21.4.12

Um terrivel testemunho [25 de Abril -4]

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Quando encontrei ontem o Fernando Vicente, no jantar comemorativo do 25 de Abril, lembrei-me de que nunca tinha divulgado este seu testemunho. Aqui fica.



Fernando Vicente nasceu em 12 de Junho de 1941. Foi dirigente estudantil de 1962 a 1967, no Instituto Superior Técnico, onde completou o curso de engenheiro civil. Durante o serviço militar obrigatório, esteve na guerra colonial, de 1968 a 1971. Em 10 de Novembro de 1972, foi preso pela PIDE que o acusou de pertencer ao PCP. Foi submetido a tortura de 14 de Novembro a 17 de Dezembro de 1972. 

Militante do PCP de 1962 a 2009, foi um dos quadros mais responsáveis pela realização da Festa do Avante, de 1977 a 2004, e membro do Comité Central deste partido de 1975 a 2004. 

Há cerca de um ano relatou, na SIC, as torturas a que foi submetido pela PIDE, quando foi detido em 1972. Terá sido o preso político que a mais tempo de tortura do sono foi submetido (31 dias e noites em 33 dias), em três períodos consecutivos de 5, 13 e 13 dias e noites sem dormir. 
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Alguma parecença…


. … com isto?

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Como o comandante Smith do Titanic

«Cavaco Silva parece o comandante Smith do ‘Titanic’, entregue ao desfecho fatal calculado e anunciado. Ora ao PR não se pede apenas a manutenção de uma atitude de dignidade pessoal. Exige-se uma acção determinada, antes que escreva um novo prefácio sobre impotência gestionária. Exige-se--lhe o exercício pleno das suas competências, vetando os diplomas que tiver de vetar politicamente, enviando para o Tribunal Constitucional aqueles que merecerem suspeição de transgressão legal. O que o PR não pode repetir é o acto de submissão e de cumplicidade com que promulgou, pela calada da véspera de um feriado, o decreto sobre a suspensão "temporária" do recurso às reformas antecipadas. A credibilidade activa do PR é essencial para o regular funcionamento das instituições democráticas.» 

José Medeiros Ferreira
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Solidariedade



Texto aprovado ontem à noite, na Cantina velha da Cidade Universitária de Lisboa. 

Moção de solidariedade com a Escola do Alto da Fontinha 

Cerca de 200 pessoas, reunidas no jantar comemorativo do 38º aniversário do 25 de Abril, não podem deixar de exprimir o seu veemente protesto em relação aos acontecimentos ontem verificados, no Porto, com o desmantelamento do Projecto Es.Col.A do Alto da Fontinha. 

Onde e quando se esperava que os responsáveis da autarquia apoiassem e incentivassem uma iniciativa cidadã a todos os títulos notável, assistiu-se a uma acção brutal e destruidora. 

Não foi para isto que foi feito o 25 de Abril, não é esta a democracia por que lutámos e que queremos continuar a defender. 
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20.4.12

[25 de Abril -5]



ABRIL DE ABRIL 
 
Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos. 

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril. 

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos. 

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro. 

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava. 

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas. 

Manuel Alegre
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As retinas de Rui Rio



«Como os "Blue Meanies" de "O submarino amarelo", as retinas de Rui Rio não suportam as cores vibrantes e indisciplinadas dos sonhos. Ontem, por sua ordem, a Polícia cercou o bairro, invadiu armada a Escola da Fontinha, prendeu pessoas e destruiu e pilhou as instalações. E Pepperland voltou de novo a ser cabisbaixa e cinzenta.»  

Manuel António Pina

Os elefantes que paguem a crise



A crónica de Ricardo Araújo Pereira, ontem, na Visão, a propósito do acidente do rei de Espanha em África e do tiro no pé de um dos seus netos: 

«Não admira que tenhamos ganho tantas batalhas a esta gente. (…) Era óbvio que um povo assim só podia produzir soldados como os que, em Aljubarrota, no ano de 1385, claudicaram perante uma das nossas melhores profissionais da indústria de panificação. (…) O que é incrível é (…) Portugal não ter organizado um exército composto por meia dúzia de padeiras que alargasse as nossas fronteiras até França. Era trabalho para duas ou três semanas.» 

Na íntegra AQUI.
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19.4.12

A Escola da Fontinha era isto




Nuno Ramos de Almeida esteve lá e explicou o que viu, na TVI24 (15/4/2012):



Ler: Ocupar é urbanizar: sobre a Es.Col.A da Fontinha



Hoje, ficou assim: 


Ver, por exemplo, Fontinha: «Hoje foi o 24 de Abril»
Ler: “Destruíram tudo, desde computadores, bicicletas e até brinquedos de crianças”

«Tabu» – Um grande filme



O realizador é Miguel Gomes (o mesmo a quem se ficou a dever Aquele querido mês de Agosto), o filme ganhou recentemente o Prémio da Crítica no Festival de Cinema de Berlim e é magnífico. Mas não é um filme sobre a Guerra Colonial, nem sobre retornados, ao contrário do que para aí se diz...







