10.3.10

Tristes realidades


Lula da Silva tem 64 anos. Há trinta, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Nesse ano de 1980, foi preso pela polícia política brasileira, como esta foto recorda.

Gostava que Lula pudesse fazer rewind da sua história pessoal e se visse a dizer então o que terá afirmado anteontem, a propósito dos dissidentes cubanos:
«Eu penso que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Imagina se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade.»
«Temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano, de deter as pessoas em função da legislação de Cuba, como quero que respeitem ao Brasil.»

Ainda há coisas que me desiludem neste mundo.

P.S. – Ferreira Fernandes, no DN de hoje, 11/3:
«Razões de Estado podem levar um Presidente a não criticar outros Estados, usando a linguagem do cinismo de Estado. Mas o próprio do cinismo é ser um exercício inteligente. Quando burro, revela ainda mais a iniquidade de certas razões de Estado.»

11 comments:

Anónimo disse...

Não há dúvida. O PODER corrompe.

Joana Lopes disse...

Pelo menos, cega

Miguel Serras Pereira disse...

Pois é, camarada Joana. O "monstro frio" do poder de Estado opera metamorfoses inquietantes.
Quanto à substância, é a "sobernia nacional" acima das liberdades e direitos fundamentais. É a razão de Estado contra as razões da democracia.
Nos teus Matusalém, viria a propósito uma canção do Brel, chamada "Les singes", que decerto conheces, e onde o ouvimos cantar a certa altura: Et c'est à coups de bâton / que la raison d'État a chassé la raison.
É certo que o Lula não disse explicitamente: "Não querem comer? Então, é paulada neles, até engolirem tudo". Mas não disse coisa muito melhor.

Abç

miguel

Joana Lopes disse...

É verdade, Miguel, mas escusava de ir tão longe, pelo menos na linguagem.

Joana Lopes disse...

Esqueci-me de dizer, Miguel: se encontrar «Les singes» sai já esta noite...

Manuel Vilarinho Pires disse...

A propósito do equilíbrio entre a soberania do estado, a "lei do mais forte" e os direitos fundamentais, e curiosamente sem sair do registo antropóide no título, também vale a pena revisitar "Le gorille" do saudoso Georges Brassens... apesar de a história acabar mal para todos, a começar pelo macaco que, vítima da falta de discernimento, acaba por comer gato por lebre.

Joana Lopes disse...

Lá terei de ir procurar Le Gorille...

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Manuel,
você afinal é amigo da Joana ou da onça? Já viu em que sarilhos a publicação do Gorille a vai meter? Vai ser acusada de ofender a magistratura, a terceira idade, os gorilas e o movimento gay em geral - não se compenetrou ainda? "Excessivamente grave", meu caro. Dissuada-a, vamos lá, por favor, emende essa mão esquerda que muitas vezes parece desmentir as suas declarações repetidas de não ser dessas bandas.
Saudações cordiais

msp

Manuel Vilarinho Pires disse...

Está aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=ja665-6h_sA
Agora, quem quiser completar uma trilogia de canções antropóides, num registo crescentemente escatológico, pode assistir ao recital dos "Irmãos Catita" no Maxime, amanhã, em que certamente não deixarão de cantar o tango "Orangotango" (com bolinha).

Manuel Vilarinho Pires disse...

Bom dia, Miguel,
A Joana pode sempre censurar o meu "post", ou prescindir de adoptar a recomendação, se bem que o mero facto de ela publicar os meus "posts" neste antro de esquerdistas me diga que ela não é adepta da censura.
Relativamente às ofensas que identificou, permita-me que, pelo menos nalgumas, lhe solicite alguma clemência na análise...
A magistratura apreciará porventura o relato de um processo (extra-judicial, é verdade) em que, por uma vez, os expedientes processuais não evitaram a cconcretização da sentença.
A terceira idade vê reconhecido o direito ao prazer, a ambicionar uma vida sexual enriquecida com experiências com um amante "bien supérieur à l'homme dans l'étrainte", para além da declaração do cantor de que, sendo ele, escolheria a velha.
Os gorilas temperarão com a impaciência e a inexperiência próprias da juventude as razões para o engano do macaco da canção, que não se deverão exclusivamente à falta de bom gosto.
E o movimento gay pode sempre enternecer-se por, no final do dia, o macaco ter preferido optar livremente por uma relação homossexual (saído do armário, suponho que é como se lhe chama).
Relativamente à mão esquerda, tenho dificuldade em responder-lhe porque, apesar dos meus apelos lancinantes, nomeadamente à Joana, continuo sem saber ao certo para que serve a esquerda.
E a minha percepção é que é uma mistura de pessoas bem formadas com fascistas, de pessoas inteligentes com burros, que partilham de concepções económicas rotunda e comprovamente erradas, à procura de vias para conseguir concretizar a sua generosidade ou o seu gosto pela autoridade.
E, tendo amigos em ambas as situações, tenho tanta dificuldade em compreender o que leva uma pessoa inteligente a ser de esquerda, como outra a ser crente.
E, para desfazer qualquer ambiguidade que possa parecer ter, posso declarar que nas presidenciais votarei no Doutor Cavaco Silva seguramente.
Como as suas saudações são de facto cordiais, devolvo-lhas com saudações republicanas.

PS: Joana, já cravei outro!

Joana Lopes disse...

E cravaste bem, Manel! Ufa...