6.3.12

Ser comunista em 2012



Andava eu pelo Oriente, à procura de um outro texto, e esbarrei neste, de Santiago Zabala, cuja leitura recomendo vivamente.

Quando parece haver medo até de usar alguns termos (neste caso, «comunismo»), e tantos, insuspeitos, pretendem reduzir o horizonte à defesa de realidades bem menos estimulantes e que não regressarão a passados gloriosos (um capitalismo «melhorzinho», a «social-democracia»…), são textos como este que abrem novas avenidas para a esperança.

Alguns excertos:

«Ser comunista em 2012 não é uma escolha política, mas uma questão existencial. Os níveis globais de desigualdades políticas, económicas e sociais, que vamos atingir este ano por causa das lógicas de produção do capitalismo, não são apenas alarmantes mas ameaçam a nossa própria existência.

Embora alguns argumentem que não é necessário regressar ao comunismo para reconhecer estas emergências existenciais, pode ser que ele seja uma teoria prática útil, dado o significado que hoje adquiriu. É precisamente na sua grande fraqueza como força política que o comunismo pode ser recuperado como uma verdadeira alternativa ao capitalismo. O facto de ter virtualmente desaparecido da política ocidental, como programa eleitoral, não implica que não seja válido como motivação social ou alternativa. O que quero sublinhar é que ser hoje um comunista (ou um «protestor») não é necessário apenas pelas ameaças existenciais do capitalismo, mas tornou-se possível também pelo falhanço do comunismo soviético. (…)

O comunismo enfraquecido que temos em 2012 não aspira a construir uma outra União Soviética, mas propõe modelos democráticos de resistência social fora dos paradigmas intelectuais que dominaram o marxismo clássico.»
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7 comments:

Anónimo disse...

Embora entenda que a demarcação de tudo o que cheire a "soviético" traga mais novos talentos para a luta, acho contra-producente usar esse argumento. Ao invés, o falhanço do comunismo do século xxi deve desde logo partir do argumento que o comunismo não conseguiu alastrar-se às metrópoles mais poderosas do capitalismo.

Levando esse argumento mais longe: "o que seria dos EUA se fossem a única nação capitalista do mundo?"

Joana Lopes disse...

Confesso que não percebo o seu comentário.
Além disso: «falhanço do comunismo do século xxi»? Mas o século XXI ainda tem quase nove décadas pela frente…

Anónimo disse...

Realmente, nem eu entendo o que escrevi!
Dito de outra forma: o falhanço do socialismo real na economia deveu-se acima de tudo ao facto de nenhuma revolução do século xx ter atingido os países capitalistas avançados.

O comunismo é uma concepção global, e a deriva soviética para o "socialismo num só país" acontece depois de se perceber que nos países capitalistas avançados a luta de classes cedera aos trabalhadores condições de vida suficientemente boas para não lutarem radicalmente pelo socialismo.

(O capitalismo também não pode funcionar num país apenas. Se o mundo todo fosse socialista à excepção dos EUA e com ele cortassem qualquer tipo de relações mercantis, seria impossível que os EUA continuassem a ser uma potência.)

Onde eu pretendo chegar: condenar a deriva totalitária da URSS é saudável e pode trazer gente nova para a Esquerda, mas a ênfase da luta tem de ser na dimensão internacionalista da ECONOMIA.

NÃO QUEREMOS CONSTRUIR UMA OUTRA UNIÃO SOVIÉTICA. MAS A REVOLUÇÃO QUE EXISTIU EM 1917 FOI FEITA, ELA MESMA, PARA CONSTRUIR UMA OUTRA UNIÃO SOVIÉTICA, QUE NÃO VEIO A EXISTIR POR CULPA DE FENÓMENOS QUE LHE ERAM ALHEIOS.

jotacmarques disse...

Este excerto parece-me mais uma das muitas charadas pseudo-intelectuais que abundam por aí,e que no limite, são paradigmáticas da incapacidade desses intelectuais,de produzirem ideias de jeito que se constituam em alternativas ao modelo capitalista ultraliberal e às defuntas democracias populares socialistas.Esta pérola, " É precisamente na sua grande fraqueza como força política que o comunismo pode ser recuperado como uma verdadeira alternativa ao capitalismo.",o que é que quererá dizer?

Joana Lopes disse...

Um excerto é um excerto e por isso está lá aligação para o texto completo...

Pinto de Sá disse...

É daquelas coisas... eu gostava de ser comunista, como gostava de ser católico... mas falta-me a fé! Para ser católico são todos aqueles dogmas absurdos, e para ser comunista é algo mais complicado: é que por um lado toda aquela teoria da História ser a LUTA DE CLASSES se concilia bem com a agressividade de Engels que Lénine retomou e que acabou infalivelmente na autofagia estalinista e no advento final do revisionismo. Por outro lado, se não fosse isso era lindo, e lá que faz falta algo que defenda o povo, faz...

Joana Lopes disse...

Eu entendo-o, Pinto de Sá... Mas trata-se de uma tentaiva de horizonte futuro, não de um regresso ao passado.