2.5.11

Sobre a notícia do dia


Recebi um sms de madrugada, mas virei-me para o outro e readormeci. Uma longa falha de electricidade ao princípio da manhã fez com que só chegasse ao «mundo» quando ele já exultava, feliz, por Bin Laden ter sido (alegadamente…) assassinado, num universo liberto do terror dos dez últimos anos e de todos os fundamentalismos do universo.

Vi dezenas de imagens como a que está ali em cima e fiquei transida: a humanidade está, afinal, pior do que a imaginava, poucas horas antes, quando apaguei este computador. A alegria da vingança é um sentimento que algumas culturas orientais praticam, mas muito má conselheira e perigosa a Ocidente.

A pouco e pouco, fui encontrando ecos ao meu desconforto. Quando li este post do Zé Neves e, sobretudo, um grande texto do Paulo Pinto: Bin Laden: preocupação e esperança. Está lá tudo o que eu gostaria de ter escrito. Num outro tom, José Manuel Pureza veio também ao encontro de muito do que penso, em Nota divulgada no Facebook: «Não, não se fez justiça». (*)

O capítulo que se segue é a telenovela já iniciada com a imagem (mal) trabalhada em photoshop, o cadáver atirado ao mar, em simultâneo com promessas de testes de ADN, etc., etc., etc. Para além de outras parvoeiras e da felicidade (óbvia…) dos mercados.

Um dia terrível, em suma: basta percorrer as capas dos jornais americanos. Hesitei em escrever «Shame on you, Mr. Obama!» - mas já está.

(*) Ao anunciar esta madrugada a morte de Bin Laden, Obama proclamou: “fez-se justiça”. Não fez. Justiça far-se-ia se Bin Laden fosse levado ao Tribunal Penal Internacional para ser julgado por crimes contra a humanidade. Mas de um país que insiste em repudiar a jurisdição do TPI para os seus boys não se podia esperar essa lucidez e essa coragem. E, mais que tudo, a morte de Bin Laden deixa por responder uma série de questões incómodas para quem o matou: a origem da Al Qaeda, as ligações sauditas, a bênção americana inicial. Agora criou-se um mártir. Esta never ending story passa para o difícil capítulo seguinte.
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10 comments:

Tea Party para Portugal disse...

Confesso que fiquei extremamente satisfeito com esta noticia. Acredito que isto não é um "fait-divers", que não existe nenhuma teoria da conspiração e que a esta hora os restos mortais desse bárbaro muçulmano já estrão a contaminar peixinhos e não vidas humanas.

Se eu fosse americano também teria festejado em qualquer cidade a morte de um terrorista deste calibre e a forma como ele os seus acólitos são peritos na lavagem cerebral de povos ingénuos deixando um mundo em constante sobressalto.

Para entender a alegria do povo americano é preciso entender a cultura deles. São bastante patriotas, defendem melhor os valores morais e sociais que receberam da Europa que os próprios europeus que estão contaminados pelo "marxismo cultural", daí que admiro imenso esse povo e não é de estranhar as capas dos jornais hoje.

Também fiquei satisfeito por o terem morto em vez de o levarem para Guantanamo e ficar lá anos a "comer" dos impostos dos americanos ou ainda vir a ser amnistiado pelos juizes do TPI, ou pior ainda morrer antes do julgamento como já aconteceu outras vezes.

Acredito que o mundo ficou um pouco melhor hoje, e que a morte de Bin Laden ajudará a destruir ou pelo menos a enfraquecer as várias células da Al-Quaeda que ainda existem em todo o mundo.

Justice has been done! Barack Obama 1-0 Marxismo cultural

Joana Lopes disse...

O pseudónimo que escolhe – Tea Party – não engana nem o algodão.
E falha o alvo quando fala de contaminação por «marxismo cultural» àquilo que tem a ver, sim, com as raízes cristãs da civilização ocidental.

Miguel Serras Pereira disse...

