17.3.10

Necrophile is in the air


O país anda preocupadíssimo com assuntos transcendentes e sabe-se agora que alguns pretendem confinar a toponímia ao mundo dos desaparecidos.

Para evitar possíveis abusos, corta-se o mal pela raiz: não haveria mais ruas com o nome de Mário Soares nem de José Saramago (existem às dezenas), as próximas teriam de esperar que a morte se digne levá-los. Jorge Sampaio não seria nome de estádio e pena é que não estejam previstos efeitos retroactivos, a tempo de mandar arrasar umas estátuas de Manuel Alegre.

Tudo isto «inspirado pelos ideais republicanos», como «mais um gesto de homenagem ao Centenário da Implantação da República».

Mas o que é que a República tem a ver com as calças???

P.S.1 - «Uma lei para enterrar os vivos e ressuscitar os mortos é estonteante para qualquer legislador.»

3 comments:

Miguel Serras Pereira disse...

Sim, camarada Joana, mas, quanto à gente viva que tem nome nas ruas e estátuas, para não ser prejudicada e esbulhada dos seus direitos adquiridos, cortar o mal pela raiz seria, antes ainda de a lei entrar em vigor, ou logo a seguir, mas depressa, depressa, cortar-lhes a cabeça.
O que, de resto, projectaria internacionalmente o nome de Portugal relegando audaciosamente, no Centenário da nossa República, para os caixotes de lixo da História as comemorações, há dezanove anos tão luzidas, do Bicentenário da Revolução Francesa.

Abç

msp

Joana Lopes disse...

Certo, Miguel, mas esqueces a brandura dos nossos costumes...
E se rolasse a cabeça se Saramago,os espanhóis vinham outra vez por aí fora para nos pedir satisfações!

José Meireles Graça disse...

Saramago está em Espanha, deixá-lo estar. Agora a ideia de, por razões de legalidade, cortar a cabeça a personalidades celebradas em pedra e na toponímia, parece-me plena de potencialidades. Por mim, confesso estar disposto a dar um muito razoável apoio financeiro a uma já muito merecida iniciativa para a erecção de uma estátua ao nosso Primeiro. Pensando bem, até podia ser um baixo-relevo em friso, para nele caberem outras personagens igualmente credoras do nosso testemunho colectivo de gratidão.