1.2.11

O mundo olha para o Egipto e nós por cá…


Durante todo o dia de ontem, televisões e rádios abriram noticiários com detalhes sobre o gravíssimo drama dos portugueses que estavam à espera de sair do Cairo num avião não sei o quê, que estava de quarentena não sei onde. Repetiram à saciedade declarações de Luís Amado sobre o dito voo, que nada acrescentavam porque nada mais havia a acrescentar. Depois, também se falava da Praça Tahir…

É a saloiice em todo o seu esplendor e o populismo bacoco que explora e alimenta egoísmos de vizinhança, voyeuristas e fáceis.

Ia escrever uma nota sobre o assunto quando deparei com este texto de Ferreira Fernandes, no DN de hoje. É isso mesmo.

«Passei o dia a assistir (rádios, televisões...) à velha definição dos tolos: aponta-se a Lua e eles olham o dedo. O dia foi dedicado aos primeiros 70 portugueses que se preparavam para abandonar o Egipto. Abriram--se os noticiários com acentos épicos: que eles partiriam hoje às 10.30 locais - e estas são 08.30 de Lisboa, disse-se com exactidão, talvez para eu saber a que horas teria de começar a roer as unhas... (…)

Sabem porquê? Pelo critério da proximidade, essa lei que faz privilegiar uma notícia próxima em relação a uma longínqua. Para os ignorantes, esse critério fê-los pensar que o turista nacional é que é importante. (…)

Mas não tenho ilusões, por cá, hoje (dia da grande manifestação cairota), vou passar o dia a ver microfones estendidos ao horror da viagem num barulhento C-130 chegado à Portela.»

Ah, oiço agora mesmo que afinal são 80 - e não 70 - os portugueses que estão para chegar, que as malas já estão a caminho do aeroporto do Cairo e que há um ambiente de emoção!
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2 comments:

Fenix disse...

A propósito deste post, acho que talvez fosse útil, os "jornaleiros" fazerem comparações, entre os povos que tendo consciência da opressão de que são vítimas vêm para a rua gritar pela liberdade...enquanto outros, pensando que são "livres" miseravelmente se abstêm
de votar e muito menos de tentar mudar o curso dos acontecimentos, com uma cidadania activa!
No fundo nada melhor para fazer calar as turbas, que fazê-los acreditar que na democracia representativa estão os valores da liberdade e da justiça social.
Pobres humanos, predadores da própria espécie. Até quando?!

Joana Lopes disse...

Sim, mas... não ponhamos no mesmo plano o que não é comparável!