22.1.12

Cavaco é mesquinho, ponto


Posso ter acordado hoje com pouco sentido de humor, mas a verdade é que não consigo rir com a Petição online, dirigida «aos cidadãos portugueses», em que os signatários (1.568 no momento em que escrevo) «pedem a sua imediata demissão [de Cavaco Silva] do cargo de Presidente da República Portuguesa». E digo que não consigo rir porque só entendo a iniciativa como mais uma brincadeira, a juntar a caricaturas, montagens fotográficas, etc., etc., que, nos últimos dias, inundaram a net.

Mas parece-me que há quem a leve a sério e talvez valha a pena fazer alguns comentários:

1- Nem «os cidadãos portugueses», nem quaisquer outros, podem demitir o presidente da República: só o próprio pode renunciar ao mandato (Artº 131 da Constituição) ou ser destituído do cargo por crimes exercidos no cumprimento da sua função, após condenação pelo Supremo Tribunal de Justiça (Artº 132).

2- As Petições são bons instrumentos de protesto e de expressão cidadã e julgo que é pena usá-las mal.

3- Não sei se não está subentendida a convicção de que Cavaco Silva está diminuído mentalmente – hipótese que corre nas redes sociais e que me parece totalmente descabida –, mas, se assim é, dirija-se um apelo à Ordem dos Médicos ou a um grupo de psiquiatras e neurologistas para que se pronuncie, com os dados histriónicos disponíveis…

Finalmente: se os portugueses conhecem Cavaco no poder há décadas, se o tiveram como PR durante os cinco anos de um primeiro mandato, e o elegeram para um segundo à primeira volta, sem perceberem que a sua principal característica é a mesquinhez, seguida pela mesquinhez e a terminar na mesquinhez, agora, em princípio, vão ter de o aguentar mais uns anos, a não ser que contratem uns jagunços que se infiltrem em Belém para o liquidarem. Aprendam! E recebam-no com muitas vaias, como em Guimarães, o que é muito mais interessante do que assinar uma petição!

Mesquinhez, sim. Para mim, o «retrato» está feito desde há muito. Recorde-se, a título de exemplo, aquilo que, há pouco mais de um ano, fez correr tanta tinta: em 1967, ao ter de preencher, na PIDE, uma ficha que lhe daria acesso a determinados documentos reservados que pretendia consultar, Cavaco acrescentou, por sua exclusiva iniciativa e sem que ninguém lhe perguntasse, que «O sogro casou em segundas núpcias com Maria Mendes Vieira com quem reside e com quem o declarante não priva.»

Aos 28 anos, era já este Cavaco, moralista e mesquinho. Esperava-se que fosse exactamente o quê, com 72?
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16 comments:

Rogério G.V. Pereira disse...

Não, não é resultado de ter assim acordado... Subscrevo tudo o que refere... apenas acho que o adjectivo é curto para esse "coiso"... mesquinho é... curtinho.

ruialme disse...

o mesmo presidente q disse «Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do País com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.» http://www.presidencia.pt/?idc=22&idi=51708

Curioso disse...

http://www.peticaopublica.com/?pi=P2012N19483

Anónimo disse...

Só estou esperando pelo dia em que vão lá meter o Guterres...

folha seca disse...

Cara Joana Lopes
De facto anda-se um bocado a combater com simples "fogachos" aquilo que requer "artilharia pesada".
Temo que se desperdicem os cartuchos que nos restam em acções "expontâneas" e sem objectivos concretos. Oportuno o seu post.
Abraço
Rodrigo

Septuagenário disse...

Cuidado com as petições que podem sair em sentido contrário!

E se alguem se lembra de uma contra-petição?

sem-se-ver disse...

os meus parabéns, Joana, por este seu post

sem-se-ver disse...

os meus sinceros parabéns, Joana, por este seu post

fernando f disse...

Perfeito.

António Cardoso disse...

Olá Joana.Só para efeitos de história contemporanea, que tipo de documentos é que exigiriam o preenchimento daqueles impressos da PIDE ?

Joana Lopes disse...

Não sei exactamente, António.
Neste caso, falou-se de autorização para «manusear documentação restrita na Comissão Coordenadora da Investigação para a NATO.»

Anónimo disse...

Ninguém podia ser funcionário público sem assinar um papel onde se repudiava o comunismo. Assinei esse papel, porque em tempos fui funcionário público. Não me lembro dos termos exactos da declaração, mas, sucintamente, era isso: não aos ideais de uma conhecida potência do leste (não era assim que dizia a declaração, claro, mas era o que queria dizer)

Simão Gamito

Joana Lopes disse...

Simão, para este caso de acesso a documentos reservados, existia um formulário especial que eu em tempos pus aqui.

António Cardoso disse...

Obrigado Joana. De facto, veio a público que um tal general o meteu numa comissão de investigação para a NATO. Agora, Cavacos à parte, que diabo é que a NATO andava a estudar? Eram umas inocentes estatísticas, que davam uns cobres a jovens economistas ou quê?

Espaço do João disse...

A norma 33 do tempo de Salazar, para quem não sabe qual era o documento.
Ou assinas ou vais para as obras.
"Declaro por minha hora que repudio o comunismo e, todas as formas subversivas contra o estado da nação".
Portanto se a constituição não prevê o pedido de demissão do presidente da república, que se organize uma formação de combate e o ponha na rua imediatamente.

Joana Lopes disse...

Não, Espaço do João, neste caso, o documento era outro, não o que todos os funcionários públicos assinavam. Já o disse em resposta a outros comentários.