5.8.10

Angola é (dalguns) deles



Mas, evidentemente:
,,,

15 comments:

Vitor M. Trigo disse...

Que devem então fazer os empresários portugueses fazer? Virar as costas a Angola?
Esperar que as coisas mudem e só depois avançarem?
Realplitik, minha amiga, Realpolitik.

Joana Lopes disse...

Não percebeste: o Cavaco é que podia, pelo menos, evitar certas frases - já que não diz outras.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Não é só Angola que é deles, é também Portugal, vamo-nos habituando...

O que o Cavaco disse não é diferente do que podia dizer institucionalmente.
Falou do desenvolvimento do país e da melhoria das condições de vida da população, nem se ficou pelas oportunidades de negócio.
Para um economista habituado ao jargão da OCDE ou do Banco Mundial, desenvolvimento sigifica livrar-se da currupção que o castra.
O que é que gostavas de o ouvir dizer, ou de não o ouvir dizer, ou terá dito, por exemplo o Sampaio durante os seus mandatos, ou diria o Alegre se alguma vez chegasse a ser eleito?
Que Angola é governada por alguns dos políticos mais curruptos do mundo? Que é um dos países mais curruptos do mundo? Que deve ser o país mais rico onde há mais mortalidade infantil? Que usa as instituições internacionais para dar imunidade judicial aos bandidos que cooperam na currupção?
Nós podemos dizê-lo, e devemos dizê-lo, mas ele não pode.

Mas o sitema angolano conhecêmo-lo há décadas e não nos consegue surpreender.
Chocante, chocante, foi para mim ter tomado conhecimento este ano da amplitude dos interesses na economia Moçambicana das empresas controladas pela mulher do político que, de longe, mais admirei no Séc.XX...

Joana Lopes disse...

«Desenvolvimento significa livrar-se da corrupção que o castra». Será? E será mesmo desenvolvimento para a população, antes de mais, ou sobretudo, enriquecimento sempre dos mesmos, entre os quais os nomeados na primeira notícia?

O luxo faustoso da «elite» dos negócios e da política em Angola ultrapassa tudo o que se diz. E ainda se mata, em Luanda, para roubar um telemóvel velho e modesto.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Para a OCDE e o Banco Mundial é.
A eliminação da currupção é considerada um dos factores mais críticos para o desenvolvimento.
Juntamente com sistemas políticos democráticos e transparentes, burocracia que não paralize, sistemas judiciais eficazes, economias com concorrência, garantias da salvaguarda dos interesses dos pequenos accionistas, fiscalidade que não asfixie, flexibilidade laboral...
É a cartilha liberal... ;-)
Tem coisas que a esquerda gosta (se esquecer que são "receitas" liberais), outras que detesta mas a ciência económica considera mais eficientes.

Mas o que deveria o Cavaco ter ou não ter dito?

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Manuel Vilarinho,
surpreende-me que você escreva isto:
"O que é que gostavas de o ouvir dizer, ou de não o ouvir dizer, ou terá dito, por exemplo o Sampaio durante os seus mandatos, ou diria o Alegre se alguma vez chegasse a ser eleito?
Que Angola é governada por alguns dos políticos mais curruptos do mundo? Que é um dos países mais curruptos do mundo? Que deve ser o país mais rico onde há mais mortalidade infantil? Que usa as instituições internacionais para dar imunidade judicial aos bandidos que cooperam na currupção?
Nós podemos dizê-lo, e devemos dizê-lo, mas ele não pode".
Com efeito, se a presidência de uma república (efectivamente republicana, entenda-se) não pode dizer a verdade mais elementar em matéria de direitos e garantias e tem, pelo contrário, por necessidade inerente ou "funcional" legitimar ou "reconhecer" a tirania, então o melhor é acabarmos com ela, transformarmo-la radicalmente na sua definição e essência - ou pelo menos tentarmos desautorizá-la sem contemplações e desacreditá-la sem esmorecer. Mas corrija-me, se me engano: restar-nos-á outro uso da liberdade que não passe por um tal trabalho de demolição?

