2.10.10

Conselho


Nos tempos que vão correndo, Ladrões de Bicicletas é o blogue a ser lido, todos os dias, por todos os que estão fartos dos economistas e comentadores de serviço em televisões e jornais.
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Enigmas nortenhos


Nada tenho quanto a diferenças de sotaques, mas não sei por que mistério, histórico ou anatómico, as gentes do Porto têm tanta dificuldade em distinguir o presente do indicativo do respectivo pretérito perfeito, e usam quase sempre o primeiro, mesmo quando se referem a actos passados.

Se me é relativamente indiferente saber se alguém me está a querer dizer que almoça todos os dias com a família no restaurante x, ou se só fez nesse dia («almoçamos» em vez de «almoçámos»), já me interessa um pouco mais saber se o dr. Teixeira dos Santos e seus muchachos já pensaram ou ainda estão a pensar, já avaliaram ou ainda estão a avaliar, etc., etc. etc.

Ou talvez seja melhor eu ficar na dúvida, sei lá…
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Com mais um «s»


Era «o Mercado» que comandava o mundo e, mal ou bem, concordando ou combatendo, sabíamos que a regra do jogo era a sacrossanta lei da oferta e da procura.

A realidade foi mudando subtilmente e passou-nos do singular para o plural: são agora «os Mercados» que tomam conta de nós, que nos governam, são eles que temos de cortejar, convencer, sossegar, é por eles que se imolam vítimas, a eles que se levam oferendas. Com agravo e, aparentemente, sem apelo. Estranhos monstros, sem rosto e inimputáveis.

Não estaremos a bater mesmo no fundo?
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Premonições (óbvias)


Por conversas no Facebook, regressei ontem a um texto que eu própria escrevi, há quatro anos, depois de uma viagem à Costa Rica.

Trata-se de um país muito especial no contexto da América Latina e mantenho o que então resumi (sem ter tido a preocupação de actualizar alguns dados estatísticos), para chegar ao parágrafo final.

«O país tem quatro milhões de habitantes, é pouco maior do que metade de Portugal e cerca de um terço da sua área é protegida ecologicamente. (…)

A Costa Rica é considerada um caso de sucesso e percebe-se porquê: além do Atlântico e do Pacífico, «entalam-na» o Panamá e a Nicarágua, vizinhos não muito desejáveis. Entre guerrilhas sandinistas de um lado e Noriegas do outro, a Costa Rica mantém uma sólida democracia desde 1949. Entrou nesse ano em vigor uma constituição que atribuiu direito de voto universal aos dezoito anos (inclusive às mulheres e aos negros) e que aboliu as forças armadas. Iniciou-se assim um historial de pacifismo, especialmente significativo no contexto geoestratégico em que o país se insere. (…)

Vários indicadores revelam o sucesso de que se fala. Apenas um e dos mais significativos: o grau de literacia é muito superior ao dos vizinhos mais próximos e ultrapassa também o de Portugal: 96% versus 93,3%, com os mesmos critérios, devido a uma diferença de 5%, no caso das mulheres, a favor da Costa Rica!... Aliás, a aposta na educação desde 1949 é apontada como uma das causas do referido sucesso e faz com que, a par do turismo e da agricultura, a indústria de «microchips» e o desenvolvimento de «software» estejam já entre as principais fontes de receita. As telecomunicações são excelentes (tive cobertura de rede de telemóvel e «roaming» mesmo no meio da selva) e, num dos hotéis em que estive, paguei $12 por uma sopa mas a utilização da Internet era gratuita e ilimitada. A estabilidade política, os elevados níveis de qualificação das pessoas e o turismo atraem cada vez mais investimentos estrangeiros. O índice de pobreza terá diminuído significativamente nos últimos quinze anos e a taxa de desemprego é inferior à portuguesa.»

