24.9.11

Viver na «dividocracia»


É explicado como se fôssemos a tal criança de 4 anos, mas não se perde nada com isso.



Daqui
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Paradoxos


(Via Helena Romão no Facebook)
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23.9.11

As Cidades e as Praças (36)


Praça Registan, Samarcanda (2011)

(Para ver toda a série «As Cidades e as Praças», clicar na etiqueta «PRAÇAS».)
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Do mau exemplo


Talvez por estar fora de Portugal, escapou-me o motivo da visita de Cavaco aos Açores. Como me escapa também a justificação para o que leio hoje no Público (sem link): acompanham-no Maria Cavaco Silva e mais de 30 pessoas, entre as quais não só «quatro assessores, dois consultores, um para os assuntos políticos e outro para a comunicação social, e cerca de uma dúzia de elementos do corpo de segurança, entre eles dois sargentos, um tenente-coronel, um subintendente e cinco agentes principais», mas também «dois fotógrafos oficiais, um médico pessoal, uma enfermeira, dois bagageiros e até um mordomo».

30 pessoas? Bagageiros? Mordomo???

Ainda: Nunes Liberato, também levou a mulher. E a minha alma pergunta, a quem souber responder-me, se a esposa do chefe da casa civil do PR tem lugar previsto no protocolo de Estado.

Prevejo o argumento: todos os predecessores de Cavaco fizeram o mesmo, quem não se lembra das comitivas de Soares e de Sampaio? Mas isso era no tempo em que a pátria era formosa e bela, quando o FMI era receita para argentinos e outros sul-americanos e as vacas talvez não sorrissem a olhar para os prados, mas ainda não tinham emagrecido. Agora, em Setembro de 2011, é incompreensível e inaceitável. Ponto.
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Clara como água e certeira


… a crónica de Nuno Ramos de Almeida, no «i» de ontem:

Doces mentiras

Pedro Passos Coelho disse numa entrevista à RTP que Portugal poderia precisar de um segundo pacote de "ajuda" da troika se a Grécia entrasse em incumprimento. Aníbal Cavaco Silva apressou-se a desmentir o primeiro-ministro, garantindo que, caso Portugal cumprisse o Memorando da troika, acontecesse o que acontecesse à Grécia, o país não precisaria de mais empréstimos da troika. A situação é curiosa. Como se contava numa velha anedota sobre dois dignitários do antigo regime, ambos têm razão apenas quando dizem que o outro não tem razão. Vamos por partes: Passos Coelho mentiu porque independentemente do que acontecer à Grécia Portugal vai sempre precisar de novos empréstimos. Se nos cobram juros de 6% e nos obrigam a uma política de austeridade que provoca uma recessão de 2%, o país vai chegar ao fim do período do empréstimo a dever mais do que na altura em que recebeu os 80 mil milhões de euros da troika. Para isso não acontecer precisávamos de crescer a uma taxa de mais de 5% ao ano. Nessa altura, das duas uma: ou nos emprestam mais dinheiro para pagar os juros e encargos do empréstimo anterior ou entramos em incumprimento. Já Cavaco mentiu quando garantiu que se cumprirmos as condições da troika não precisamos de novo empréstimo. É exactamente porque as estamos a cumprir que vamos entrar numa recessão profunda. E é exactamente por as cumprimos que precisaremos de novos empréstimos e a médio prazo entraremos em incumprimento. O nosso problema, e o europeu, é sobretudo de desenvolvimento. Infelizmente isso só se resolve como uma política diferente na Europa.
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Hoje, 23


Este ano, até o Verão nos foi cortado pelas troikas. Bem-vindo Outono, não nos limitaremos a ramasser les feuilles mortes.
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22.9.11

Com dedicatória, evidentemente

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Jamais sur terre il n'y eut d'amoureux
Plus aveugle que moi dans tous les âges
Mais faut dire que je m'était creuvé les yeux
En regardant de trop près son corsage.