Com as cordiais saudações republicanas de sempre

msp

Manuel Vilarinho Pires disse...

Bom dia, Miguel,

Sou capaz de especular que a sua afirmação de surpresa com o que eu escevi seja um exercício de ironia, porque acredito que saiba tão bem como eu que, ao aceitar desempenhar um cargo público, como o de PR, um cidadão se obriga a fazer cumprir a Constituição com regras muito estritas sobre o que pode ou não pode fazer ou dizer enquanto o desempenhar.
Vou-lhe dar um exemplo mais radical do que este. Em Portugal o PR deve promulgar leis com as quais o cidadão não concorda (e o actual já o fez várias vezes) apenas porque o processo de produção dessas leis foi conforme à Constituição e o seu conteúdo não contém normas que a violem.
Mais radical ainda. Mesmo que o cidadão discorde de algumas normas da Constituição (o que provavelmente também acontece com o actual PR), o PR tem de a fazer cumprir.
Este PR nem é particularmente silencioso. Lembra-se concerteza de que ainda há pouco tempo disse uma verdade óbvia, que a situação da economia portuguesa estava a seguir uma trajectória insustentável, e inúmeras pessoas da área política que tende a discordar dele (bom dia, Joana!) se manifestaram indignadas com a "inconveniência" do seu discurso e das reacções que poderia desencadear nas agências de notação, essas mesmas que são diabolizadas pelas pessoas dessa área política, e com razão, pela forma como se desobrigaram de adoptar nas suas análises financeiras o rigor que lhes devia ser próprio e, devido a essa ligeireza, não impediram a venda de "gato por lebre" nos mercados financeiros que desencadeou a crise actual.
Ora tendo em atenção que a política externa é, nos termos da Constituição, conduzida pelo Governo, e consequentemente o PR só pode emitir mensagens que estejam alinhadas com ela, e que no jargão diplomático mensagens como as que eu escrevi significariam o corte de relações diplomáticas ou mesmo uma declaração de guerra, o PR não tem a liberdade de as fazer a não ser que o Governo determine que é essa a política a seguir.
No entanto, tendo em atenção os constrangimentos do cargo, até me parece que a mensagem citada pela Joana contém sugestões que vão bem além do incitamento de os empresários portugueses aproveitarem as oportunidades de negócio oferecidas por este país que potencialmente é riquíssimo, se bem que actualmente não o seja, essencialmente, por ter sido capturado pela elite currupta que ganhou o processo revolucionário angolano, que sem mais poderia significar partilharem os benefícios desse aproveitamento com a elite currupta, tendo apontado objectivos de desenvolvimento e melhoria das condiçlões de vida da população que, no fundo, significam a devolução de Angola aos angolanos.

Saudações liberais!

Joana Lopes disse...

Manel, Em relação ao que respondes ao MSP, julgo que és optimista na interpretação que fazes da frase, que citei, de Cavaco. Por isso, e como já disse mais acima, de acordo que o PR não pode dizer tudo - mas pode calar algumas coisas.

Miguel, Desce à terra, por favor… É melhor «acabarmos» com a República em que vivemos ? Hoje ou amanhã ? E para a substituirmos por quê, exactamente ? Denunciar cumplicidades e silêncios dos seus responsáveis, certamente, e tento fazê-lo muitas vezes. Mas sabendo que isso pode ser útil para o NOSSO posicionamento ético, não porque creia em qualquer efeito institucional a curto prazo. E «demolição» (da República) parece-me, de facto, um termo demasiado arrasador (no sentido estrito) para meu gosto: é preciso saber minimamente o que se pretende que ocupe o buraco deixado pelas escavadoras...

Saudações estivais...

Vitor M. Trigo disse...

No início destes comentários utilizei a figura Realpolitik.
Fi-lo consciente de que Realpolitik não significa o contrário de Unrelapolitik. De facto, nem sei se este termo existe. Realpolitik pressupõe o primado do poder, não do direito por exemplo.
A minha intenção não era dar nenhuma aula teórica (pessoalmente já estou um pouco farto de "teóricos" que a única coisa que fazem é praticar retórica inconsequente). Não é o caso dos amigos nestee debate, esclareço.
Mas, pegando na exposição do MVP, então parece-me que se pode concluir que a OCDE e o Banco Mundial, e o liberalismo, não deveriam colaborar com a China (mero exemplo, mas importante pela sua grandeza).
Abuso de raciocínio da minha parte? A China não é a negação do que o manel releva como " cartilha liberal"?