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Alto da Fontinha – a versão da CMP e a versão da Escola



A propósito do comunicado da Câmara Municipal do Porto, há pouco divulgado, é importante conhecer um texto publicado, há dois dias, no blogue da Escola.  

Papel. Mas que papel? 

“A licença foi renovada e prolongada até ao passado mês de março”. Esta frase foi repetida em vários cabeçalhos noticiosos há cerca de dois meses, altura em que o Es.col.a veio a saber da intenção da CMP despejar a escola ocupada em Abril de 2011, no Alto da Fontinha. Como é que, de forma instantânea, uma ordem de despejo se transforma num prolongamento dum contrato que nunca existiu? Por mais insistência com que esta data de fim de março seja apresentada pela autarquia e pelos media, a verdade é que apenas soubemos dela através duma carta de despejo, que não foi sequer enviada directamente ao projecto ou à sua Assembleia. 

Mas aqui estamos já a meio dum longo caminho no qual a CMP, através dos media, quer transmitir a versão que lhe convém, travestindo-a de factos assumidos e absolutos. Resta-nos a nós a desmontagem de alguns dos argumentos dos quais a CMP se faz valer para tentar justificar o despejo do projecto que no último ano deu vida a uma escola que estava abandonada há mais de 5 anos por essa mesma câmara. 

Continuar a ler aqui.
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Es.Col.A no Alto da Fontinha – agora



O projecto Es.Col.A no Alto da Fontinha (Porto) está a ser despejado neste momento pela polícia. 
Apelamos a todos os que estejam perto da Fontinha para apoiar a resistência. 

Apelamos a todos os outros para enviar e-mails de protesto para presidente@cm-porto.pt 

A Câmara Municipal do Porto, ao não ter cumprido com o acordado, está a tentar matar algo que reabilita a zona do centro do Porto e que tem o apoio da população.
O Es.Col.A não será nunca despejado, porque não se pode despejar uma ideia. 

 (#Portugal Uncut)

P.S. – 10:20: «A polícia está a cercar o quarteirão do Alto da Fontinha, no Porto, numa operação para desalojar os activistas do movimento Es.Col.A.. Esta manhã, população e ativistas envolveram-se em confrontos com as forças de segurança e um jovem de 20 anos foi atingido por um taser da polícia, soube o JN no local. Toda a zona da Fontinha, no Porto está cercada pela polícia, que iniciou a operação de despejo da antigo escola primária do Alto da Fontinha, cerca das 10 horas. Assim que chegaram ao local para proceder ao despejo da escola, a população saiu em defesa dos ativistas, envolvendo-se em confrontos com os agentes do corpo de intervenção. "Houve confrontos entre a população local e as forças de segurança", explicou Nádia Leal, uma moradora, ao JN. Um jovem de 20 anos foi atingido por um taser da polícia, soube o JN. E, segundo a página do Facebook do movimento Artigo 21.º, "há, pelo menos, duas detenções até ao momento". "Estão aqui 20 carrinhas da polícia, vários carros e um cordão policial. O bairro está todo cercado. O despejo está a ser feito de forma violenta: uma moradora disse-me que estavam a bater nas pessoas", afirmou Ana Afonso, do coletivo Es.Col.A, que está do lado de fora do cordão policial e ainda não conseguiu contactar os membros do coletivo que se encontravam no interior do edifício.»
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Boa pergunta

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Já quanto à resposta, business as usual.

Ontem, em Estrasburgo, no debate plenário sobre as medidas concretas de combate à crise, Marisa Matias e o Vice-Presidente da Frente Nacional (França). 
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18.4.12

Contra a Censura LGBT na Rússia e pela Libertação da banda Pussy Riot


Protesto junto da Embaixada da Federação Russa em Lisboa  - Sábado, 21 de Abril, às 13:00 

Assinei esta Carta Aberta: 

Carta Aberta 

As organizações e pessoas abaixo assinadas vêm deste modo protestar junto da Embaixada da Federação da Rússia em Portugal, Presidência da Federação da Rússia e da Duma contra a possível aprovação da lei Anti-Propaganda Homossexual e contra a detenção dos membros da banda punk feminista Pussy Riot. 

Como ativistas LGBT, feministas e defensores dos direitos humanos estamos extremamente preocupados com a lei Anti-Propaganda Homossexual aprovada e em vigor nas cidades de São Petersburgo, Arkhangelsk e Kostroma. 

Esta lei visa criminalizar a divulgação de mensagens que promovam os direitos LGBT punindo com multas quem as emitir ou propagar. Os promotores desta lei, para além de equipararem a homossexualidade à pedofilia defendem que a promoção desta constitui uma influência negativa para as crianças, podendo igualmente ofender a maioria da população russa. 

