4.2.10

«O drama da Europa é que ela nunca está onde se espera encontrá-la»




No seguimento do que aqui escrevi ontem, leia-se um esclarecedor texto de Manuel Maria Carrilho, publicado hoje no DN.

«O paradoxo, hoje, é que a Europa parece reunir todas as condições para se tornar um grande actor da globalização - e, no entanto, sempre que uma oportunidade surge, ela não descola, como se uma maldição a condenasse a permanecer quase invisível em termos mundiais. (…)
Mas o êxtase jubilatório em que assim se encapsulou conduziu-a a uma indolência estratégica que a deixou desamparada para agir no inesperado mundo que tem pela frente.»

13 comments:

Vitor M. Trigo disse...

Embora siga com bastante interesse o que encontro por aí relacionado com as chamadas Teoria da Conspiração, tento acompanhar estes temas com a isenção que me é possível.

E em relação ao texto de Carrilho que postaste, ocorre-me o seguinte:

Realmente quando a Entente, conduzida pelos EUA-UK, fez os "impossíveis" por colocar Barroso onde está, e o outro senhor cujo nome ninguém sabe citar na "presidência" da Comunidade ou lá o que é, não era esta total demissão da Europa que objectivavam?

Eu acho que sim. E temo que o vão conseguindo cada vez mais.

Joana Lopes disse...

Mesmo aceitando o que dizes? E os europeus não eram «crescidinhos» para terem juízo? Mas não têm, impera o jogo de interesses entre os grandes e colocam lá quem não incomode. Foi com Barroso e com as duas últimas nomeações, cujos nomes o meu subconsciente se recusa a fixar: o belga que me lembra o professor Tournesol e uma senhora inglesa.

septuagenário disse...

Um dia estive no Brasil, e os brasileiros, diziam que iam passear à europa e depois passavam por portugal. Depois explicaram que para os americanos a peninsula ibérica não era europa.

Agora já posso atirar com o barroso à cara dos brasileiros meus amigos.

Só tive pena que certa vez o nosso marocas ter perdido para uma dona de casa.

Agora somos europeus a sério: até já temos comandantes militares britânicos na nossa guerra do afeganistão.

Embora não saibamos apontar no mapa onde fica isso.

Vitor M. Trigo disse...

Caro septuagenário,

Devo confessar que eu, que valorizo os tadicionais Valores Europeus, continuo a referir-me à Europa sem sentido de pertença.

Quando viajo por Espanha, pe, nunca me ocorre dizer que passeei na Europa.

Tentando ser mais claro - sinto que os Europeus não consideram como pares nem Portugal, nem a Espanha, nem a Itália, nem a Grécia (os PIGS dizem eles displicentemente). E quanto à possibilidade Turquia, então vade retrum.

Tento responder na mesma moeda (sem raiva, mas com equidade) - não me importa que eles se sintam orgulhosamente Europeus (lá terão as suas razões), mas eu não nunca me senti envergonhado de ser Português (nem mesmo durante os anos negros do Estado Novo, de que a maioria de nós foi vítima).

Talvez um dia venha a mudar a minha atitude. Quem sabe? Pode ser que eles mudem.

Joana Lopes disse...

Vítor,

Essa dos Valores Europeus com maiúsculas dá-me pele de galinha, desculpa lá…
Eu não tenho vergonha de nada, nem penso que fosse essa a ideia do Septuagenário. Somos portugueses, ponto - porque a jangada de pedra não se soltou e não fomos parar perto da América (ou de África).
Interessa-me o que se passa agora: somos um conjunto de países burocraticamente dirigidos por Bruxelas sem força nem carisma e isto não vai correr bem.
Não sei se tens saído recentemente da Europa, mas garanto-te que, vista de bem longe, ela não é brilhante.

Vitor M. Trigo disse...

Esclarecendo:

Quando falei em Valores Europeus estava a referir-me aos ideais da Revolução Francesa, que hoje parecem tão distantes. Por isso tive o cuidado de lhes chamar tradicionais, e evitar alguma confusão com os actuais.

Bem sei que a RF foi a origem da tomada do poder pela burguesia (não pela plebe), mas foi uma importantíssima contribuição para mudar o mundo.

Se os Europeus fossem hoje capazes de iniciativas tão fracturantes, outro galo cantaria.