E chego agora ao parágrafo final que o meu interlocutor de ontem qualificou como «premonitório»:

«A Costa Rica é um país modesto. As estradas são más (péssimas, por vezes), a arquitectura de luxo não passou por ali, as povoações são aglomerados feiosos, as pessoas têm um ar muito simples. Visto a distância, Portugal parece um país de milionários, Lisboa é Paris quando recordada em S. José. Qualquer coisa está errada: ou uns vivem abaixo do que podem, ou os outros acima. De que lado estará o erro? Daqui a alguns anos, alguém verá. Eu tenho a minha opinião – oxalá me engane.»

Isto foi escrito em 2006 e, infelizmente, creio que não me terei enganado.
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As Cidades e as Praças (9)



Plaza Grande, Quito (2004)
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1.10.10

Tempos agitados, estes?


Sem dúvida. E sem grandes esperanças, o que é mais grave.

Num registo completamente diferente, a agitação não era menor há 35 anos - três décadas e meia que me parecem agora pelo menos um século. Mas a distância e a memória do passado ajudam a perceber em grande parte o presente. Pelo menos comigo, e neste preciso momento, é exactamente assim.

Menos de dois meses antes do fim do PREC, no dia 1 de Outubro de 1975:

Chegam (de madrugada) ao comando da 1.ª Região Aérea dois pelotões de pára-quedistas do Depósito Geral de Adidos da Força Aérea (DGAFA), para montar segurança a Monsanto, onde estavam o vice-almirante Pinheiro de Azevedo, major Melo Antunes, Mário Soares, Magalhães Mota e entidades civis e militares que ali pernoitam nos subterrâneos, devido a rumores de golpe de Estado.

Manifestação em Beja de apoio ao Poder Popular e repúdio pelas decisões do «governo burguês», convocada pelo Secretariado das Inter-Comissões de Trabalhadores e Moradores de Beja, apoiada pela FUR, UDP, ORPC (m-l) e Sindicato dos Professores, com a presença de soldados da Base Aérea 11, soldados do Regimento de Artilharia de Beja e dos SUV, num total de 2.500 pessoas.

49 soldados da Base Aérea de Beja, por terem participado na manifestação, são castigados e transferidos da unidade.

Nota de imprensa da UDP intitulado “Esmaguemos a Ofensiva Reaccionária do VI Governo!” a repudiar a ocupação militar das estações de rádio e televisão, o silenciamento da Rádio Renascença, os incidentes repressivos junto a São Bento quando os comandos avançaram com as chaimites contra os manifestantes deficientes e a prometer continuar a lutar «em frente na defesa das conquistas populares».

O MES faz a análise da situação política numa extensa nota intitulada “Contra os Fascistas, os Capitalistas e os Falsos Socialistas, Ofensiva Popular! O Golpe de Direito Não Passará”.

Comício no Campo Pequeno, em Lisboa, para comemorar o 5.º aniversário da fundação da Intersindical Nacional.


Antes que seja tarde


Está mais do que decidido: enquanto o dr. Teixeira dos Santos não põe o IVA em 50%, porque ainda ninguém disse que a Segurança Social vai deixar de pagar reformas e antes que o engº Sócrates seja obrigado a mandar apagar as luzes da Portela, vou pôr-me a caminho, lá para Novembro, de regresso a dois países em que já estive mas que adoro: Argentina e Chile.

Destino pouco exótico e menos radical do que os das minhas últimas viagens? É bem provável que não. Andarei pelos lagos andinos, dos dois lados da fronteira, também pelo deserto de Atacama (quando os mineiros já tiverem saído da mina, assim o espero por eles…), a umas altitudes razoavelmente elevadas e com percursos e horários que talvez não sejam muito amenos.

Acabarei em Santiago do Chile e começarei em… Buenos Aires, cidade inigualável, que merece tudo o que puder ser dito a seu respeito - uma das minhas top five in the world, sem qualquer espécie de dúvida nem o mínimo grau de hesitação.
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Yes or No, Prime Minister?



Ontem, durante o debate na Assembleia da República, disse (ou melhor: gritou e eu ouvi): «Nunca virei a cara à luta e nunca me passou pela cabeça qualquer intenção de me ir embora. Nunca, em nenhuma circunstância.»

