22.11.10

Optimismo intercontinental


Com pouco tempo para ler notícias, percebo no entanto que os espíritos andam cada vez mais cinzentos e que o fantasma do FMI se aproxima na opinião de quase todos, com a Irlanda por aí tão perto. (Quase todos, claro, porque o nosso PM continua inabalavelmente esperançoso e confiante.)

A distância torna-me optimista: estou num país que viveu uma crise colossal há apenas dez anos, que teve por cá o dito FMI, sofreu muito mas não desapareceu do mapa. Pelo contrário: é hoje próspero (embora não tanto como poderia, segundo leio), Buenos Aires tem uma enorme vitalidade e deixa Lisboa a quilómetros de distância em termos de qualidade urbana. Puerto Madero (antigas docas) cresceu muito nos últimos anos, tem agora três quilómetros de restaurantes e habitações de luxo, uma marina, hotéis dos melhores arquitectos do mundo – claros sinais exteriores de riqueza, portanto, e de saída da fatídica «crise».

Claro que os condicionalismos são diferentes, aqui não havia pelo meio o complicómetro de Bruxelas nem os interesses da senhora Merkel, mas existiam outros problemas bem graves.

Quero dizer com isto que desejo a entrada do FMI? Não: apenas lembrar que o mundo não vai acabar por aí amanhã, sem FMI ou com ele, embora se tenha um pouco a sensação contrária quando, a distância, se dá uma volta pelas gordas dos jornais e por alguma blogosfera…

(Foto: Puerto Madero, onde vou agora jantar…)
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5 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Maria, qualquer dia apanho-te a fumar!
Então o FMI não é um papão? Não tem sido frequente ultimamente, mas desta vez estamos de acordo. Se é preciso fazer sacrifícios, não porque nos são pedidos ou impostos de fora, mas para sair du buraco aonde nos metemos, o FMI não aumenta o tamanho do buraco mas, ao vigiar os manhosos que tentam sempre meter a mão na caixa das esmolas, reduz o tamanho dos sacrifícios exigidos aos outros. Com contas certas é mais fácil chegar ao fundo do túnel.
Onde não concordamos é em interpretar os sinais exteriores de riqueza como prova da saída da crise. Isso seria verdade se a distribuição de riqueza se mantivesse constante ao longo da crise. Mas essa hipótese está muito longe de ser a mais provável, de modo que os sinais exteriores de riqueza podem apenas significar que alguns já sairam da crise (onde provavelmente nunca terão chegado a entrar...).
Boas férias!

Unknown disse...

Em Agosto de 2004 tive dificuldades em pagar mais de 10 € num restaurante "semi-luxo" de Puerto Madero! Ao ver os preços da lista quase hesitei em entrar!! Estou curioso quanto vais pagar hoje
José Carlos Godinho

Joana Lopes disse...

José Carlos, NADA a ver com os preços de 2004!

Joana Lopes disse...

Manel,
1 - Parece tão óbvio que o FMI vai chegar a Portugal que me parece inúti considerar outra hipótese de trabalho.
2 - Mais vale começar a lutar já também contra ele, «com as armas que temos na mão».
3 - Não há crises que sempre durem e Portugal, como os outros, sairá também desta (razão para o meu «optimismo»).

Manuel Vilarinho Pires disse...

Joana, bom dia (aí, que aqui está escuro, frio e chuvoso)

Oufff... por momentos, cheguei a pensar que, como eu, achavas que na circunstância actual a vinda do FMI trazia mais vantagens do que desvantagens!
Lutemos então contra o FMI, como o doente luta com o cirurgião que lhe vai amputar o membro gangrenado.
Não há crises que sempre durem? Acreditemos nisso sem exigência de prova. Mas numa crise há muita gente que leva pancada, pelo que, se a crise for planeada e fiscalizada por profissionais rigorosos e vigilantes, em vez de se prolongar indefinidamente por impor a uns sacrifícios que outros vão dissipando, demorará menos, e é melhor para os que vão (estão a) levar pancada.