Nota: Quando aproveitei a boleia do comentário do septuagenário, foi para tentar interpretar o sentimento dos Brasileiros em relação à Europa, e não para afrontar o conteúdo do seu comentário.

Jorge Conceição disse...

Há aqui várias coisas e eu vou-me referir a algumas delas um tanto (ou muito) desordenadamente:
- Há um sr. Belga que foi nomeado Presidente do Conselho da União Europeia, para substituir a rotatividade semestral pelos estados membros dessa presidência. E no entanto ela continua a existir: a actual reunião efectua-se sob a Presidência da Espanha. Ou seja, a UE para falar a uma só voz no mundo globalizado nomeou duas personagens (uma para Presidente do Conselho e outra com funções de negócios internacionais), que não passaram de eventuais, já que todo o amparo lhe vem este semestre de Espanha e depois passará para outro Estado membro. E o resto do mundo continua a perguntar: quem é o nosso interlocutor actual? Não nos interessa saber quem não incomoda, mas quem assume a responsabilidade por esse espaço esquisito e multifacetado que quer ter uma visibilidade comum internacional e não o consegue?
- Parecendo um contrasenso, pergunto-me se é mais importante o Brasil ou outro país ACP olharem para a Península Ibérica como uma excrecência europeia, ou a União Europeia levar a sério a sua afirmada intensão de criar na Europa uma associação de Estados e organizar-se de modo a funcionar como tal? Quero dizer com isto: não deve ser para não sermos mal vistos no espaço internacional exterior à UE que devemos organizarmo-nos internamente, mas para cumprir um objectivo que se achou do interesse (fundamental?) dos próprios Estados membros. Claro que este é (quanto a mim) o ponto central: interessa ou não a estes países europeus constituir-se em comunidade de estados? Se sim, então terão de ser efectuadas todas as diligências e criados todos os mecanismos que concretizem essa união de estados. E depois respeitar integralmente o que for acordado entre todos. Caso contrário é a bagunça e a perda de toda a credibilidade. Credibilidade, repito, primeiro interna do que externamente.
- Sobre a Europa: recordo que a União Europeia não é "A Europa". É constituída (actualmente) apenas por 27 estados europeus. O Conselho da Europa reune 47 estados e ainda fica um de fora. Ou seja, e se esta é que é a Europa (e aqui está incluída a Turquia), ela é constituída por 48 estados. Ou seja, a União Europeia não chega a deter 60% dos estados europeus. E em relação à população, bem numerosa é aquela que não está incluída na UE (basta atender a estados como a Federação Russa e a outros da ex-União Soviética, e à Turquia).
- A tradição da Revolução Francesa, não sei quem a tem ou quem a não tem. Depois desta ter ocorrido, já tivemos de tudo na Europa: com ou contra tais valores, em vários países. Mas se o tema da tradição é os "Direitos do Homem" como estatuto, então pode-se dizer que essa tradição não se ficou pela Europa e foi internacionalizada, nomeadamente com a Carta Universal, sob a égide da ONU.
- Apesar das insuficiências, dos erros, dos oportunismos, dos logros, etc., que as mancham negativamente de quando em vez, as maiores criações do Homem enquanto ser social, foram as organizações inernacionais, como tentativas (nem sempre bem conseguidas) de obstruir as grandes ameaças: a guerra, a pobreza, etc. Por isso, para mim, a ONU e as suas organizações (FAO, OMS, UNESCO, OIT, etc.), a UE, o Conselho da Europa, a OEA, a OUA, etc., são tentativas positivas que valem já por si, como plataformas de entendimento. E falham, claro. Terão de ser constantemente reformadas, corrigidas. Com profundidade. Mas não eliminadas!

Joana Lopes disse...

Obrigada, Jorge, pelo seu comentário que toca e esclarece muitos pontos importantes.
Vou apenas ao último. Longe de mim ser catastrofista e dizer que algo seria melhor «antes» ou sem essas organizações internacionais que refere.
O que está ser muito má é a escolha das cúpulas da UE e o seu comportamento - no meu entender, claro.

Manuel Vilarinho Pires disse...

O mal da Europa é muito fácil de diagnosticar.
A terapéutica é que é complicada.
Assim como o mal de Portugal.

