30.8.10

Nem tinham ficha na polícia



Para além disso:
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11 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Bom dia, Joana

O racismo existe. Isto não é novo. Quando é legal, é praticado mais ou menos abertamente, quando é ilegal, não é, ou está sujeito às consequências da lei.
Também não há nada de novo ao tomar conhecimento que o Sarkozy é um político racista e que a França é um país racista. Ele lançou a sua candidatura presidencial com um tema racista, e a França elegeu-o.
O que há de novo neste caso é que o que ele fez é legal. Porque é permitido pelos tratados de adesão.
E talvez a lição mais útil deste caso seja tentar perceber como dezenas de comissários, centenas de eurodeputados e milhares de eurocratas, para além dirigentes políticos dos países candidatos, deixaram passar nos tratados esta auto-estrada para o racismo.
E a estes temos o direito de pedir contas.

Joana Lopes disse...

de acordo, mas nada acontecerá porque serão sempre (?) os Sarkozys e as Merkels a escolherem os Barrosos e Cia. On tourne en rond...

Niet disse...

M.V. Pires: O Sarkozy não é racista, meu caro. É filho de um emigrante húngaro que gosta muito de música gitane, e não passa sem ela quando visita o seu filho PR em Paris. A candidatura do Sarkozy- em 2007- obedeceu aquele recurso estratégico consagrado pelo Bill Clinton: prometer tudo a todos, sabendo, de antemão, que só agradará aos capitalismos e seus apaniguados...A Comissão Europeia está preocupada e agoniada com o estilo de intervenção contra os Tziganes e outros estrangeiros. Ele próprio, regressado de férias, resolveu adocicar a sua táctica de afrontamento pelo escândalo internacional que despertou.Aconselho-o a ler o Le Monde, ou o Libération, especialmente as edições em papel, que cresceram muito em qualidade. Salut! Niet

Manuel Vilarinho Pires disse...

Bom dia, niet!
Se o Sarkozy é realmente racista ou não, não sei, mas também não é relevante.
As figuras públicas desempenham papéis num argumento e a história, aquilo que afecta as vidas dos outros, não é escrita pelos seus estados de alma, mas pelos papéis que desempenham.
Sarkozy apresentou-se ao eleitorado francês com o programa (argumento) de pôr na linha a escumalha imigrante, a França elegeu-o, e ele está a cumprir o programa eleitoral. Não está a ser mais do que o actor que desempenha profissionalmente o seu papel, o argumento do filme.
A minha referência às instituições europeias não representa qualquer ilusão sobre o papel da Comissão.
Olhando para o modo de escolha e para as personagens escolhidas, não é difícil perceber que outros valores mais altos que o combate ao racismo a movem.
O Conselho, muito menos.
Aquela mole de funcionalismo público pago a peso de ouro, e relativamente ao qual nunca se vêeem aparecer propostas de redução em número ou salário, parecendo viver num "bunker" anti-crise, também não tem competência para pôr em causa os tratados.
Mas o Parlamento tem! E os parlamentares foram eleitos por nós.
É do Parlamento que falo, e gostaria de saber se na altura da aprovação dos tratados algum dos nossos representantes se levantou contra as cláusulas que impedem o princípio mais fundamental da UE, a livre circulação, e abrem caminho à legalização de acções racistas como a da França, ou se os aprovaram de cruz.
Um abraço!

Niet disse...

Caríssimo MV. Pires: Smpre muito inteligente e excelente prosador, meu caro. Mas não pode nem deve esquecer,por todas as razões, a pesada lógica neo-liberal da Comissão perante um PE sugeito a todas as manigâncias dos estados-maiores trans-europeus(BCE, NATO,G20, lobbies agricolas e industriais, etc)...Aliàs, parece que existe mesmo agora um super-entendimento- quase clandestino e indizível- entre a Alemanha e a França para " limparem ", é o termo,grandes extensões de assistência social às Comunidades estrangeiras residentes...Há mesmo um ante-projecto de lei, a ser burilado em Paris,onde a Alemanha se esconde, et pour cause, que pode enviar milhares de emigrantes para o país natal, invocando austeridade financeira e crise social autóctene que impedem o país de acolhimento de pagar subsídios sociais de desemprego de longa duração. A velha Europa está mesmo um "mimo"! Grande abraço. Niet

Manuel Vilarinho Pires disse...

Niet (e Joana),

Eu compreendo bem o seu (vosso) desânimo com a Europa, por ter sido capturada pelos grandes países (mas atenção, é natural que os grandes países tenham um grande peso na Europa) e pelos grandes interesses económicos.
A arquitectura da Europa, construída como uma Europa de países, ou de governos, e não de cidadãos, presta-se a esta captura.
Como a arquitectura da democracia portuguesa se presta à sua captura pelos partidos e pelo governo.

