14.7.11

Um país «chumbado»


Notícias do dia anunciam que «os resultados dos exames do 9º ano são os piores dos últimos anos» e explicam que os mesmos se devem, fundamentalmente, ao facto de as provas serem agora mais difíceis.

Concretamente no que se refere à Matemática, a média dos mais de 90.000 alunos que se apresentaram à primeira chamada não ultrapassou 43% (sendo que mais de 16.000 não conseguiram ultrapassar 19% e cerca de 30.000 tiveram menos de 30%). Devastador! Assim não vamos lá, com FMI ou sem ele.

Ora acontece que não consigo admitir que alguém considere que o exame em questão (publicado aqui) deva, ou sequer possa, ser considerado difícil: percorri-o do princípio ao fim. Não o seria há cinquenta anos, nem há vinte – garanto eu que tenho bem presentes essas referências temporais –, quando nem sequer eram fornecidos, como agora, fórmulas tão elementares como as necessárias para calcular o perímetro de uma circunferência ou o valor de pi…

Haverá certamente muitos culpados - pais, professores, o Mário Nogueira, o 25 de Abril, Sócrates (sempre…) ou até a padeira de Aljubarrota – e dezenas de razões já apontadas por todos os Cratos deste país.

Acrescento mais uma: a infantilização que muitas perguntas de testes como este reflectem e que traduz um facilitismo bacoco e quase insultuoso, uma desistência de considerar que rapazes e raparigas com um mínimo de 15 anos são capazes de raciocínios abstractos e que não precisam que lhes contem histórias da carochinha para resolverem problemas elementares. Um exemplo nesta figura que reproduzo: por que raio se fala de uma choupana (!!!) para se pedir que se calcule a altura dum cilindro? Pretende-se exactamente o quê? Só se for que os alunos percam algum tempo por não saberem… o que é uma choupana!...

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2 comments:

Anónimo disse...

Foi preciso vir ao teu blogue para ver o enunciado do exame do 9º ano, pois tenho-me afastado propositadamente deste tema da Educação, que o Crato dá-me (sempre deu) cabo da paciência e faz-me subir a tensão arterial...Mas, Joana,não posso estar de acordo contigo. Estas questões da prova - pelo menos os problemas - são, efectivamente, de um grau de dificuldade superior ao habitual. A título de exemplo, comprovando esta minha ideia, pede a meia dúzia de licenciados da área de Ciência (médicos, biólogos,farmacêuticos, professores de Geografia, etc.,ou mesmo arquitectos, (e talvez engenheiros!)que resolvam o problema com que ilustras a tua tese. Aposto que serás surpreendida!E não esqueçamos que se trata de ensino «básico».
Um abraço, já com saudades
Helena Pato (prof. de Matemática)

Joana Lopes disse...

Olá, Lena.
Duas coisas: não sei se o exame é mais difícil do que os dos últimos anos porque não os tenho presentes. Admito portanto que sim.

Focando apenas o exemplo que mostro, se é verdade o que dizes, então «o mundo» está ainda muito mais ignorante do que penso, já que, no início do enunciado, são fornecidas as fórmulas necessárias para resolver o problema (volume do cilindro e do cone). O resto é pura questão de raciocínio!
Abraço