24.1.11

Rescaldo


Não vou citar percentagens. Não contabilizarei vencedores ou vencidos porque está quase tudo dito.

Às 20 h de ontem, o meu primeiro sentimento foi uma enorme compaixão por todos nós, o povo deste país, como se uma fatalidade continuasse a perseguir-nos e a castigar-nos por malfeitorias de que não somos responsáveis. Demasiado trágico e também falso: cinco anos não são uma eternidade e fomos nós que decidimos o que se passou.

Confirmados os péssimos resultados de Alegre, um outro sentimento igualmente incorrecto - «fiz o que pude e a mais não sou obrigada» - ou, em bom vernáculo, «que se lixem!».

E, no entanto:

- Se ainda fossem necessárias provas, o desfecho desta campanha veio confirmar o estado calamitoso a que chegámos, bem reflectido na gigantesca abstenção, no número significativo de brancos e de nulos, no peso do voto de protesto (difícil de identificar mas mais do que real) e na escolha de alguém que ficou simbólica e definitivamente retratado em dois vergonhosos «discursos de vitória».

- 23 de Janeiro de 2011 só pode ser um estímulo e uma porta escancarada para uma nova fase de luta, agora mais a sério e com carácter de urgência. É hoje – e não amanhã, muito menos daqui a cinco anos – que o descontentamento e a tristeza estão à espera de ser capitalizados. Para sairmos da crise que atravessamos sem servilismos ou espírito de martírio, para que não sejam permitidos silêncios quando há muitas explicações por dar, para impormos que os inquilinos de Belém e de S. Bento nos respeitem. Pura e simplesmente, porque queremos viver num país decente.

(Publicado também aqui.)
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4 comments:

Carta a Garcia disse...

Cara Joana Lopes,

Fiz link para "A Carta a Garcia".
Obrigado,
OC

Joana Lopes disse...

Obrigada eu, Osvaldo.

Anónimo disse...

Cara Joana,

Compreendo o seu desagrado pela eleição do Cavaco, mas em linhas muitas gerais apenas tenho a acrescentar que ele ganhou não tanto devido ao seu mérito mas sim pela paupérrima concorrência que teve contra ele. Creio que face ao atual cenário político português somente o Sampaio teria condições de derrota-lo como o fez em 1996.

O Alegre pagou caro as figuras que fez nos últimos anos contra os seus próprios camaradas de partido e além disso julgo que o PS foi bastante infeliz na escolha do candidato, que o foi mais por sua própria imposição pessoal e ao gosto do BE. Arranjassem eles estes entendimentos na AR que ai sim o povo lhes ficaria grato.
Bom seria que nas eleições legislativas também pudessemos votar em pessoas e não em partidos.

Pode-se não gostar de Cavaco pela sua mentalidade algo cepa e um conservadorismo muito ao estilo republicano americano (que causa pele de galinha aos esquerdistas europeus) mas não se o pode acusar de intransigência. Ele é tal e qual o José Hermano Saraiva, não importa se esteja a dizer uma mentira, mas desde que o diga com firmeza e convicção consegue convencer meio eleitorado, para além da seriedade que foi sempre a sua mais precisosa virtude e a razão da crença do povo nele, algo raro nos políticos portugueses de hoje como Durão, Santana Lopes, Sócrates e sus muchachos, como aquele ex ministro dos corninhos entre outras figuras políticas da nossa lamentável III República, mas isto é apenas uma opinião pessoal de alguém que já nasceu bem depois do 25 de Abril.

Cavaco aprovou o aborto, o casamento homosexual e provavelmente agora a mudança de sexo também. O que é que os esquerdistas, amantes destas causas, querem mais? Será o problema do país o Presidente ou dos Boys que nos governam?

Obrigado

PS: De um votante em Fernando Nobre, que caso não concorresse lá teria eu por exclusão de partes ter de votar em Cavaco ou me abster.

Joana Lopes disse...

Caro Martini Bianco
Falar de não intransigência de uma pessoa que fez aquele discurso de vitória, no Domingo, é uma boa vontade que move mais montanhas do que qualquer fé!!!