Algumas horas mais tarde, «um comunicado do gabinete do primeiro-ministro reitera o que José Sócrates disse em Nova Iorque há uma semana», ou seja, que «se demite se o Orçamento do Estado for chumbado».

Por uma vez, totalmente de acordo com Mário Soares: não estamos em era de vintage
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As Cidades e as Praças (8)


Praça Durbar, Patan (2005)
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30.9.10

Estoicismos


Desta vez, tocou a rebate e nem ela escapou:

«Hoje, perante a monstruosidade do problema, sinto que não estamos em tempos para tergiversar:
- É tempo de todos os socialistas se unirem, estoicamente, em apoio ao Primeiro Ministro, pela agrura de ter de decretar medidas duríssimas e de arrostar com incompreensão e impopularidade.»

Agrura para o PM? Extraordinário – é tudo quanto se me oferece dizer…
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Emalar a trouxa e zarpar

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Não é preciso saber de finanças, nem ter grande biblioteca


… nem ser consultor da Ernst & Young, para perceber este tipo de conclusões:

«O crescimento do desemprego na segunda metade do ano, associado à aplicação de medidas de austeridade para controlo do défice vai fazer com que Portugal volte a entrar em recessão ainda antes do final do ano. (…)

O crescimento esperado da economia para 2010 é de apenas 0,7% - apesar do forte crescimento no primeiro semestre - e haverá um recuo de 0,7% em 2011. (…) As previsões da consultora explicam-se pelo facto de "o crescimento [do PIB] na primeira metade do ano se ter feito pelos motivos errados". "Havia uma série de expectativas por parte dos consumidores e empresas que não se cumpriram e isso terá efeitos negativos, nomeadamente o regresso a uma recessão". (…)

Caso o Governo não tivesse apresentado ontem medidas adicionais de controlo da dívida pública, seria "improvável" que Portugal fosse capaz de cumprir a meta de 7,3% do défice estabelecida para este ano.»

Ou seja: não há mais vida para além do défice, coisíssima nenhuma!

P.S.1 – Leitura indispensável: A caminho da destruição do euro?

P.S.2 - Entretanto, ouvi alguém da E&Y dizer que estes números foram obtidos antes das declarações de ontem à noite e que a situação piorará consideravelmente depois delas.
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Imprimir e colar na porta do congelador


«O povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre.»
Almeida Santos, Presidente do PS

Para memória futura. A digerir durante os próximos meses.
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As Cidades e as Praças (7)




Rockefeller Center, NY (1986)
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29.9.10

Aux armes, etc.

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Aux Armes Et Caetera

Allons enfant de la patrie
Le jour de gloire est arrivé
Contre nous de la tyrannie
L'étendard sanglant est levé
Aux armes et caetera

Entendez-vous dans les campagnes
Mugir ces féroces soldats
Ils viennent jusque dans nos bras
Egorger nos fils nos compagnes
Aux armes et caetera

Amour sacré de la patrie
Conduis soutiens nos bras vengeurs
Liberté liberté cherie
Combats avec tes défenseurs
Aux armes et caetera

Nous entrerons dans la carrière
Quand nos aînés n'y seront plus
Nous y trouverons leur poussière
Et la trace de leurs vertus
Aux armes et caetera
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Alô China, aqui Portugal


A ser verdade o que vários jornais divulgaram (já passaram 24 horas e ainda não li desmentidos), o Ministério da Educação oferece lugares para auxiliares de educação e assistentes operacionais, pagos com um salário bruto de três euros / hora.

Não sei se haverá candidatos ou não (é bem provável que sim, dado o estado geral das coisas), mas parece-me que estamos a descer a patamares salariais dignos de Chongqing ou de Tole Sap.

E eu que pago mais do que o dobro a quem vem a esta casa, umas horas por semana, para a manter minimamente habitável, não posso deixar de pensar que há algo de errado neste reino bem longe da Dinamarca…
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Viva o Benfica!!!!!!!



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E o jogo continua


… e promete estar especialmente animado hoje e nos próximos dias.