Mas baixar os braços antes de ter usado todas as armas pode ser má iniciativa.
Os cidadãos europeus elegem o PE através do seu voto, mesmo que votando em listas de candidatos e não em candidatos individuais. Eu não sei quem é o meu deputado no PE, mas sei quais foram os deputados eleitos com a contribuição do meu voto. Como o Niet, como a Joana.
E o PE tem um poder quase insignificante (é a Rainha de Inglaterra das instituições europeias), mas tem algum poder.
Sou um leigo em direito, especialmente ignorante em direito comunitário, mas suponho que os tratados europeus, nomeadamente os de adesão, têm de ser sujeitos à aprovação do PE.
Ora se os tratados de adesão continham as cláusulas restritivas do direito de circulação que agora o governo francês utiliza para realizar legalmente os repatriamentos racistas, e se foram aprovados pelo PE, nós não podemos exigir do PE que os altere, mas podemos perguntar aos nossos deputados no PE o que fizeram na altura da aprovação relativamente a essas cláusulas. Se votaram contra os tratados, se votaram a favor com declaração de desacordo com as cláusulas, se as denunciaram publicamente, se se limitaram a aprovar de cruz, ou se concordam com elas.
Na melhor das hipóteses, da próxima vez estarão mais atentos ao que votam, porque sabem que os sues eleitores estão vigilantes. Na pior, deve ser divertido ver as suas respostas contorcionistas para fugir à responsabilidade que tiveram na aprovação.
O que é que acha(m) de endereçarmos uma carta ao(s) nosso(s) grupo(s) parlamentar(s) no PE a perguntar o que fizeram relativamente às cláusulas restritivas da circulação quando o PE aprovou os tratados de adesão da Roménia e da Bulgária?

Niet disse...

Caro M.V. Pires: Sinalizo com muito agrado o seu claro e progressivo descontentamento contra as flores de retórica da " atmosfera arficial do parlamentarismo ", como indicava o caústico K. Marx...Hoje- mesmo na edição On Line do Libération - há uns artigos do Jean Quatremer e uma entrevista com uma especialista da Imigração gaulesa que aprofundam o que tenho vindo a dizer. E que constitui uma reviravolta oportunista e indecente dos governos do " núcleo duro " da UE para " sacrificarem " ainda mais os factores de crise que asfixiam a vida económica e social dos países da orla do Mediterrâneo.Bom Dia e boas leituras! Niet

Manuel Vilarinho Pires disse...

Niet,

Não estou nada desencantado com o parlamentarismo, a minha crítica vai pelo contrário para os sistemas democráticos em que o parlamento é fraco e o governo forte.
Porque, se o parlamento é fraco, não quer, ou não consegue, exercer com eficácia a fiscalização do exercício do poder em representação dos eleitores e, sem fiscalização, o poder resvala para a satisfação dos interesses privados dos seus detentores, que muitas vezes podem ser potenciados através do benefício de interesses económicos privados.
Num sistema com a arquitectura do português, de listas de candidatos, a esmagadora maioria dos deputados é escolhida pelos seus partidos ao colocá-los em lugares de eleição garantida, ou quase, e os eleitores só têm capacidade para eleger os de eleição "tremida". Mais do que da apreciação do eleitorado sobre o seu desempenho, dependem do partido para conseguir a re-eleição. Como o partido maioritário, por seu lado, depende do governo, que tem toda a capacidade de distribuir dinheiro e vantagens, a maioria do parlamento está sempre dependente do governo e, portanto, não fiscaliza.
Num sistema de círculos uninominais, pelo contrário, cada deputado é re-eleito ou não pelos eleitores, pelo que é a eles que deve satisfazer com o seu desempenho individual.
A captura do sistema pelos interesses económicos, corporativos ou outros quaisquer é muito mais difícil se os eleitores forem exigentes com os seus eleitos, o que no sistema de listas é impossível.
Como vê, sou um firme crente no parlamentarismo... desde que a arquitectura do sistema não tenha capturado aos eleitores a capacidade de serem eles a escolher os parlamentares, todos os parlamentares.

Um abraço

Niet disse...

M.V.Pires, meu caro: Descortino sinais no seu discurso não só de grande desconfiança na democracia parlamentar; como da empertigada determinação em desmistificar o " complot permanente " do Estado contra os assalriados e o povo em geral, crítica alvo e histórica de Bakounine...Temos " gauchiste ". Que bom ! Niet

Manuel Vilarinho Pires disse...

Niet, lamento desapontá-lo...
A minha persistência, que me faz repetir-me, por vezes se calhar até à náusea, não é uma questão de "gauchisme".
Na verdade, o que manifesto é uma preferência pela arquitectura do parlamentarismo de "her Majesty".
Pior ainda, uma enorme admiração pela transparência do sistema político americano, pese embora estar cheio de anacronismos, resultado de ser democracia já com uma certa idade...
Mas atracção NENHUMA por sistemas alternativos ao parlamentarismo, e muito menos pelo parlamentarismo de partido único, o pior de todos os sistemas, porque é o totalitarismo travestido de democracia, que tem sido o mais preferido pelos "gauchismes" (quando chegam ao poder).
Já agora, e como anunciei previamente que sou persistente permito-me sê-lo, já começou a pensar no conteúdo da carta a enviar ao seu Euro-deputado a pedir contas sobre o que fez relativamente às restrições ao direito de circulação que ficaram nos tratados?
Um abraço!

Niet disse...

Meu caro M-V. Pires: Preparo resposta para o seu britânico estilo político. Olhe que o Finantial Times tem coisas fabulosas. No outro dia, reortei um artigo do Tom Peters- o guru dos gurus da gestão dos anos 80- em que ele dizia, entre outras coisas, que a delicadeza, a pertinácia e a audácia eram dados essenciais da conquista...de mercados, de políticas e de felicidade, meu caro! Boas leituras! Niet