12.4.10

Caras e coroas


Interessantíssimo este artigo de Immanuel Wallerstein - «Antigo dilema da esquerda: o caso do Brasil» - ou, indo directamente ao assunto, «como medimos a "popularidade" de um partido e como avaliamos as suas credenciais de esquerda».

No caso concreto, discute-se, em termos de balanço, a actuação do ainda presidente Lula da Silva, por ocasião do 30º aniversário do PT (Partido dos Trabalhadores), do qual foi um dos fundadores. Teve o PT «de fazer concessões ao pragmatismo» para se tornar mais popular?

Para uns, americanizou-se, não é mais do que uma máquina eleitoral, um partido conservador e pragmático, pequeno-burguês e o preço que pagou foi o «abandono dos princípios e metas políticas que estavam presentes em sua origem». Outros consideram que o seu programa de estatização está «cem anos atrasado» e nada tem a ver com esquerda ou com socialismo. Finalmente, há quem pense que, nos últimos anos, se assiste a uma viragem à esquerda e que a actual crise do capitalismo trouxe o socialismo de novo para a cena do debate. Todos parecem temer o populismo, nenhuns têm em conta o factor geopolítico e a actual importância do Brasil neste campo.

Curiosíssimo é o contraponto a tudo isto, num artigo publicado por Fidel de Castro há poucos dias: «El último encuentro con Lula». O que os intelectuais de esquerda criticam são razões para elogios por parte de Fidel.

Wallerstein explica porquê: «Os intelectuais de esquerda brasileiros estavam a olhar principalmente para a vida interna do Brasil e a lamentar o facto de Lula nada mais ser do que, na melhor hipótese, um pragmático de centro-esquerda. Castro olhava principalmente para o papel geopolítico do Brasil e de Lula, que ele vê como sendo de enfraquecer o principal inimigo, o imperialismo dos Estados Unidos.»

Conclusões? Absolutamente nenhumas. Apenas matéria para muitas e variadas reflexões.

P.S. – Entretanto, o pragmatismo «geopolítico» de Lula já terá ultrapassado muito os limites do admissível.
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2 comments:

Miguel Madeira disse...

A teoria do Fidel parece-me um bocado a teoria do Estaline, de que o papel dos revolucionários era defender a "pátria do socialismo" (antes a URSS, agora Cuba) contra as ameaças externas, em vez de expandir a revolução.

Joana Lopes disse...

Qual «expandir», Miguel...