15.11.12

A violência da polícia



Sobre o que se passou ontem no fim da manifestação que encerrou o dia de greve, os factos são conhecidos e as imagens ainda mais.

Foi longuíssima a discussão pela noite dentro (refiro-me ao Facebook) e ainda dura. Podia escrever ecrãs sobre a mesma, mas vou tentar ser breve.

1. Não sei quem são as poucas dezenas de pessoas (20, 30, não interessa) que, durante horas, atiraram pedras à polícia. Não sei se havia ou não infiltrados, há quem jure que sim, mas passo à frente deste ponto (que sei não ser despiciente). O que pergunto é por que misteriosa razão (ou talvez não) aquela barreira de agentes militarizados, e todos os outros que estavam por perto, não receberam ordem para rodear essa pequena frente de manifestantes para a impedir de continuar. Tinha sido muito fácil e não pode ter acontecido por acaso. 

2. O que se passou a seguir – invasão de todo o espaço à bastonada, provocando dezenas de feridos, e perseguições em muitos outros locais da cidade – foi de uma violência absolutamente desproporcionada que, escandalosamente, não vi nem comentadores, nem responsáveis políticos, condenarem veementemente durante todo o serão televisivo. Na melhor das hipóteses, assobiaram para o lado. E este foi o saldo mais grave da noite de ontem. Porque o que se impõe é travar, pelo protesto individual e colectivo, esta ascensão superiormente planeada da violência policial, agora mais clara do que nunca.

3. Incidentes deste tipo existem na Grécia, em Espanha, e não só, numa escala muito maior, e era mais do que garantido que cá chegariam. Ou continuamos a achar que somos diferentes? Há que aprender a viver com eles, em vez de chorar sobre o leite derramado, e compreender que eles são, cada vez mais, a ponta de um icebergue de fúria que vai crescendo na população portuguesa – não tenhamos ilusões. Estou com isto a dizer que bato palmas a quem ontem atirou pedras? Não, de modo algum. A «fúria» que refiro não se exprime desejavelmente à pedrada. Mas existe. 

4. Àqueles que consideram que o que se passou vai diminuir a força das manifestações e inibir muitos mais de vir para a rua, por medo, digo, por um lado, que olhem para os outros países (não é isso que está a acontecer) e, por outro, que não menosprezem assim tanto os portugueses. Certamente que não esperavam que tudo se passasse, sempre, com meninas bonitas a abraçarem polícias... Isso não vai acontecer.

P.S. 1 – Propositadamente, não falei de outro ponto absolutamente fundamental: as prisões e o modo como terão ocorrido. Fica para mais tarde. 

P.S. 2 - Ler: Vítor Belanciano, Eles não aprendem nada
.

17 comments:

Miguel Tomar Nogueira disse...

O que me deixa perplexo na comunicação social é porque razão não existe uma única entrevista a manifestantes a passar nas peças depois da carga.

Anónimo disse...

...."e perseguições em muitos outros locais da cidade" Não deve ter visto os caixotes a arder, as montras partidas, os carros vandalizados, etc. pelas ruas adjacentes ao parlamento. Não deve ter visto a agressividade com que essas bestas cobardes de cara tapada atiravam pedras à policia. É evidente que muita gente estava lá a manifestar-se de forma ordeira e sem intenção de causar distúrbios. Mas dizer que a policia devia ter cercado os marginais como se estes "profissionais" do crime ficassem paradinhos à espera de ser apanhados é simplesmente tonto!! No meio da confusão é evidente que muitos cidadãos apanharam sem motivo, mas é caso para perguntar: O que faziam junto destas bestas? Não deviam ter repudiado tais comportamentos? Ter-se afastado deles? Não vi nada disso! Ao associarem-se, ainda que involuntariamente, a esta escumalha que apenas quer semear o terror, estão a pactuar com eles! Manifestação foi o que a CGTP fez! Atirar pedras e petardos é banditismo!

Joana Lopes disse...

Caro anónimo,
Vi tudo. Não dever ter lido tudo o que escrevi ou não percebeu.
E condenar quem não se retirou com a CGTP é de homem! (Ou de mulher: com anónimos nunca se sabe...)

Anónimo disse...

Cara Joana,
"E condenar quem não se retirou com a CGTP é de homem" diga-me onde é que eu disse isto? Não deve ter lido o que escrevi ou não percebeu.

Joana Lopes disse...

«Ao associarem-se, ainda que involuntariamente, a esta escumalha que apenas quer semear o terror, estão a pactuar com eles! Manifestação foi o que a CGTP fez!»