O mal da democracia portuguesa, de que decorrem quase todos os males que nos assolam, é o facto de os deputados da AR serem eleitos em listas, e não em círculos uninominais.
O que permitiu a captura do sistema eleitoral pelos partidos, que têm a capacidade de ordenar os deputados ao constituir as listas de candidatos, o que os torna dependentes dos partidos para conseguirem permanecer na AR.
Porque é que a terapéutica é complicada?
Porque os grandes partidos, que de quando em quando formam governo, querem uma AR que não os chateie quando lá chegam.
E os pequenos partidos, que conseguem eleger deputados com este sistema eleitoral, podiam deixar de o conseguir com círculos uninominais.
Ou seja, os partidos, que capturaram o sistema, estão todos contra os círculos uninominais.

O mal da Europa é ter sido construída como uma Europa de governos e não uma Europa de cidadãos.
Foi construída por governos, e o resto da história já se sabe...
Se o presidente dos EUA tivesse de responder perante 50 estados em vez de responder perante 2 partidos, a história do Séc.XX teria sido diferente e hoje andaríamos todos fardados, ou de preto, ou de vermelho, ou então de pijama às riscas.

Vitor M. Trigo disse...

Manuel,

Não me custa acompanhar o teu raciocino, mas a minha grande dúvida é a seguinte:

Como responsabilizar PESSOAS (e não partidos) que hoje entram para a actividade política e amanhã saem sem deixar rasto?

Embora, envolva um partido, alguém responsabilizou o PRD pelo que fez (ou deixou de fazer)?

Apareceu. Fez mossa, e, tão depressa como surgiu, desapareceu. E tinha, salvo erro, 18% dos votos.

Eu não tenho resposta consistente

Jorge Conceição disse...

Joana, claro que concordo consigo quanto ao funcionamento da UE e do modo como foram lá foram metidas as "cúpulas". Tentou, aliás, ser esse o sentido da primeira das minhas desordenadas observações, as quais tiveram como referência o "post" (e o seu "post" antecedente) e parte dos comentários.

Manuel, a criação de círculos uninominais poderá teoricamente ser uma boa opção para Portugal, mas não acredito qe seja "o" remédio político para o País. Enquanto aqui não houver uma ampla cidadania, esclarecida e activa, não vejo como será possível garantir que o poder se efectue de forma diferente da que lamenta (a relação entre os partidos e os seus directos benefeciários...).

Manuel Vilarinho Pires disse...

Meus amigos,

Vítor, no dia em que a AR for eleita em círculos uninominais serão os eleitores, e não os partidos, a escolher os deputados, a escolher cada deputado.
Se cada deputado quiser ser reeleito não tem que fazer fretes ao seu partido ou ao governo, tem é que mostrar ao seus eleitores que fez um bom trabalho e merece de novo o seu voto.
E cada eleitor saberá exactamente quem é o seu deputado.
Isto é a responsabilização dos políticos perante os eleitores.

Jorge, a grande diferença entre a democracia e todos os sistemas mais inteligentes baseados na visão de "iluminados" que impõem o bem comum é a seguinte: os sistemas mais inteligentes só funcionariam bem se os governantes fossem pessoas inteligentes, perfeitas, impolutas; a democracia funciona menos mal mesmo que os governantes sejam desonestos e opurtunistas e só procurem ser reeleitos.
Como a humanidade é assim, a pior das democracias acaba por oferecer condições de vida mais decentes do que a melhor das ditaduras.
è verdade que quanto mais activa e esclarecida for a população melhor será (curiosamente, quanto mais activos e esclarecidos forem os consumidores, mais perfeita e enriquecedora será uma economia de mercado também), mas, com as imperfeições dos eleitores e dos políticos reais, o sistema é o melhor, ou o menos pior, que já se inventou.

septuagenário disse...

Joana Lopes e V. M. Trigo,

quando falo no barroso, com letra minúscula, que entregou o país a Santana Lopes e o que se seguiu, para satisfação pessoal e não interesse nacional, quando falo no marocas, já velho e cheio de vícios vai para deputado de bruxelas, à procura de protagonismo internacional e pessoal, e, quiçá, dinheiro, e por fim vamos para uma guerra (afeganistão)como um Sancho Pança, de criado do cavaleiro Blair, quando falo nestes casos num momento em que andamos às voltas com as escutas e o deficit e o futebol, apenas recorro aos brasileiros para me rir, porque o que tenho é vontade de chorar!

Deve ser da idade!