Une jolie fleur dans une peau de vache
Une jolie vache déguisée en fleur
Qui fait la belle et qui vous attache
Puis, qui vous mène par le bout du coeur.


Le ciel l'avait pourvue des mille appas
Qui vous font prendre feu dès qu'on y touche
L'en avait tant que je ne savais pas
Ne savais plus où donner de la bouche.

Une jolie fleur dans une peau de vache
Une jolie vache déguisée en fleur
Qui fait la belle et qui vous attache
Puis, qui vous mène par le bout du coeur.

Elle n'avait pas de tête, elle n'avait pas
L'esprit beaucoup plus grand qu'un dé à coudre
Mais pour l'amour on ne demande pas
Aux fille d'avoir inventé la poudre.

Une jolie fleur dans une peau de vache
Une jolie vache déguisée en fleur
Qui fait la belle et qui vous attache
Puis, qui vous mène par le bout du coeur.

Puis un jour elle a pris la clef des champs
En me laissant à l'âme un mal funeste
Et toutes les herbes de la Saint-Jean
N'ont pas pu me guérir de cette peste.

Je lui en ai bien voulu mais à présent
J'ai plus de rancune et mon coeur lui pardonne
D'avoir mis mon coeur à feu et à sang
Pour qu'il ne puisse plus servir à personne.

Une jolie fleur dans une peau de vache
Une jolie vache déguisée en fleur
Qui fait la belle et qui vous attache
Puis, qui vous mène par le bout du coeur.
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Ceci n’est pas un pays


Depois de ler, ainda no Azerbaijão, as hilariantes reflexões de Cavaco sobre vacas sorridentes e prados verdejantes, é Manuel António Pina que me ajuda, já em Lisboa, a interpretar a mensagem:

«O país ficou a saber o que o PR pensa não só sobre a Madeira mas também sobre os demais problemas que afligem os portugueses e mantêm o país em estado de alerta laranja: "Ontem eu reparava no sorriso das vacas, estavam satisfeitíssimas olhando para o pasto que começava a ficar verdejante".

Trata-se de uma tomada de posição enigmática mas que, devidamente decifrada, decerto tranquilizará os portugueses: quem sabe se "vacas" não será uma metáfora de "mercados" e se o "pasto que começava a ficar verdejante" não significará a diminuição do défice ou que o ministro Álvaro irá finalmente aparecer numa manhã de nevoeiro?

Ganha assim sentido o misterioso conceito de "magistratura activa" que Cavaco não se cansou de prometer aos portugueses durante a sua campanha eleitoral.»


Mas não fica tudo esclarecido: resta explicar esta fixação de Cavaco Silva nas simpáticas bovinas. Algum psicólogo de serviço?

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É que realmente!
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21.9.11

Ide e lede

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Este belo texto do Luís Januário, no «i» de hoje:

A rentrée no tempo dos cartuchos
Os rapazes às vezes esquecem-se das meninas em troca de um jogo ou de uma briga. Era assim no tempo dos cartuchos, dos vinis, das K7, dos CD. É assim no tempo dos iPods.

Na íntegra, aqui.
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Em jeito de balanço


Já na ponta final da viagem, quase a deixar o Azerbaijão, todo o meu espanto vai para o culto da personalidade de Heydər Əlirza oğlu Əliyev, pai do actual presidente e quem primeiro tomou as rédeas do país depois da independência, em 1991 - omnipresente em estátuas, nomes de teatros, títulos de jornais, iniciativas socioculturais, etc., etc., etc. «Nós chamamos-lhe avô», diz-me uma das poucas empregadas do hotel que fala inglês.

Para além de todo o resto, presidência hereditária, portanto (mas onde é que já vimos este filme?...) Este país ainda não aprendeu o que devia nem se libertou da história recente, entrou (e de que maneira…) no consumismo e não fez desaparecer o resto. De certo modo, parece estar a querer guardar o pior de dois mundos!

