19.3.10

Desaparecidos sem combate


Ontem mesmo, pensei algo de semelhante ao que Manuel António Pina escreve hoje no JN: já ninguém reage a mais uma notícia que anuncie estranhos desaparecimentos de documentos. Nem décadas de computadores e scanners ao preço de uma camisola relativamente barata, e aplicações informáticas que nos custam, a nós contribuintes, os olhos da cara parecem ser suficientes para registar e guardar o que não deve ser perdido. Ou antes pelo contrário?

«Nos últimos tempos, que me lembre, desapareceram sete (!) queixas apresentadas em vão à Escola pelo professor que se atirou da Ponte 25 de Abril por não poder suportar os maus tratos de que era sistematicamente e impunemente vítima, como desapareceu a carta da família pedindo à Direcção que reflectisse sobre as agressões de alunos que terão conduzido o docente, de 51 anos, ao suicídio; também da acta da última reunião em que o professor participou desapareceram as suas queixas sobre novas agressões. Uns dias depois, o "Público" noticiava que da Câmara de Lisboa desapareceu o processo (envolvendo demolições, reconstruções e isenções de IVA) do prédio em que Sócrates comprara um andar. O próprio vendedor... desapareceu. Toda a gente sabe que o país está cheio de buracos, e não só nas contas públicas. Mas, pelos vistos, há por aí um arquivo-morto que, se um dia ressuscita, revelará mais sobre o que somos do que toda a papelada da Torre do Tombo junta.»

5 comments:

Diogo disse...

Mas não basta a indignação, as piadolas ou as indirectas perante tais criminosos. É preciso fazer muito mais.

Joana Lopes disse...

Ou seja?

Manuel Vilarinho Pires disse...

Isto faz-me lembrar uma história de há uns 20 anos atrás, contada pela Helena Sanches Osório: "Era uma vez uma vírgula...".
Tenho a impressão que nunca se esclareceu, pois não?

Joana Lopes disse...

Lembro-me do título, não do conteúdo.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Era a história de um político ter recebido, não me lembro se 90 ou 120 mil contos, para mudar a posição de uma vírgula num decreto...
Ela na altura recusou-se a esclarecer de que vírgula e de que político se tratava, e depois não sei se o assunto chegou a ser esclarecido publicamente até ela morrer.
Foi publicada no "Independente", claro.
Será que alguns dos teus visitantes aqui saberá mais do que isto?
Como foi durante o "Cavaquismo", deve-lher ter despertado TODO o interesse... se bem que não seja certo que ela se referisse a um político do governo em funções nessa altura.
Qua havia lá alguns com ar de poderem ser bons candidatos, havia...