18.6.12

Sobre a Grécia, no dia seguinte: três recortes



«Uma vitória de Tsipras assustaria os poderes europeus o suficiente para obrigar a uma renegociação da cega política de austeridade que está a assassinar a Europa. Uma vitória de Tsipras e o pânico colectivo de uma saída da Grécia do euro pressionariam uma saída para a crise que se arrasta há dois anos e que nem a queda de Espanha nem a iminente derrocada de Itália conseguiram ainda forçar. (…) Para quem teme a emergência dos extremos na Europa os resultados na Grécia estão longe de traduzir qualquer sossego. E quem teme a implosão do euro não tem qualquer razão para festejar. Os mercados vão descansar um dia, mas na terça-feira, sem Tsipras, o descalabro vai continuar.»  
Ana Sá Lopes 

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«O dia seguinte mais importante, depois destas eleições gregas, não é o que ditará a formação com sucesso dum governo fiel à disciplina da troika. O dia a seguir que importa é aquele em que em Berlim e Bruxelas tombe o véu da crispação, e seja visível que o que está em causa não é "salvar a face" perante um povo que recusa continuar a engolir a cicuta de uma austeridade irracional, mas sim garantir o direito ao futuro, com paz e prosperidade, de 500 milhões de europeus habitando nos 27 países da União Europeia. Ou todos perderemos, e a Europa recua da civilização à barbárie. Ou todos venceremos, e seremos capazes de construir uma Europa federal, como comunidade de destino.»  
Viriato Soromenho-Marques 

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«Ao contrário do que muitos pensam, a vitória da ND é um passo mais rápido para a saída grega do euro do que seria a vitória do Syriza. Não obrigando a Europa, que terá mais dificuldade em livrar-se da Grécia - pelos efeitos de contágio que isso provocará - do que se julga, a mudar de rumo, a austeridade tratará de fazer o que a direita julgava que um governo de esquerda faria. Estas eleições foram, desse ponto de vista, uma oportunidade perdida. Em vez de a travar, a Grécia apenas terá abrandado a loucura alemã. Mas todos os que o quiserem perceber, perceberam: paira sobre a Europa o espectro da revolta. O tempo do mais estúpido dos consensos - o da austeridade - acabou. Ela poderá continuar. Mas está cada vez mais frágil.»
Daniel Oliveira

3 comments:

João Almeida disse...

A principal reflexão que deve ser feita pelos políticos e pelo povo europeu sobre os resultados das eleições na Grécia é o facto de cerca de metade dos gregos terem votado em partidos extremistas, anti-democráticos e anti-europeístas.

Deve ser o melhor resultado dos partidos extremistas na Europa desde o final da II Guerra Mundial.
Assustador.

Joana Lopes disse...

João Almeida,
Pelo menos tão assustador, para mim, é que tantos gregos ainda tenham votado nos partidos que os levaram aos estado em que estão. Foram esses partidos os principais responsáveis pelos extremismos que refere.

meirelesportuense disse...

Concordo com a Joana, terrível é ver que a maioria do Povo quer manter a situação existente, as pessoas são inteligentes, podem não ser valentes mas são perspicazes e sabem bem o que lhes está a suceder, portanto não há muito a fazer a não ser lamentar a falta de ousadia demonstrada.