10.5.12

A propósito da Grécia, ainda



No «i» de hoje, mais um excelente texto do Zé Neves: Elogio da esquerda radical grega.

«Um boi não é um elefante, tal como um tigre não é um elefante, mas estes dois factos não permitem concluir que um boi e um tigre são uma e a mesma coisa. Lamentavelmente, é algo tão elementar como isto que a maioria dos comentadores políticos tem dificuldade em compreender, como mostrou a sua reacção às eleições gregas do último fim-de-semana. Os votos gregos, é sabido, permitiram a coligação Syriza obter um extraordinário resultado eleitoral e também permitiram a um partido neonazi entrar pela primeira vez no parlamento. Ora a coincidência entre estes dois factos bastou para que a generalidade dos comentadores políticos viesse a terreiro alertar contra o perigo do extremismo, procurando meter a esquerda radical e os neonazis num mesmo saco. (…)

Mas a vulgata antitotalitária produz ainda um outro efeito não menos preocupante. Ao não hesitarem em dar como iguais a esquerda radical grega e o partido neonazi grego, mostrando tanto empenho na defesa do liberalismo económico (fortemente atacado pela esquerda radical) como na defesa do liberalismo político (fortemente atacado pela extrema-direita), os liberais de hoje não vêem os seus próprios erros actuais. Ávidos de irmanar a esquerda radical e a extrema-direita, os nossos liberais ignoram, por exemplo, que um dos pontos mais relevantes para a actual ascensão dos neonazis gregos (ou da extrema-direita francesa) é a crescente popularidade da sua mensagem de ódio aos imigrantes. E esquecem que neste particular aspecto, como em vários outros, as políticas levadas a cabo pelos partidos liberais do centro-esquerda e do centro-direita, na Grécia como na generalidade da Europa, estão bem mais próximas das políticas de repressão da extrema-direita. E se quem desta se demarca claramente é pelos nossos comentadores tido como radical, pois então que sejamos todos radicais.»

Na íntegra, aqui.
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3 comments:

Niet disse...

O ódio aos Emigrantes - sobretudo muçulmanos- é uma das causas da vertigem neo-nazi junto do eleitorado francês e grego. Mas não é a principal, do meu ponto de vista. Uma insidiosa política económica imposta pelo diktat da União Europeia- que projecta uma vaga de desemprego alarmante e uma desindustrialização avassaladora- e uma destruição " científica " dos efeitos mais simples do Estado-Providência -Segurança Social total e cortes dolorosos nos Cuidados de Saúde- contribuiram para a projecção dantesca do apocalipse nacional-socialista Marine Le Pen em França e o dos seus émulos extremistas neo-nazis gregos. Niet

joão josé cardoso disse...

Joana Lopes, o link tem um erro, o que funciona é este:
http://www.ionline.pt/opiniao/elogio-da-esquerda-radical-grega

Joana Lopes disse...

Muito obrigada. Corrigido.