22.8.10

Sakineh Ashtiani?


José Sócrates, conhece Sakineh?
Há uma explicação cínica para a liderança da Inglaterra na luta pela abolição da escravatura: seria porque as suas cidades manufactureiras Manchester e Liverpool tinham interesse em aumentar o mercado consumidor nas Américas. É uma explicação simplista, baseada na tese de que do capitalismo não podia vir uma boa causa senão pelo interesse cúpido. Na verdade, a luta anti-esclavagista foi liderada por gente movida por ideias generosas. Em 1787, foi fundada a Sociedade para a Abolição do Tráfico de Escravo, por 12 ingleses, religiosos quakers, animados só por esta ideia: a escravatura é bárbara. Fizeram petições à Câmara dos Comuns, mostraram o que eram os navios negreiros... Em 20 anos foi possível convencer a Inglaterra, e o tráfico no Atântico foi abolido em 1807. Em 30 anos, desde que foi fundada, a República Islâmica do Irão já matou à pedrada 150 pessoas. No próximo sábado, numa centena de cidades de todo Mundo, entre elas Lisboa, vai protestar-se contra a lapidação da iraniana Sakineh Ashtiani. A escravatura e a lapidação de pessoas pertencem ao mesmo mundo bárbaro. A dimensão de ambas não é comparável - à partida, parece mais fácil acabar com as mortes à pedrada. Então, o que nos falta? Se calhar, a convicção dos quakers para influenciar os nossos governantes. Sim, porque é a estes que temos de dizer: lapidação, não, não pode ser. Eles que façam o resto.
(realce eu)
Ferreira Fernandes, no DN.

Com algumas (poucas) excepções, os governantes de países paladinos na defesa dos direitos humanos mantêm-se indiferentes a este caso que mobiliza multidões no mundo inteiro. Posso estar enganada, mas julgo que nem mesmo a União Europeia disse, até agora, uma só palavra.

Dir-se-á que lapidações há muitas, mas a história aí está para provar que há situações que funcionam como símbolos e que fazem a humanidade dar passos em frente.

No nosso caso, o que parece interessar são os gritos Sócrates / Passos Coelho e Luís Amado deve estar algures em férias, de persianas corridas. E o Irão tem petróleo.

Pretexto também para recordar o protesto em Lisboa, no Sábado, 28 de Agosto, 18h, Largo Camões.

E para deixar uma pergunta, aqui como já o fiz dez vezes no Facebook:
«Outras cidades do país, conhecem Sakineh?»
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1 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

(Vou fazer um comentário cínico para me tentar redimir da aparente falta de humor de um comentário anterior)
No caso do Irão, mesmo a França, o histórico campeão da defesa dos direitos humanos, da liberdade, da fraternidade, e da igualdade, está de mãos atadas porque, além de ter petróleo, o Irão anda cliente da construção de centrais nucleares...