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Manuel,

esclarecido, mas não convencido.
Abraço


Joana,
creio que distorces, até à caricatura e mesmo para além do que nesse género é admissível, o meu post.
Eu não falei em demolir a república, mas no "trabalho de demolição" de uma interpretação do papel de Presidente que o impeça de assumir a prioridade da defesa de direitos fundamentais ou de denúncia dos despotismos ao nível internacional.
Não vejo que seja uma reivindicação menos razoável nem muito distante da tua posição. Mas, enfim, vou-me habituando a ter como resposta tua uma atitude do tipo da presente, sempre que exprimo uma coisa que, de acordo com o meu entendimento dos teus pressupostos, julgo que seria verosímil aprovares.
Se leres bem o que escrevi, não proponho nada de especialmente heróicco nem de propriamente inédito - ou de incompatível com o papel de primeiro magistrado de um regime constitucional europeu padrão.
O que escrei foi isto: "se a presidência de uma república (…) não pode dizer a verdade mais elementar em matéria de direitos e garantias e tem, pelo contrário, por necessidade inerente ou "funcional" legitimar ou "reconhecer" a tirania, então o melhor é acabarmos com ela, transformarmo-la radicalmente na sua definição e essência - ou pelo menos tentarmos desautorizá-la sem contemplações e desacreditá-la sem esmorecer". Seria curioso saber o que achas nisto chocante, excessivo ou desligado da terra.
A questão é tão comezinha e tão aquém de "fracturante" que nem preciso de te remeter para o teu post de há dias sobre os "Não discutimos" de Salazar, ainda que recordá-lo e assumi-lo só te possa tornar melhor leitora do que aqui escrevi. Quem aceita e estipula a discussão do mais não pode achar abusiva a discussão do menos. Ou pode - pelo simples facto de a discussão do menos ser proposta por alguém que diz coisas que, sabe-se lá porquê, parecem incomodar-te?

miguel sp

Joana Lopes disse...

Miguel,

É provável que tenha interpretado mal o que disseste. Excepto que eu não acredito que seja sequer possível esperar que uma «presidência» da República, em 2010, na Europa, na crise em que depende das várias Angolas deste mundo, assuma, pelo menos publicamente, «a prioridade da defesa de direitos fundamentais ou de denúncia dos despotismos ao nível internacional»: o mais que lhe peço é que SE CALE e não os apoie. Sou mais pessimista do que tu…

Manuel Vilarinho Pires disse...

Vítor,

A China é, por mais voltas que se possam dar à designação, um país comunista, uma ditadura. Não é nada que se pareça com um regime liberal.
É um país comunista muito rico, porque há muitos anos que produz mais do que consome, e à escala planetária.
Que parece ter percebido que não conseguia dar corpo à evolução que essa riqueza lhe potencia com o sistema económico comunista, e tem vindo a dar um papel crescente à iniciativa privada como motor do seu desenvolvimento económico.
Não sei se obteve ou sequer se solicitou alguma colaboração à OCDE ou ao Banco Mundial, ou ao FMI, nem sei se nas dimensões de análise que citei teria más notas em todas...
Já agora, acho bem esclarecer que não é por razões morais que estas instituições condenam ou promovem as práticas citadas, mas porque a ciência económica e a vasta literatura de estudos económicos promovidos por elas demonstram que travam ou estimulam o crescimento económico.

