23.9.11

Clara como água e certeira


… a crónica de Nuno Ramos de Almeida, no «i» de ontem:

Doces mentiras

Pedro Passos Coelho disse numa entrevista à RTP que Portugal poderia precisar de um segundo pacote de "ajuda" da troika se a Grécia entrasse em incumprimento. Aníbal Cavaco Silva apressou-se a desmentir o primeiro-ministro, garantindo que, caso Portugal cumprisse o Memorando da troika, acontecesse o que acontecesse à Grécia, o país não precisaria de mais empréstimos da troika. A situação é curiosa. Como se contava numa velha anedota sobre dois dignitários do antigo regime, ambos têm razão apenas quando dizem que o outro não tem razão. Vamos por partes: Passos Coelho mentiu porque independentemente do que acontecer à Grécia Portugal vai sempre precisar de novos empréstimos. Se nos cobram juros de 6% e nos obrigam a uma política de austeridade que provoca uma recessão de 2%, o país vai chegar ao fim do período do empréstimo a dever mais do que na altura em que recebeu os 80 mil milhões de euros da troika. Para isso não acontecer precisávamos de crescer a uma taxa de mais de 5% ao ano. Nessa altura, das duas uma: ou nos emprestam mais dinheiro para pagar os juros e encargos do empréstimo anterior ou entramos em incumprimento. Já Cavaco mentiu quando garantiu que se cumprirmos as condições da troika não precisamos de novo empréstimo. É exactamente porque as estamos a cumprir que vamos entrar numa recessão profunda. E é exactamente por as cumprimos que precisaremos de novos empréstimos e a médio prazo entraremos em incumprimento. O nosso problema, e o europeu, é sobretudo de desenvolvimento. Infelizmente isso só se resolve como uma política diferente na Europa.
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