em que vivem, sem correrem o risco inevitável de serem subjugados por outras, é bem triste que seja tão evidente que os senhores da Europa só se preocupam de facto com elas para efeitos comercias. Aliás, em jeito de despedida, perguntei ao guia birmanês que nos acompanhou durante toda a estadia (impecável, bem informado e politicamente muito lúcido) o que esperava da Europa. A resposta veio, com um significativo sorriso: «Que venham muitos turistas, este ano foi fraco.»

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