12.11.10

Lamentos


«Almeida Santos, presidente do PS, lamenta, referindo-se às medidas recessivas do OE para 2011, que o Governo, por ter feito "aquilo de que o país precisa" (palmas) "[vá] perder popularidade, [vá] perder votos, porventura [vá] perder o poder".

Há mais gente, a crer nos jornais, que também lamenta. Jardim, por exemplo, lamenta que o Estado seja "ladrão". E Manuela Ferreira Leite, lamenta que estejamos (sinal da Cruz) a viver "um espírito de PREC". Quando as coisas correm mal a factura acaba sempre, mesmo quase 40 anos depois, por cair em cima de Vasco Gonçalves...

O Estado é um "ladrão" e o assustador fantasma do PREC levantou-se do túmulo para assombrar Jardim e Ferreira Leite porque um e outro não poderão, a partir de Janeiro, continuar a acumular a cornucópia de pensões e salários que recebem do Estado. Ora, esclarece Ferreira Leite, "se recebem é porque trabalharam" e trabalham (o que, como se sabe, não acontece com os funcionários públicos nem com os idosos com pensões de miséria congeladas).

Nem Almeida Santos, Ferreira Leite ou Jardim lamentam, até onde é visível a olho nu, que, como denunciam os bispos, haja quem acumule "remunerações, pensões e recompensas exorbitantes" quando "ao lado estão pessoas a viver sem condições mínimas de dignidade". Isso, para Almeida Santos, é "aquilo de que o país precisa" e, para Ferreira Leite, um "tratamento inevitável". Não é caso para lamentos.»

Este texto de Manuel António Pina, no JN de hoje, leva-me a um comentário ad latere: considero absolutamente insuportável ouvir ou ler o «choradinho» de muitos, certamente atingidos por corte de salários e subidas de impostos, mas que nem sequer deram muito por isso até agora, continuam a ter a mesma vida mais do que confortável, mas dizem que estão já a contar os cêntimos - o Facebook parece por vezes um verdadeiro muro de lamentações! Tipicamente português, marcas do fado que nos marca o destino ou algo de semelhante. Mas será bem mais desejável um pouco de decoro quando tantos milhares perderam já o emprego e não sabem como viverão amanhã. Ou não?
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