24.2.10

Ainda a propósito da morte de Orlando Zapata Tamayo




Claro que a existência de presos políticos em Cuba já se tornou trivial.
Claro que já ninguém acredita na Primavera Raulista.
Claro que Orlando Zapata Tamayo era menos conhecido do que Aminatu Haidar, que Havana é mais longe do que Lanzarote e dá menos votos.
Claro que, para a esquerda, Cuba continua a ser um assunto bem mais incómodo do que o Sahara Ocidental – sou a primeira a sofrer com essa crua evidência e a penitenciar-me por só esta noite ter chamado a atenção para um caso, depois de consumado, que seguia há dias na imprensa e na blogosfera da resistência cubana.
Claro que se Orlando Zapata Tamayo tivesse sido um blogger iraniano ou chinês, sujeito à censura, já teria há muito tempo quinhentos posts em vinte e cinco blogues.

Esta é a (triste) realidade.

P.S. – Só faltava mais isto: «El general Raúl Castro "lamentó" la muerte del preso político Orlando Zapata Tamayo, tras 86 días de huelga de hambre, y aseguró que este hecho es el resultado de la relación con Estados Unidos.»

8 comments:

xatoo disse...

cara Joana
é lamentável que faça links para sites que gravitam em redor dos financiamentos do grupo espanhol de media Prisa; sites onde se chama de traidores Lula da Silva, Chávez e Morales (já para não mencionar Fidel)
Ao menos poderia não copiar a frase de Raul Castro citando-o como se tivesse dito a expressão "preso politico". Não é verdade.
Quando o Estado representa a propriedade alienável da maioria da sociedade, quem atenta contra a segurança do Estado é incriminado, julgado preso como autor de delito comum.
Como pessoa que me considero de esquerda (sem partido, mas obviamente ser ter nada contra os comunistas) continuarei a vir aqui enquanto sentir que não sou me lê os comentários com preconceitos.

Joana Lopes disse...

Xatoo,
Espero que continue a passar por aqui enquanto isso lhe der prazer e agradeço-lhe.
1 – Lamento desiludi-lo, mas «linko» o que me parece correcto, de acordo com as minhas opiniões. Embora muito raramente, também oiço a TVI…
2 – Citei, entre aspas, a frase do jornal: não a atribuí a R.Castro. Mas pergunto: OZT era para si um preso por delito comum, ou percebi mal?

Rui P. Bebiano disse...

Cara Joana

Não percebi essa de Cuba ser um assunto mais espinhoso para a esquerda do que o Sahara Ocidental ou que dê menos votos. A não ser que esteja a falar da "esquerda" "moderna" que nos (des)governa.

Mas não acho que a situação de Cuba e do Sahara seja a mesma. Em Cuba existe um claro problema de falta de liberdades politicas. Já o povo sahari tem falta de tudo: a paz, o pão, educação, saúde, habitação...

@Xatoo: a classificação dos presos politicos como deliquentes comuns é, no minimo, infeliz. De certeza que alguém - a PIDE, o governo fascista de Caetano - já classificou assim a Joana e outros companheiros de luta contra a ditadura. Como vê está em más companhias!

Joana Lopes disse...

Não, Rui P. Bebiano (para não se confundir com o outro...), não estou a pensar no PS, se é isso que refere. Muito pelo contrário: é espinhoso para a «esquerda da esquerda» (passe a expressão) que não quer reconhecer que Cuba foi mais um falhanço ou não conseguiu fazer o respectivo luto. Ainda hoje escreverei sobre isso.

xatoo disse...

sr Bebiano
Orlando Zapata Tamayo fez parte daquele grupo que em 2003 tentou furtar barcos propriedade do Estado para os levar para Miami. Esta acção coincidiu com a declaração de agravamento do bloqueio à ilha decretado por Bush. Não nasceu do ar, onde os conservadores lêem "clima repressivo". Parte das verbas disponibilizadas que quase duplicaram por alturas da reeleição de Bush foram para financiar acções deste tipo. OZT apanhou 3 anos de cadeia, depois sucessivamente agravados por alaridos pretensamente politicos contra o regime. Pudera! era pago para isso... (a lider da dissidência "Martha Beatriz Roque está estrechamente asociada a la misión diplomática estadounidense de La Habana, y es tan íntima de Michael Parmly que éste le dio su número de teléfono personal en Washington") Houve outros intervenientes que foram julgados por essa acção de banditismo e condenados à morte, uma pena que já não se aplicava em Cuba há décadas (até Saramago se insurgiu contra isso , mas o caso era grave e a escolha dificil: Ou se era duro ou se transigia perante Bush. Mas Cuba, embora cercada por toda a espécie de cães e gatos ainda é um pais independente; e ingerências externas não são admissiveis). Quanto às fantochadas das "damas de blanco" podemos voltar ao assunto mas fica para já só o apontamento que foi um grupúsculo criado logo no ano a seguir à Revolução de 1959 por um ministro do Governo deposto de Bautista; Quem actualmente orienta a actividade do grupo é o seu neto, o cubano-americano Lincoln Díaz-Balart que é Senador no Estado da Flórida.

Esclarecido? como vê, companhias cada um escolhe as que quer; ou lhes convém conforme os salários que recebe. Já se adivinha que não me irá respnder. Rui Bebiano tem "um certo nome na praça" e não se rebaixará a debater com "comunas totalitários". Assim sendo agradeço também que não me incomode com os seus dichotes de meia dúzia de linhas. É pq dão trabalho a desmontar... e eu tenho mais que fazer.

Joana Lopes disse...

xatoo, deixo-o a dialogar, pelo menos para já, com o Rui P. Bebiano. Tive o cuidado de, na minha resposta, deixar implícito que há DOIS Rui's Bebiano. Mas é normal que tenha pensado que era o blogger de A Terceira Noite - mas não é.

xatoo disse...

obrigado pelo esclarecimento JL; de qualquer modo não conheço nem um nem outro...

Rui Bebiano disse...

Obrigado, Joana, pelo esclarecimento. De vez em quando, lá vem a confusão.

Rui, um destes dias teremos mesmo de fazer uma vaquinha para um spot televisivo a esclarecer isto.

Xatoo, é fácil conhecer-me pois uso na vida real o mesmo nome de baptismo com o qual (para o bem e para o mal) desde há muitas décadas assino tudo o que faço.