Joana,

De facto só conheço destas declarações do PR o pequeno excerto que publicaste, e não sei contextualizá-las nem interpretá-las na íntegra por não saber em que pensava ele quando disse o que disse.
Mas, nestas que citas, falar de desenvolvimento e na melhoria das condições de vida da população acrescenta algo de substancial à mera sugestão de aproveitamento de oportunidades de negócio em conluio com a elite currupta.
Mas não garanto a validade da minha interpretação.
Muito mais optimista sou por estar convicto que o crescimento da economia angolana vai necessariamente ultrapassar a capacidade de controlo da elite currupta, vai inapelavelmente recorrer à instalação de empresas e instituições multinacionais que não cooperam com a currupção, e vai acabar por enxotar a currupção como um empecilho que é...
Ou seja, estou convencido que Angola, que vive na desgraça de hoje por ser um país rico a saque, vai, por ser um país rico, atrair o capital internacional que, apesar de imoral ou, na melhor das hipótese, amoral, vai moralizar a sua vida.
Tendo a perfeita noção de que isto é uma expectativa optimista, tenho também a de que não me parece impossível, e ficaria muito contente se acertasse.

Miguel e Joana,

O presidente Lula, mesmo que não seja um génio da ciência económica, mesmo que de vez em quando exiba uma tolerância excessiva com os ditadores de esquerda da região, é inegavelmente um democrata.
Numa entrevista esta semana fez uma proposta de salvamento da uma condenada à morte por apredejamento no Irão, propondo ao seu "amigo" Ahmadinejad conceder asilo à senhora no Brasil.
Eu tenho algumas dúvidas sobre se este gesto não pode conter alguma demagogia, mas não me interessa discuti-las aqui, mas sim o facto de Lula, que é um democrata, não ter aproveitado a entrevista para denunciar as graves violações aos direitos humanos, e especificamente aos das mulheres, no Irão, e estender antes a mão ao salvamento da senhora.
O papel diplomático de um PR não é, ao contrário do que pode ser o de um líder religioso, a promoção da virtude e prevenção do vício, mas sim conseguir objectivos, por vezes decentes, negociando com outros PR, por vezes indecentes.

Um abraço aos três...

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Manuel,
sobre o seu comentário sobre a intercessão de Lula - que você interpreta como favorável à condenada à lapidação e eu como apoio ao Führer iraniano (mas Churchill, esse espelho de liberais, não agiu assim perante Hitler) -, poderá ler, se tiver paciência para tanto, este meu post: http://viasfacto.blogspot.com/2010/08/os-amigos-sao-para-as-ocasioes.html
Suponho que as nossas divergências se tornarão assim mais claras.

Um abraço para si

msp

Manuel Vilarinho Pires disse...

Bom dia, Miguel,

Se reler o meu comentário detectará facilmente, mesmo sem tentar intrepretar entrelinhas, que estou longe de ver a iniciativa do Lula a preto e branco, assim como o seu posicionamento perante a(lguma)s ditaduras.
Mas o paralelo com as posições de Churchill perante a Alemanha Nazi parece-me exagerado.
Churchill, um liberal que amava a liberdade (perdoe-me pegar na sua deixa, mas foi irresistível...) percebeu e não calou que a Alemanha se preparava para ameaçar a liberdade no mundo. Não foi a ditadura, mas a ameaça, que ele denunciou.
O Irão parece estar a tentar desenvolver armas nucleares, mas, ao contrário dos EUA, Israel e Fidel de Castro, não penso que tenha por objectivo desencadear um holocausto nuclear, mas sim de obter um seguro de vida contra a ameaça da potência nuclear vizinha, Israel.
Churchill propôs aos seus compatriotas um posicionamento perante a Alemanha que precedia naturalmente o corte de relações e mesmo a guerra, e é nesse contexto que se devem interpretar as suas declarações fortes e cheias de verdade.
Por outro lado, nem Lula quer declarar guerra ao Irão, nem Cavaco Silva quer declarar guerra a Angola, mesmo que pressuponhamos (o que nem é necessário) que não apreciam os regimes que governam esses países, pelo que não tem sentido esperar deles declarações como as do Churchill ou (só para ver se fico bem em bicos de pés...) as minhas (nossas, porque penso que concordamos com o que eu disse sobre Angola).

Um abraço,

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Manuel,
bom, eu estava longe de sugerir que Lula declarasse guerra ao Irão, ou Cavaco a Angola…

Bom fim de semana e abraço

msp