«As últimas semanas foram copiosas em demonstrar que Portugal é um país para se levar pouco a sério. Dois rapazolas transformaram-no num terreiro de berlinde, cada um com um abafador que destinará quem venceu. O pior é que ninguém ganha e todos estamos a perder. Um deles possui um sentido circense que legitima todo o faz-de-conta. O outro manifesta uma devoção ingénua pelo poder que, na realidade, não possui. Ambos resultam desse milagre convencional que nos fez reféns de dois partidos desprovidos de grandeza, intelectualmente asténicos e politicamente impostores. (…)

Estamos perante um imbróglio perturbador. E o dilema é este: como se passa do patológico para o normal? Ignoramo-lo. Desde a aparição mística do dr. Cavaco que aumentou o perigo de uma sociedade amolgada. Aquele senhor alimentava (e alimenta) um distorcido entendimento do que é a democracia. A década em que foi primeiro-ministro saldou-se pela recusa da modernidade e pela imposição de uma rigidez emocional que ainda hoje persiste. Pedra e betão substituíram a alma e a coragem.»
Baptista-Bastos, no DN.
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28.9.10

As eleições na Venezuela, ainda


Publiquei ontem um pequeno post sobre os resultados das eleições na Venezuela, que provocou uma longa discussão no Facebook.

Regresso ao assunto por me ter sido enviado entretanto um vídeo revelador dos métodos e atitudes de Hugo Chávez (onde nem o machismo está ausente), numa espécie de conferência de imprensa em que (não) respondeu a uma jornalista que o interpelou precisamente sobre um dos aspectos mais controversos que ontem referi: a alteração da lei eleitoral, que permitiu aumentar, escandalosamente, o número de deputados das regiões que lhe são mais afectas.



A ler: um texto de Pedro Filipe Soares.
«Quando Hugo Chávez mistura aprofundamentos socialistas nas propostas de alterações à Constituição, com reforços do poder presidencial e da autocracia do Estado, reduz o debate ao populismo, e o Socialismo à sua permanência no poder. Quando vê a proposta de revisão constitucional chumbada pela primeira vez e, apenas dois anos depois, força novamente a votação, demonstra que para ele a Democracia é apenas uma forma de legitimação da sua vontade.
No país onde Socialismo se confunde com o populismo de Chávez, houve uma sondagem em 2009 onde 70% das pessoas indicavam que ninguém lhes tinha explicado o que era uma Democracia Participativa nem o Socialismo do séc. XXI. Um ano depois, a direita cresce para níveis assustadores de representação eleitoral. Não basta a socialização económica, para que o Socialismo seja vitorioso. Sem uma socialização política, onde a consciência e a prática democráticas sejam aprofundadas, não há Socialismo do Séc. XXI que resista.»
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Há 36 anos


Este senhor ajustou o monóculo e preparou-se para a debandada.
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Até Cavaco trauteia, antes da oração da noite

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«Direitos interessantes» para António Barreto


O sociólogo de serviço à nação terá afirmado ontem que saúde, educação gratuita e habitação são direitos importantes e interessantes mas que «"não são compatíveis" com o actual estado das finanças públicas».

«Absolutamente invioláveis» seriam «o direito à privacidade, à integridade humana individual, direito à boa reputação, de voto, de expressão, de circulação».

Correndo conscientemente o risco de demagogia, diria que sem dinheiro para medicamentos, para pagar escolas ou o tecto de uma casa para viver, muitos estariam dispostos a prescindir de alguns dos tais direitos invioláveis – que são mais ou menos gratuitos, eu sei.

Barreto prevê, parece aprovar e ajuda-nos a visualizar uma Europa de homens certamente livres mas eventualmente doentes, ignorantes e mais ou menos clochards. É isso, não é?
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Sakineh – Venceu a barbárie


A notícia caiu ontem: Sakineh Ashtiani será enforcada, por condenação de cumplicidade no assassinato do marido.

Valeria / valerá ainda a pena protestar com esperança de impedir a concretização da sentença? Cruamente, em termos de eficácia, julgo que não. Talvez nós, cidadãos do mundo, tivéssemos podido fazer mais e nenhum «poderoso» conseguiu, ou quis conseguir, demover Mahmud Ahmadinejad.