Anónimo disse...

Diga-me, onde é que isto condena quem não se retirou com a CGTP. Já vi que se barricou e que não vale a pena continuar a discussão. Fique bem!

Santos Carvalho disse...

Não preciso do anonimato, para dizer o penso, e o que penso sobre o que "anónimo" disse, subscrevo. Lamento todo o tipo de violência, venha ela donde vier. Nestes casos há sempre quem tenha opiniões diferentes. Quando tudo termina, é fácil dizer que se deveria ter feito desta ou outra maneira. Já "levei" por estar no local errado na hora errada. Para se ter uma visão justa, é necessário estar nos dois lados da barricada...

Santos Carvalho disse...

Já agora, vale a pena ler:

http://expresso.sapo.pt/o-sor-desculpe-por-acaso-estava-a-apedrejar=f767093

Anónimo disse...

Cara Joana,

Que a senhora é de extrema esquerda, ou extremíssima melhor dizendo, «tá na cara».

Não entendo o que a leva a escrever este pobrérrimo artigo, que devia se envergonhar como portuguesa. Decerto devia ser uma das que estava com lenço na cara para não ser reconhecida ... mas decerto foi a primeira a fugir.

Não entendo o seu esquerdismo, pois pelos seus posts do Verão passado em que publicou dias a fio fotos da sua viagem pelo oriente, não sendo a primeira, decerto não está dentro dos mais necessitados, antes pelo contrário.

Deve ser mais uma a viver duma bela reforma do Estado ... se alguma vez trabalhou!

Tenha cuidado com o que escreve, pois este post foi mais um exercício de radicalismo, igual a tantos outros, só igual aos da extrema direita.

Por isso se diz. "os extremos tocam-se".


Joana Lopes disse...

Anónimo das 15:53,
O seu comentário não me tira um minuto de sono e escusa de tentar meter medo porque não resulta. «Envergonhar como portuguesa»? Deixe-me rir!
Para que os extremos se toquem é necessário que existam. Não acontece no seu caso, certamente.

Joana Lopes disse...

Santos Carvalho,
Não entendo bem o que quer dizer com: «Para se ter uma visão justa, é necessário estar nos dois lados da barricada...». Nunca se está, exactamente.
Obrigada pelo link ao texto do HM, que ainda não tinha lido.

Santos Carvalho disse...

Joana Lopes
O quero dizer é exatamente isso, nem mais nem menos.

Helena Romão disse...

Tanto nome tapado cheio de certezas absolutas sobre caras tapadas! Cada um fala do que sabe, claro.

Anónimo disse...

E falar de política, não? Vamos continuar a fazer o jogo do Governo e a perder tempo a falar de bastonadas?
E construir alternativas, não? Vamos continuar a encher chouriço e a passar o tempo com 14N, 15O, 12M, 15M e o raio que o parta enquanto eles ganham eleições e formam governos?

Rogério G.V. Pereira disse...

Há um aspecto relevante que ninguém referiu... é que houve uma greve!

Se a arruaça não tivesse funcionado ou a policia a neutralizasse calmamente, hoje estaríamos a falar da greve.

Nem é preciso censura! Basta uma trama bem urdida... e quem vá na cantiga!

Tripalio disse...

Estive na manif da CGTP e fiquei um pouco na inorganica. Fui me embora quando as pedras começaram a rolar. E lamento dizer mas havia um gozo especial nas pessoas , quando eram enviadas as pedras aos policias. Era uma espécie de circo romano, um prazer na violencia. Foi isto que senti e me repugnou. Não me admira que a policia tenha investido ( á bruta já se sabe). a questão é que se abriu uma porta que não sei bem como vai fechar-se. Não tenho pachorra para o pessoal intlectual tentar justificar violencias ( de um lado ou de outro). Na Grecia levou a conflitos sérios entre manifestantes e por cá como será?

Anónimo disse...

Não há justificação nenhuma para a violência, tanto de um lado como do outro. Mas quer-me parecer que se a polícia tivesse cercado e controlado logo o foco de perigo (como já mostrou que o consegue fazer noutras manifestações) não teria havido actos de vandalismo pelas ruas adjacentes (caixotes do lixo queimados, montras partidas, etc.) nem teria havido pessoas inocentes a levarem bastonadas apenas por se encontrarem nas imediações. Poder-se-ia ter detido os verdadeiros infractores às primeiras pedradas, evitando males maiores e garantindo a segurança pública (que afinal, é a função deles). Mas por alguma razão, isso não aconteceu e não consigo perceber porquê.