24.1.11

Catarses


Não, João Tunes, (aqui e aqui) não esqueço que «nestas eleições, a esquerda perdeu muito e em quase todos os tabuleiros e valências». Só um cego não o veria, embora possa discordar, num ponto ou outro, da análise detalhada que fazes da derrota.

E daí ou, mais exactamente, e a partir daqui?

Eu não falei de «formar partido» ou «frente», pela simples razão que tal ideia nem me passa pela cabeça. Mas, ao contrário do que dizes, e pela minha experiência das últimas semanas, identifico potencialidades de «capitalização» (foi a experiência que usei), com base no que ficou do esforço honesto de muitas pessoas que meteram mãos à obra em tentativas que fracassaram, como tantas coisas em cada um das nossas vidas, sem que por isso nos atiremos necessariamente ao Tejo ou nos fechemos num quarto escuro com as persianas corridas. Também, e talvez sobretudo, pelo choque de realismo que tive em dezenas de conversas com pessoas da idade dos nossos filhos, que se abstiveram, votaram nulo, Nobre, Coelho ou Defensor Moura.

A escolha do dia seguinte – hoje – faz-se, não só mas principalmente, entre o desânimo e o protesto, tão enérgico quanto possível, contra a situação a que chegámos. Chama-lhe voluntarismo, se quiseres, mas eu fico então sem perceber o que é para ti «dar a volta, ir à luta e tem que ser para já». Porque de catarse em catarse, para reflexão, andamos nós há muito tempo. Para chegarmos ao nada inesperado desfecho de 23 de Janeiro de 2011.
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8 comments:

Fenix disse...

Gostava muito de saber, qual teria sido o desfecho das presidenciais, se a Esquerda se tivesse unido para derrotar Cavaco e tivesse chegado a um consenso num único candidato. Um candidato com verdadeira sensibilidade de Esquerda só não reunirá consensos se os partidos estiveram mais preocupados com o seu umbigo do que no interesse nacional.
Fiquei desiludida!

Joana Lopes disse...

Nunca saberemos, Fenix. Agora é olhar para a frente.

Anónimo disse...

Com todo respeito pela «fénix» renascida ou não, confesso que me faz muita impressão que, evidentemente por generosos desejos, muita gente comntinue a falar do bom que seria «se a Esquerda se tivesse unido para derrotar Cavaco e tivesse chegado a um consenso num único candidato».

Quem assim continua a suspirar, na minha opinião está a passar completamente ao lado do que procurei salientar no meu post sobre os resultados.

Aí escrevi:

«Um segundo factor determinante do desfecho eleitoral desta noite, e que aliás marcava à nascença o quadro político desta eleição, é a circunstância de ela decorrer com o PS há seis anos consecutivos no governo e de aparecer aos olhos de grande parte do eleitorado como o principal responsável pela gravíssima situação a que o país chegou e como o principal fautor de um largo descontentamento, irritação e hostilidade populares. Era esta situação concreta de 2010/2011 que, ao contrário de votos pios ou ingénuos de não poucos, não só impedia e desaconselhava qualquer unidade em torno de uma única candidatura contra Cavaco na 1ª volta como acarretaria sempre baixas perspectivas de vitória para um candidato apoiado pelo PS, fosse ele quem fosse, mesmo que também apoiado pelo Bloco de Esquerda. Goste-se ou não, a denúncia por Alegre, pelo PS e pelo BE das coisas terríveis que futuramente aconteceriam com a eleição de Cavaco dificilmente poderia passar à frente da consciência de grande parte do eleitorado das coisas terríveis que já lhe tinham acontecido e estavam a acontecer pela mão e às ordens de Sócrates, do PS e do seu Governo (claro, em aliança com Cavaco e o PSD mas estes, esfregam as mãos por outros fazerem o «trabalho sujo» mas sabem sempre tirar o cavalinho da chuva). Não sendo explicação totalizante (um erro crasso de campanha também não deve ter ajudado), isto tem tudo que ver com o facto de Alegre ter obtido cerca de menos 20 pontos percentuais do que a soma de Alegre, Soares, Louçã e Garcia Pereira há cinco anos. »

João Tunes disse...

Ora, cara Joana, o que interessava era estenderes os pontos onde discordas da minha análise. No resto e a menos que haja (e a defendas) uma metafísica objectiva do optimismo político, não estando em causa a nobre missão da reactivação dos estados de alma positivos, um movimento tem que ter um rumo, uma estrutura e uma táctica. E neste domínio se as eleições não nos deram boas notícias é de aproveitar, para tudo não se perder, os péssimos motivos para boas e fecundas reflexões (para a acção, Joana, para a acção).

Joana Lopes disse...

Vítor Dias, Não leu uma única linha escrita por mim onde defendesse que devia ter havido uma só candidatura contra Cavaco. Bem pelo contrário, expliquei sempre que não era daí que viria o problema.

Mas outra coisa bem diferente foi ver uma das candidaturas - no caso que interessa a de Francisco Lopes, porque nem considero as outras - a atacar, diariamente, Manuel Alegre (que se absteve de lhe pagar da mesma moeda).

Quanto ao governo PS, serei a última a defendê-lo, como sabe.

Anónimo disse...

Cara Joana Lopes:

Pensei que estava claro que o meu comentário era EXCLUSIVAMENTE dirigido à FENIX.

Fenix disse...

Caro Vítor Dias

Quando falo em Esquerda não me refiro ao PS = PSeudo Esquerda.

Jorge Conceição disse...

Acho que são sonhos mais da área dos alucinogénicos considerar que um candidato "DA" esquerda teria resultados bem melhores. Isso era partir do princípio que a maioria da população portuguesa era uma população de esquerda, duma esquerda activa. Quanto a mim uma grande parte do eleitorado vai atrás de pessoas (personalidades) e não de projectos.

E quando muitas dessas pessoas vão atrás de partidos, fazem-no por seguidismo, com o mesmo espírito com que seguem ou apoiam um clube de futebol. Muito poucos têm uma ideologia que vá para além da sua carteira, da sua segurança, ou de outras referências que têm pouco a ver com uma participação ou preocupação cívica.

Além disso julgo que o "chicoespertismo", o "desenrascanço", é uma atitude muito comum entre nós e quando aparecem uns tantos "desenrascados" bem sucedidos (o Isaltino, o Valentim, a Fátima, o Santana, o Dias Loureiro, o Vale e Azevedo, etc., enfim, o próprio Cavaco), eles passam a ser heróis e têm o apoio popular.

Suponho, por isso, que a acção terá de incidir primeiramente numa área cultural e isso é extremamente difícil em termos de resultados.