6.6.12

O quê? A Grécia não é a Letónia?



Christine Lagarde declarou ontem, em entrevista ao jornal sueco Svenska Dagbladet, que «a Grécia e outros países confrontados com a crise da dívida deviam inspirar-se no programa de reformas aplicado pela Letónia» – um caso de sucesso, na sua opinião. 

As reacções não se fizeram esperar, nomeadamente em Atenas, onde a responsável pelo FMI é acusada de estar «um pouco confusa». Depois de ter dito, há alguns meses, que a Grécia devia atingir o nível da Croácia, virou-se agora mais para Norte – não para a Suécia, nem para a Finlândia, mas para a Letónia. 

E recorda-se uma análise que já tem alguns meses (publicada em 27 de Maio de 2011), onde se enumeram os motivos pelos quais o programa de austeridade da Letónia não é aplicável a outros países: 

«Uma vantagem [da Letónia] era ter um nível muito baixo de dívida pública no início da crise. Em 2007, a dívida bruta do governo da Letónia era apenas 9 por cento do PIB, bem menor do que os 25% da Irlanda e muito melhor do que a situação de Portugal (68%) ou da Grécia (105%). É claro que a recessão fez subir a dívida e esta deve ultrapassar 50% do PIB no próximo ano. Ainda assim, a situação é muito melhor do que a dos outros três países que estão a receber ajuda de emergência da União Europeia e do FMI, os quais, em breve, verão a dívida ultrapassar 100% do PIB. Ao longo da história, muito poucos países recuperaram, sem default, de rácios da dívida pública superiores a 100%. 

Uma segunda vantagem é que a Letónia dependia pouco do sector bancário doméstico. Os bancos com base na vizinha Escandinávia dominam o mercado, todos foram atingidos pela bolha imobiliária letã, mas nenhum faliu. Mais importante ainda: poucas perdas bancárias apareceram nos balanços do governo letão. Parex, o maior banco doméstico, foi a única excepção: faliu e foi nacionalizado em 2009, mas a sua quota de mercado no início da crise era apenas 14%. A situação contrasta com a da Irlanda, onde o governo assumiu perdas com a falência dos seus grandes bancos, perdas essas que fizeram com que a modesta dívida pública, com que o país entrou na crise, parecesse uma ninharia. 

A terceira vantagem para a Letónia foi ter uma situação política bastante estável. Seria um exagero dizer que a austeridade foi uniformemente bem recebida pelos eleitores, mas eles reelegeram o governo, em Outubro de 2010, facto citado positivamente pelas agências de rating e raramente o país tem assistido a manifestações violentas. Pelo contrário, os programas de austeridade deitaram abaixo os governos da Irlanda e de Portugal e aumentaram a incerteza. (…) 

Tomando em conjunto estas considerações, pode-se concluir que a austeridade era o caminho correcto para a Letónia? Não necessariamente. 

A Letónia é diferente da Grécia, da Irlanda e de Portugal ainda por um outro factor importante: não é membro da zona euro. Apesar de a sua moeda ter sido indexada ao euro desde 2005, essa ligação é puramente voluntária. Ao passo que não há nenhuma maneira fácil para que um membro da zona euro regresse à sua própria moeda, a Letónia poderia terminar a sua política de câmbio fixo a qualquer momento.» 

(Publicado também aqui.)
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1 comments:

voz a 0 db disse...

Olá Joana...

Nem sabes o prazer que me dá ler este amontoado de letras:
"Parex, o maior banco doméstico, foi a única excepção: faliu e foi nacionalizado em 2009, mas a sua quota de mercado no início da crise era apenas 14%."

APENAS 14%... Que engraçado... Fez-me logo lembrar o BPN

Se há MANADA que merece ser espezinhada é sem dúvida a MANADA PORTUGA...