Há muitas Sakineh’s à espera nos corredores da morte, no Irão e não só. A luta continua.
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As Cidades e as Praças (6)



Petit Sablon, Bruxelas (..., 1987,...)
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27.9.10

Haverá sempre vento, sol e água do mar



Mais vale rir por hoje, enquanto não se assimila a barbaridade do que está para acontecer:


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Se non è vero...

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Un problemita, camarada Hugo


Teria sido necessário que o partido de Hugo Chávez conseguisse eleger 110 deputados, ontem, na Venezuela, para controlar dois terços do Parlamento e assim para poder fazer aprovar determinadas leis orgânicas e controlar algumas nomeações, sem ser obrigado a negociar com a oposição que vai agora ocupar 64 dos 165 lugares em jogo (resultados provisórios). Isto apesar de a lei eleitoral ter sido alterada de modo a aumentar o número de deputados das regiões tradicionalmente mais fiéis ao presidente – não foi suficiente...

Em 2005, a oposição não concorreu e a abstenção foi elevadíssima, desta vez foi a menor de sempre.

Lá se foram os cheques em branco, o que acontece aos melhores... Seja qual for o balanço que seja feito da actuação de Chávez, houve ontem uma pequena vitória da democracia e uma derrota do populismo.

(Fonte), entre outras.

P.S. – A discussão deste post no FB vai, neste momento (19h30), com 38 comentários. Endereço para quem tiver acesso.
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As Cidades e as Praças (5)



Praça dos Trabalhadores (antiga MacMahon), Maputo (..., 2002)
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26.9.10

Bruxelas, Setembro 29 - alguma saída à vista?


Na próxima 4ª feira, dia 29, a Confederação Europeia de Sindicatos (CES) organiza um protesto em Bruxelas («Não à Austeridade»), onde são esperados mais de 100 mil sindicalistas europeus. Em vários países, Portugal incluído, estão também previstas acções de luta própria. Em Espanha, está convocada uma greve geral - para alguns, «a mais necessária desde que há democracia».

No mesmo dia tem lugar, também em Bruxelas, uma reunião dos ministros das finanças europeus, durante a qual, sabe-se agora, Durão Barroso deverá «propor que os países membros da Zona Euro com desequilíbrios orçamentais importantes passem a depositar dinheiro em depósitos bancários que só será devolvido se a situação for corrigida rapidamente». «O projecto (…) prevê um sistema de sanções que estipula, por exemplo, que um Estado-membro deve abrir um depósito bancário com um montante equivalente a 0,2 por cento do seu Produto Interno Bruto (PIB), se o crescimento da sua despesa pública for muito superior ao do da sua economia». «Se o défice orçamental ultrapassar o limite máximo autorizado de 3,0 por cento do PIB, o país em causa deixaria de receber os juros associados ao depósito e poderia mesmo perder o montante depositado.» Etc., etc., etc.

No estado actual das coisas, as medidas agora pré-anunciadas só poderão agravar a «Austeridade» que se pretende ver diminuída e contra a qual se protesta.

Bruxelas não muda de agulhagem, pretende vencer sem sequer tentar convencer. Isto não vai acabar nada bem.
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Nobel da Paz para a Internet?


Os mais distraídos talvez já tenham esquecido que a Internet está nomeada para o Prémio Nobel da Paz 2010, cujo vencedor será anunciado já no próximo dia 8 de Outubro – uma entre 237 propostas, das quais 38 dizendo respeito a organizações.

Hipóteses (poucas…) de vitória à parte, e polémicas quanto ao significado e às políticas de bastidores que estão sempre envolvidas entre parêntesis, não deixaria de ser interessante que fosse reconhecido a força e o papel que ela tem representado, nomeadamente em momentos-chave da vida de países onde os direitos humanos são espezinhados. Para dar só um exemplo: quem não recorda a importância da utilização do Twitter na repressão que se seguiu às últimas eleições no Irão?

