25.11.11

Um grego entre muitos outros


Mais um excelente texto de Paulo Moura (Público, 22/11/2011), divulgado agora no seu blogue: «A vida de um “malakas” na Grécia em crise».

«“Eu sou um ‘malakas’”, diz ele. “Mas sou um bom tipo”. “Malakas”, o calão grego para designar a masturbação masculina, é a alcunha pela qual Tathsis e os amigos gostam de se tratar. Na gíria deles, significa um tipo que não tem nada, mas é de confiança, um companheiro. Um “malakas”. (…) As pessoas inventam formas originais de ajudar. Há por exemplo quem coloque comida boa, em sacos limpos, nos caixotes de lixo, porque sabe que outros lá irão buscá-la”. (…)

“O meu cão… Eu não tive dinheiro para o veterinário, e ele morreu. Ficou doente. Consegui juntar 10 euros para comprar isto”, diz Stathis atirando para cima da mesa uma bisnaga branca. “Não é um medicamento, é apenas um suplemento alimentar. O cão morreu”. E se for ele, Stathis, a ficar doente? “Não fico doente. E se ficar, vivo com o meu problema”, é a sua decisão. (…) “Aquilo aconteceu com o meu cão, e eu fiquei assim, desgostoso”, continua Stathis. “Imagine que eu tinha filhos. Não tenho. Se tivesse, andava com uma pistola nas mãos”. (…)

O abastecimento de água foi cortado há muito, pelo que a zona da casa de banho não tem descrição. Mas a electricidade nunca falta, graças a uma ligação directa feita por um amigo. É possível ouvir música, ver televisão, fazer noitadas a conversar, ou a ler.

Stathis lê Nietshe, Shopenhauer, Marx. O seu livro favorito é “A Sociedade Aberta e os seus Inimigos, de Karl Popper. “Não acredito em tudo o que os filósofos disseram, mas gosto da maneira como pensam. Para mim, são alimento mental, mais importante do que a comida para o estômago. Ajudam-me a compreender a realidade. (…)

À sua maneira, são uma família [os “malakas”]. Estão sempre juntos, são tolerantes uns com os outros, partilham tudo. Apesar das circunstâncias, não parecem infelizes. Stathis Apostolides, homem de cultura e pensamento rigoroso, é mais preciso na caracterização: “Não somos felizes. Somos surrealistas”.»

Na íntegra aqui.
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