No fim de mais uma das minhas jornadas, e deixando Istambul entre parêntesis porque é um caso especial, o meu conselho a potenciais viajantes é que incluam o Uzbequistão nas agendas (e rapidamente, antes que grandes invasões turísticas encham o Registan de Samarcanda como a Praça de S.Marcos em Veneza), mas que se sintam dispensados de vir a Baku, a não ser que fique mesmo em caminho ou que negoceiem em petróleo. A cidade é agradável, mas não mais do que isso, e ne vaut pas le détour, como rezam os velhinhos Guias Michelin.

Amanhã… será o inevitável regresso.
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Agenda (2)

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20.9.11

Em terra azeri


O que há de mais agradável em Baku são os prédios, tanto na zona comercial recente, cheia de parques e com belíssimas zonas reservadas a peões, como dentro das muralhas da velha fortaleza. Nada convencionais, de arquitectura variada mas leve, com grandes varandas, de ferro ou de madeira. Uma excelente surpresa, confesso.

Quanto ao resto, repito que se «respira» dinheiro, do petróleo e não só, e nada se perdia se não houvesse tantos polícias por metro quadrado, nem tantas fotografias do presidente (por todo o lado, até nos hotéis), reeleito em 2008 com percentagem de votos absolutamente coreana (e que, ainda por cima, faz lembrar Berlusconi…). Pelo menos à primeira vista, as pessoas estão longe de ter a amabilidade dos uzebeques e encontrar alguém que fale inglês é quase o mesmo que descobrir agulha em palheiro.

Em termos de direitos humanos, estamos conversados: o Azerbaijão foi declarado um Not Free Country no plano político e no de liberdades civis.

Quando e como evoluirá tudo isto? Nem sonho.
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Agenda

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19.9.11

Parece que foi ontem

De mar a mar


De Istambul a Baku, do Bósforo ao Cáspio.

Voltarei um dia à Turquia, com muito mais tempo, desta vez a visita foi apenas um «desvio» no caminho da Rota da Seda. Como um outro desvio, o último, é esta paragem na capital do Azerbaijão.

Cheguei portanto a um dos reinos do petróleo (no início do século XX, este país produzia metade do que o mundo consumia…), mais recentemente também do gás natural, em pleno boom, visível assim que se sai do aeroporto: por todo o lado, constrói-se e recupera-se, diga-se de passagem, com bom gosto e aparente qualidade em termos arquitectónicos. Uma bela marginal junto ao Cáspio, jardins, um gigantesco centro comercial, lojas de tudo quanto é griffe, mulheres de mini (micro) saias e altamente «produzidas». Dinheiro não faltará e, por exemplo no ano de 2006, o PIB cresceu… 36%.

Ainda pouco vi mas as primeiras impressões são positivas, esquecendo o trânsito que é fabulosamente caótico e impróprio para cardíacos. Para quem conheça, uma excelente síntese de Nápoles e Calcutá.

Oficialmente, estou na Europa. Não parece.
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18.9.11

Pardon my French


(Gui Castro Felga no Facebook)
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Por aqui, a Oriente


Algumas horas no Palácio de Topkapi, que foi residência oficial dos Sultões Otomanos durante 400 anos e que é hoje um fabuloso museu, deram para ver uma nem sei que pequeníssima percentagem dos tesouros que guarda. Não apenas porque são muitos, num belíssimo espaço que é património da UNESCO, como também porque as filas para entrar em qualquer sala eram longuíssimas! Nada de espantar, embora um pouco assustador, quando se sabe que o museu é visitado por mais de um milhão de pessoas por ano e que a época alta de turismo ainda não acabou.

As ruas de Istambul são hoje, Domingo, um festival de multidões, com os bazares fechados, mas comércio de todo o género em tudo o que é esquina – em pleno império da contrafacção, by the way

Nenhumas saudades da pátria, mas um pouco «abafada» por dez dias rodeada de Islão por toos os lados. Mas isso fica para utras conversas.
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