Existe um site ligado à candidatura, onde se pode subscrever um Manifesto:

We have finally realized that the Internet is much more than a network of computers.
It is an endless web of people. Men and women from every corner of the globe are
connecting to one another, thanks to the biggest social interface ever known to humanity.
Digital culture has laid the foundations for a new kind of society.
And this society is advancing dialogue, debate and consensus through communication.
Because democracy has always flourished where there is openness, acceptance,
discussion and participation. And contact with others has always been the most
effective antidote against hatred and conflict.
That's why the Internet is a tool for peace.
That's why anyone who uses it can sow the seeds of non-violence.
And that's why the next Nobel Peace Prize should go to the Net.
A Nobel for each and every one of us.




P.S. – Cheguei a tudo isto através de Yoani Sánchez, uma vez mais impedida de sair de Cuba para participar em vários eventos, um deles relacionado precisamente com esta candidatura ao Nobel da Paz. Talvez a autorizem agora a abrir um cabeleireiro privado, mas continua a não poder passar no controlo de passaportes do aeroporto José Marti.
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E foi assim que Marcelo Caetano sucedeu a Salazar (26/9/1968)


No dia 26 de Setembro de 1968, às 20:00, Américo Tomás anunciou a substituição de Salazar por Marcelo Caetano, num curto e tétrico, mas absolutamente histórico discurso que aqui se reproduz (com a qualidade possível…).


No dia seguinte, às 17:00, tomou posse o novo governo e começou a chamada «Primavera Marcelista».

Das reacções que se seguiram, retenho um dossier especial de O Tempo e o Modo, publicado pouco depois, durante o quarto trimestre de 1968. Para além de um «Filme dos Acontecimentos» entre 7 de Setembro («Sua Excelência foi operado esta noite de um hematoma») e 6 de Outubro («O estado clínico do Presidente continua estacionário»), este nº 62-63 da revista contém depoimentos de várias pessoas que aceitaram responder à pergunta «Como encara o actual momento político?». [1] Testaram-se as novas liberdades anunciadas, no habitual jogo de gato e rato com a censura, bem patente no último parágrafo do texto de Nuno Bragança (na íntegra, no fim deste post - merece ser lido):

«”Não me falta ânimo para enfrentar os ciclópicos trabalhos que antevejo”, disse o Prof. Marcello Caetano. Referir-se-ia ele ao gigantismo dos cíclopes ou à característica monocular dos mesmos? Creio que foi de António Sérgio a conhecida e terrível frase: “O drama de Portugal não está em que nele reine quem tiver um olho só, mas no facto de alguns arrancarem um dos olhos para poder reinar”

[1] Este dossier foi republicado em O Tempo e o Modo – Antologia, Fundação Calouste Gulbenkian / Centro Nacional de Cultura, Lisboa, 2003, pp. 613-648.
Depoimentos de António Alçada Baptista, Eduardo Prado Coelho, Francisco Balsemão, Joana Lopes, Jorge Sampaio, Luís Moita, Manuel Roque, Nuno de Bragança e Raul Rego.

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Resultados do Inquérito e um pequeno anúncio


Terminou o tempo dado para a resposta a um pequeno inquérito sobre as preferências dos leitores deste blogue. Antes de mais, agradeço a todos os que responderam, aos que deixaram comentários e aos muitos que me contactaram por e-mail: foi interessante e agradável.

Resultados:
Que temas prefere ver abordados neste blogue?
  • Actualidade nacional – 60%
  • Actualidade internacional – 60%
  • Memória histórica – 75%
  • Religião / Igreja – 35%
  • Humor, Música, etc. – 31%
A principal conclusão que tiro, não só quantitativa mas sobretudo qualitativamente, é que devo abordar mais temas relacionados com Memória, o que tenho feito pouco nos últimos tempos – registei…

A título experimental, abri agora, na Barra Lateral, uma modestíssima secção onde irei pondo ligações para textos, vídeos e sites relacionados com Memória Histórica - sem qualquer sistematização, à medida que as for encontrando. Para cada entrada, haverá, numa página interior, uma pequena descrição e o arquivo de todas as ligações anteriores.

Toda a contribuição dos leitores será bem-vinda…
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