27.7.11

Cavaco, os coitadinhos e a caridade

@Paulete Matos

Cavaco Silva inaugurou ontem uma complexo residencial para idosos na Misericórdia de Torres Vedras (nota importante: «sessenta e oito anos depois de o ex-Presidente Carmona ter visitado o local»…) e aproveitou a ocasião para fazer duas declarações, qual delas a mais significativa.

Interrogado sobre a necessidade do imposto extraordinário decretado pelo Governo, afirmou, submisso, que «o senhor ministro das Finanças já teve ocasião de explicar a razão pela qual o Governo fez essa proposta». E preferiu manifestar-se preocupado com quem «não tem rendimentos suficientes para ser abrangido pelo imposto extra».

Os atingidos agradecem a preocupação, certamente penhorados. Para os outros, fica a mensagem subliminar: «não se queixem», «não sejam mesquinhos» (como muito bem interpreta o Nuno Serra).


Esbatendo, ou pretendendo mesmo eliminar, as fronteiras entre o público e aquilo que não o é nem nunca foi (por mais meritória que seja a actividade que está em causa), Cavaco Silva abre a porta, sem vergonha e de forma escancarada, a tudo o que o SEU Governo se propõe fazer nos próximos tempos. E não é certamente por acaso que aparecem os termos «obsoleto» e «ideológico». Quanto ao último, tem razão porque é de ideologia que se trata. E é mais do que tempo para se desmascarar o tal mito de Cavaco «o social-democrata»!

Preparemo-nos, pois, porque a procissão ainda nem sequer chegou ao adro…
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14 comments:

Ana Cristina Leonardo disse...

é tudo tão salazarento que até assusta

Joana Lopes disse...

Cada vez mais, Ana Cristina!

Anónimo disse...

A culpa não é do Sócrates?
E do governo do PS que era de direita e igualzinho ao PSD?
Quando Cavaco atacava sob todo e qualquer pretexto o governo anterior, onde estavam estes que se queixam (com razão, sim) agora?
Porque calculisticamente ignoraram os ataques da direita, apoiando-os com o seu silencio? E isso nos melhores casos, que em muitos só faltou baterem palmas de júbilo.
Sim, eu sei, um passo atrás, dois em frente. Mas o que tenho assistido é um passo em frente, quatro atrás.

teresa macedo disse...

Eu pensei q isto ía ser mau,tanto q após 40 anos de votação no PCP e vendo todos unidos a deitar abaixo o Sócrates e a injurià-lo, resolvi q o partido mais bem colocado para derrotar o PSD era, infelizmemte,o PS, e votei.Confesso q mesmo assim nunca pensei q chegássemos tão depressa à hipocrisia e desvergonha deste neoliberalismo.E não é q mais de 90% se acham católicos (de missa do 1/2 dia claro)? Alinho em todas as acções q eu entenda q combatem esta desumanidade.Vou dar o nome embora possa sofrer consequencias.

Joana Lopes disse...

Teresa, não percebo a quem vais dar o nome... nem para quê.

Joana Lopes disse...

Quanto ao Anónimo: a culpa não é só mas é certamente, e muito, de Sócrates e do seu governo - digo-o sem hesitação. Vergou o PS a Bruxelas e à direita, como ninguém o tinha feito antes.

Anónimo disse...

Joana Lopes, com todo o respeito que lhe tenho, e é muito, o seu argumento parece-me de cariz igual ao do violador que diz que "ela também teve culpa vestida assim a provocar".
Portanto, se Sócrates se encostou à direita, embora deitá-lo abaixo para a direita a sério governar, certo?
O PSD e o CDS têm uma dívida de gratidão para o BE e o PCP, mas não acredito que a paguem.

Joana Lopes disse...

Lamento, mas não continuo diálogos deste tipo com quem se esconde atrás do anonimato, mesmo que diga que me tem muito respeito...

Fada do bosque disse...

Duas faces da mesma moeda... o bipartido PS/PSD, aprenderam bem com os americanos desde que estes despoletaram o 25 de Abril para poder entrar em Angola, Cabinda, etc.
É perguntar ao Kissinger, com que portugueses tratou do assunto que ele dirá logo:- Mário Soares, Cavaco e Ramalho Eanes entre outros. Agora perguntem-se a troco de quê fizeram isso ao seu País e seu povo?! Tá fácil, não?!

Ana Cristina Leonardo disse...

pois é, com todo o respeito pelo anónimo, quando as pessoas se baixam muito há um dia que ficam de cuecas à mostra...

Joana Lopes disse...

É isso mesmo, Ana Cristina.
Para além de que ainda não estou mentalizada para lidar com socráticos na clandestinidade.

João Luis Domingos disse...

Oh minhas senhoras, chamo-me João Luis Domingos, tenho 57 anos, moro em Lisboa, querem saber mais? façam favor de perguntar, posso enviar o numero de telefone, a morada, o certificado de habilitações e o registo criminal, se até a pide o tinha não vejo que sejam menos, eu também tenho memória.
E se sou "socrático na clandestinidade" peço perdão a Vossas Excelências se se sentem ofendidas por um "socrático" dizer o que pensa.
Agora essa do não falar com anónimos é, perdoem-me, a confissão de que estão mais numa de discutir pessoas que ideias, e apreciam a insinuação rasteira, pois pois, o "socrático"...
Joana Lopes, Ana Cristina Leonardo, iamos no Sócrates se ter encostado à direita, a solução era entregar o poder à direita que era tudo a mesma coisa mas afinal já não é. É essa a minha "socrática" pergunta, o BE e o PCP fizeram bem em ajudar a derrubar Sócrates ou não?

Joana Lopes disse...

João Luís Domingues, O PCP e O BE mantiveram-se na linha dos princípios que defendem e, nesse particular, espero que assim continuem. Foi o governo de Sócrates que se afastou dos do PS - e de que maneira - e que se autosuicidou.

Ana Cristina Leonardo disse...

Anónimo/ João Luís Domingos, deixe-me dizer-lhe o que me vai na alma já faz algum tempo (é um post antigo la do meu tasco)

"O meu coração bate à esquerda desde pequenina. Resultado também, com certeza, de ter nascido numa terra de marítimos que, no dizer de Raul Brandão, "(…) são generosos, imprevidentes e comunistas".
É por isso que não perdoo a Sócrates ter subvertido todas as boas ideias que, nascidas na esquerda, se viram transformadas em operações de marketing, esvaziadas de sentido e convertidas a mero negócio.
Igualdade na educação, novas oportunidades, energias alternativas, democratização tecnológica, parcerias público-privadas, avaliação de desempenhos… Acrescente-se-lhe o rol de negociatas, o trabalhar para as estatísticas, o roubo descarado (em alguns casos), o fanatismo, a intolerância, a ignorância, o modernismo para pacóvio ver (o que foi o acordo ortográfico se não uma forma de vender dicionários?), a demagogia a roçar o delírio, a promoção e enriquecimento ilícito de gente inclassificável, parasitas de um Estado que se deixa à beira da bancarrota mas com os bolsos (de alguns) bem recheados… é tudo isso que eu não perdoo a Sócrates.
E, sobretudo, não lhe perdoo que, com tudo isso, nos entregue de bandeja à direita.
Vá-se lixar senhor engenheiro!"
Mantenho tudo.