19.2.10

Nobre povo, nação valente




«Porque chegámos nós a esta decadência que se revela nos embaraços financeiros, a ponto de não podermos viver senão pelo empréstimo, matando todas as actividades económicas pelos impostos absorventes destinados simplesmente a pagar os juros crescentes desses empréstimos sucessivos? Porque a geração que nos precedeu fugiu da política; deixou fazer tudo, não quis saber, não quis tomar conta, lançou-se numa apatia e passividade vergonhosa, de que hoje somos vítimas. Uns fugiram da política por desalento, outros tiveram medo de entrar nesse conflito de paixões pessoais a que então se dava o nome de política. É fácil encontrarmos na linguagem dos mais elevados espíritos da era moderna portuguesa esse grito deplorável, que alguns novos ainda repetem por um certo automatismo de imitação, Por exemplo, Herculano lamenta que a política tivesse inutilizado os talentos do seu tempo; Garrett, sentindo-se esterilizado, diz que já pode ser político; e Castilho repete a frase, que a política tinha desalgado tudo nesta terra. É preciso acabar com este lamentável preconceito, que tem como consequência inevitável a impunidade discricionária dos governos; é preciso que exista uma opinião formada acerca da marcha dos negócios públicos, acerca das aspirações de uma sociedade, para que aqueles que exercem o poder sejam os órgãos que põem em exercício essa força, se fortaleçam quando seguem essa corrente, ou sejam envolvidos nela quando lhe vão de encontro. Fugir da política é abandonar o futuro da sociedade em que se vive, é sacrificar à inércia de hoje, o bem-estar de amanhã.»

Teófilo Braga, História das Ideias Republicanas em Portugal (1880)

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