Muito de acordo com muito do que dizes, Joana. "Não se fez justiça", claro.
No entanto, a cereja em cima do bolo do espectáculo e da sua obscenidade imbecil veio a ser posta por aqueles que, ainda não se atrevendo a declarar Bin Laden um combatente anti-imperialista, insistem, para combater aquilo a que chamam o "imperialismo", em ressuscitá-lo, a pôr em causa a realidade da sua morte, e por aí fora. Por pouco se abstêm - se é que abstêm - de fazer dele um novo D. Sebastião.
Todo este episódio epilogal me fez pensar na ideia, que se manteve viva até uma data relativamente recente, que alguns - e por razões às vezes opostas - alimentaram durante décadas acerca da sobrevivência de Hitler, negando a sua morte no bunker. Estaremos a assistir aos primeiros passos de qualquer coisa de semelhante? De momento, só vi esta ideia da sobrevivência de Bin Laden alimentada por alguns "patriotas de esquerda" locais. Mas talvez não seja impossível que no mundo muçulmano alguma coisa de semelhante - em mais pesado - venha a anunciar-se. Teremos de nos preparar para assistir a uma espécie de sebastianismo fundamentalista islâmico?

miguel (sp)

Joana Lopes disse...

Miguel, aparentemente, já se duvida, no mundo muçulmano, da morte de BL: vi entrevistas nesse sentido, feitas em Marrocos.
Os americanos podiam não ter mostrado uma montagem fotográfica esfarrapada, não ter atirado logo o corpo ao mar, etc., etc. Até parece que estão interessados em alimentar histórias...

Luisa Semedo disse...

Joana realmente fez bem em hesitar escrever “Shame on you, Mr. Obama”! Visto que é um comentário completamente desproporcionado! Estaria curiosa de saber qual seria o seu comentário se tivesse sido o Obama morto por um ataque do Bin Laden?!
Pessoalmente não acho de todo que tenha sido um dia terrível. Preferia, evidentemente, que o Bin Laden tivesse sido julgado num tribunal e não morto, mas prefiro o Bin Laden morto que vivo.
Conheço a ameaça terrorista em França, sei o que é viver com o medo de apanhar os transportes públicos, de ir a sítios turísticos, ao cinema, à biblioteca, da segurança nos aeroportos nomeadamente quando revistam os meus filhos pequenos, etc. Mas isso não é nada em comparação com o traumatismo dos americanos. Portanto não me choca que eles estejam contentes, que eles festejem a morte de um terrorista, que os ameaça há anos. Não estamos a falar de uma simples vingança, mas de um homem que continuava a ameaçar os Estados Unidos e não só! Que os Estados Unidos sejam criticados por Guantânamo, pelas guerras, etc., tudo bem estou de acordo, mas sinceramente se um movimento terrorista tivesse perpetrado um ataque em Portugal, no metro, na ponte 25 de Abril, ou num centro comercial, e que anos depois esse mesmo movimento continuasse a ameaçar Portugal, não vejo por que razão o povo português não poderia ficar satisfeito com a eliminação da pessoa que incarna esse movimento.
Sou contra a pena de morte, preferia que ele tivesse sido julgado, mas não vou chorar pelo Bin Laden. Acho que ele continuava a ser uma ameaça à liberdade e à paz tanto para os Ocidentais como para o mundo Árabe.

Joana Lopes disse...

Luísa, eu não chorei pela morte de Bin Laden, mas repito que nada justifica efusões de alegria por razões de vingança. Porque é apenas disso que se trata: os perigos de terrorismo continuam intactos – se não maiores, agora –, não desaparecem organizações porque morre um homem, mesmo que este seja um ícone.
O seu raciocínio leva longe: mate-se um pedófilo porque fez crimes hediondos, etc., etc. Não há bitolas quantitativas para estabelecer fronteiras.

lili disse...

Não são promessas, o teste de ADN foi feito a partir do cérebro da irmã dele.
A guerra é guerra não é um assassinato.

Este senhor de quem tem tanta pena matou milhares de pessoas inocentes, e continua a matar, a maioria em países pobres que querem agora lutar pela democracia, mas esses países são tão longe, não é?

Joana Lopes disse...

Lili,
Importa-se de citar a frase em que digo «ter pena» de BL?
Este post foi escrito ANTES de serem noticiados os testes do ADN da irmã.

Dédé disse...

Mesmo para quem não alinha em teorias da conspiração, esta estorieta não dá para engolir.
Mas acho que a coisa tem um certo potencial:
E não se arranja por aí um gajo de barbas, já morto há alguns anos, para Sócrates atirar ao mar, e dar-lhe uma ajuda a subir nas sondagens?

Fada do bosque disse...

Penso que Benazir Bhutto,  não está de todo a mentir, neste diálogo que foi cortado numa entrevista sua. Nem creio de todo que seja uma conspiração.