29.10.10

Ontem, com o Nuno


O auditório da Ordem dos Arquitectos foi pequeno para as muitas dezenas de pessoas que prestaram homenagem a Nuno Teotónio Pereira. Sobretudo colegas, mas também numerosos amigos que se espalharam por cadeiras, recantos e escadarias.


Foi um homem velho e doente, de 88 anos, que esteve presente na sessão de ontem. Com dificuldade em andar, cego desde há cerca de um ano e meio. E, no entanto, quando falou, durante vinte e cinco minutos, sem poder recorrer a qualquer espécie de apontamentos por razões óbvias, esteve ali com toda a lucidez e simplicidade, como sempre solidário com tudo e com todos. Disse e redisse, nem sei quantas vezes e de diversas maneiras, que nunca tinha querido fazer nada sozinho e que por isso tinha orgulho em não ser o único autor de muitas das obras referidas e elogiadas.

Sempre foi assim, na profissão e no resto da vida: impulsionador e dinamizador de equipas como nunca conheci outro, militante de uma persistência quase impossível nas causas em que se empenha, certamente uma das pessoas que mais admirei e admiro neste mundo.

Foi duríssimo o golpe que a vida lhe deu e só ontem me refiz do arrepio que me fulminou quando me telefonou, em Abril ou Maio de 2009, para me dizer muito simplesmente: «Entrei nas trevas». Custou-lhe muito aceitar o que lhe aconteceu. Mas levantou a cabeça e regressou à luta. Inteiro como sempre.
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5 comments:

maria disse...

Um belo testemunho, Joana.

Jorge Conceição disse...

Revejo-me totalmente no testemunho da Joana, sendo eu um dos muitos beneficiários da sua amizade e da sua acção. Mesmo em coisas tão pessoais, como (por ordem cronológica inversa):
- o "tipo" do meu casamento, a sua preparação em sua casa e a lojística posterior (por exemplo, a utilização do Fiat 600 da Natália e da sua casa de Marvão)
- a decisão da minha participação ou não na Guerra Colonial
- o apoio escolar, na cedência de elementos pormenorizados e muitos eslarecmentos sobre a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Santa Marta, que me permitiram fazer um trabalho final na cadeira de Arquitectura totalmente diferente dos habituais "calistos" (as igrejas de Fátima e de S. João de Deus)
- etc., etc..
- Mas sobretudo a amizade que sempre me dispensou ele - e a Natália e também os filhos (sobretudo a Luísa, por ser mais velha), que me conheciam pela alcunha do "agente secreto do Porto"...

(Desculpa ter sido tão oportunista ao usar este espaço para dizer isto, Joana, mas foi a possibilidade imediata de registar um pouco da minha gratidão pelo que referi e por muito mais).

Joana Lopes disse...

Obrigada, Jorge, o teu testemunho é excelente e bem exemplificativo do que quis dizer.

António P. disse...

Belo texto, Joana.
Não consegui ir à homenagem mas daqui vai um abraço para o Nuno.
Bom fim de semana.

mdsol disse...

Faço minhas as palavras da Maria

:))