26.7.12

Ficar em casa



«O não viajante parece-me que existe em animação suspensa, se não na morte viva de uma rotina caseira ou no conhecido estupor vegetativo da vida sedentária. Desde muito cedo que desejei sair de casa e pôr-me ao caminho. Não consigo imaginar não viajar ─ estar o tempo todo preso em casa, no confinamento de uma habitação, de uma comunidade ou de uma cidade. Todavia, há pessoas que nunca saem ─ distintos escritores e pensadores, presos às suas secretárias, às suas cidades, fazendo disso virtude. Em toda a sua vida de oitenta anos, Immanuel Kant nunca viajou a uma distância de mais de cento e sessenta quilómetros da sua terra natal, Königsberg (actual Kalininegrado), onde morreu. Philip Larkin, que mal se mexia da sua casa em Hull, na costa inglesa, disse: "Não me importava de ver a China se pudesse voltar para casa no mesmo dia". Não será preciso dizer que viveu grande parte da sua vida com a mãe.» 

Paul Theroux, A Arte da Viagem, Quetzal, 2012, p. 211
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1 comments:

Septuagenário disse...

Há gente muito caseira.
Havia aquele que ainda chegou a ir à Merida.
A muito custo!