14.6.10

E se se pensasse antes de legislar ou de regulamentar?


aqui escrevi o que pensava sobre a possibilidade de alunos sem sucesso no 8º ano poderem fazer exames do 9º e acederem directamente ao 10º. Entretanto, foram muitos os que se pronunciaram a favor da medida, com argumentos válidos.

Mas leio hoje uma nova explicitação que me deixa perplexa (o bold é meu):

«Os estudantes do 8.º ano que façam o exame de Português do 9º no dia 23 - numa tentativa de "saltar" para o 10.º - arriscam não tirar qualquer partido do teste. Isto porque, na maioria dos casos, a admissão dos alunos na prova será feita "à condição", ou seja, a sua validade está dependente da avaliação final que o conselho de turma (CT) da escola der ao aluno.
Paradoxalmente, os estudantes que conseguirem passar para o 9.º ano pela via tradicional acabarão por não poder beneficiar das provas. Motivo? O regime que permite aos maiores de 15 anos acabar o 9.º ano através de exames e provas de equivalência à frequência não se aplica a quem tenha concluído o ano lectivo.»

Ou seja: o Zezinho está quase a concluir o 8º ano. Tem medo de chumbar, procura tirar partido da nova legislação e faz os exames do 9º ano, correm-lhe bem e acredita que vai frequentar o 10º. Mas, afinal, não chumba no 8º e, por esse motivo azarento, irá obrigatoriamente parar ao 9º, no próximo ano lectivo. É exactamente isto, não é? Ou houve alguém aqui que se / me enganou?
...

3 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Eu suponho que o grande problema da Educação em Portugal não reside nos alunos, nem nos professores, nem nos funcionários, nem, em nenhum dos grupos que, Governo após Governo, são os alvos das tentativas de reforma no sector.
O grande problema reside justamente naquele que nunca foi alvo de nenhuma tentativa de reforma por nenhum Governo: no Ministério da Educação.
E quer os Ministros sejam sociólogas esquerdistas com ar tristonho, quer sejam escritoras do jet set que fazem olhinhos aos jornalistas em vez de responder às perguntas, o Ministério tem sempre uma equipa de "Sir Humphrey Appleby"s que, antes de eles sentarem o traseiro na cadeira pela primeira vez, já os meteram na algibeira e a olhar para o alvo certo, ou seja, para fora do Ministério da Educação...
O sistema de avaliação dos professores foi uma imagem fiel do que vale o Ministério, e não vale a pena ir apontando outras, porque saem todas do mesmo calibre...

Joana Lopes disse...

Não posso estar mais de acordo. E nem sequer será tanto ao nível de ministros, mas de um monstro que foi crescendo (o Ministro da Educação), cheio de burocratas que ninguém consegue dominar. Só esvaziado e começado do zero!

Manuel Vilarinho Pires disse...

Podias ter escrito sobre o Ministério da Saúde, dizendo o mesmo.
Teorizando...
Isto é um dos dois problemas mais fundamentais da Democracia portuguesa.

O primeiro é a representatividade e a independência dos deputados, que o sistema de eleição em círculos que elegem vários deputados coloca aos serviço dos partidos em vez de ser ao serviço dos eleitores. E isto castra completamente a função fiscalizadora da AR.

O segundo é o facto de o Governo ser governado pelos Ministérios, pelos que lá estão, e não pelos Ministros, que são eleitos, o que tende a colocar o Ministro, que representa os eleitores, ao serviço do Ministério, em vez do oposto. Isto é especialmente visível no facto de sucessivos Governos de partidos diferentes defenderem políticas iguais.

Nada que não se possa resolver... mas para resolver o primeiro problema seria necessário fazer um golpe de estado, para o segundo bastaria ter Ministros com "eles" no sítio...