No dia 29 de Março, uma versão similar da mesma lei deu entrada na Duma (parlamento da Federação Russa). A ser aprovada estender-se-á a toda a Rússia e colocará em risco não só os direitos de todas as pessoas LGBT mas também de todos os defensores dos direitos humanos. Apesar de esta lei não prever a pena de prisão, no dia 8 de Abril Sergey Kondrashov foi preso por segurar um cartaz que dizia "Uma querida amiga da família é lésbica. Minha esposa e eu a amamos e a respeitamos. E sua família é exatamente igual a nossa." 

O Parlamento Europeu já emitiu, este ano, uma resolução condenando e exortando “todas as autoridades russas a porem termo às restrições à liberdade de expressão no que se refere à orientação sexual e à identidade de género, em conformidade com a Convenção Europeia dos Direitos Humanos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos; solicita à Alta Representante/Vice-Presidente da Comissão que transmita a oposição da União Europeia a estas leis”. 

Por isso, exigimos a imediata suspensão da lei Anti-Propaganda Homossexual e o efetivo cumprimento dos tratados internacionais por parte das autoridades russas. 

Como defensores da liberdade de expressão exigimos igualmente a libertação de Maria Alekhina, Nadezhda Tolokonnikova e Ekaterina Samucevich membros da banda punk feminista Pussy Riot. 

No dia 4 de Março, as autoridades russas detiveram Maria Alekhina e Nadezhda Tolokonnikova e, no dia 15, Ekaterina Samucevich por conduta desordeira e hooliganismo depois de terem cantado numa catedral um hino anti-Putin. Estas mulheres podem ser condenadas a 7 anos de prisão por isso, a Amnistia Internacional reconhece-lhes o estatuto de prisioneiras de consciência e pede a sua libertação imediata no entanto, as detenções mantêm-se estando o julgamento marcado para o dia 19 de Abril de 2012. 

Consideramos inadmissível a violação dos direitos LGBT, a recusa em proteger as minorias sexuais e o ataque à liberdade de expressão que está a ser promovido pelas autoridades políticas e pela Igreja Ortodoxa russas. 

Vimos assim demonstrar a nossa solidariedade com todas as organizações, grupos e pessoas afetados por esta lei homofóbica, exigir a libertação das Pussy Riot e condenar as politicas discriminatórias das autoridades russas que têm como objetivo atacar as minorias sexuais, impedir a liberdade de expressão e de exercício duma cidadania livre pondo em risco o regime democrático e a laicidade da Rússia. 

APOIAMOS TODOS OS ACTIVISTAS E GRUPOS RUSSOS QUE LUTAM PELOS DIREITOS LGBT! EXIGIMOS A IMEDIATA LIBERTAÇÃO DAS PUSSY RIOT! POR UMA RUSSIA LIVRE E DEMOCRÁTICA! 

 Subscrições Individuais:


Todos os anos pela Primavera [25 de Abril -7]



 Um texto de Diana Andringa.

Todos os anos, pela Primavera, se surpreende a olhá-los, a esses presos sobre quem - sem que sobre eles os anos passem, fixados para sempre, jovens, surpresos de liberdade e alegria, nesse ano mágico de 74 - ano após ano se abrem as mesmas portas da mesma prisão, com um olhar onde se misturam a emoção e a inveja. 

A inveja, sim. 

Levou muito tempo a pensar a palavra certa. Que sentimento era aquele que se somava ao outro, colectivo, obrigatório, a emoção perante as grades finalmente abertas? Demorou-lhe admitir que era a inveja. (Ainda não se tornara moda recordar que é com essa palavra que fecham os «Lusíadas».) Mas que outra coisa poderia ser, afinal, se só eles, eles, frente a quem se abriu essa última porta, esse gradão entre o interior e o pátio do Forte de Caxias, puderam sentir inteiramente o significado desse dia, a liberdade reencontrada, a liberdade política, certamente, mas também (mas sobretudo?) a física, nenhuma porta mais, nenhuma grade, entre eles e os que os esperam, entre eles e os mil gestos quotidianos cuja ausência se descobre custar tanto a suportar, tirar da estante um livro ao acaso, abrir uma cerveja, pôr um disco a tocar fora da curta hora autorizada, estiraçar-se no velho divã, discar no telefone o número de um amigo. Luxos irreconhecidos como tal até então, tomar banho em banheira, dormir sem horário, acender um fogão, comer em prato de louça, pedir uma bica escaldada, sorrir a alguém que não se conhece, apagar uma luz, rodar a chave numa porta - coisas de todos os dias, importantizadas pela ausência. 

Então, o abrir da porta, essa porta que todos os anos se abre de novo sobre eles, jovens como então eram, sem que nada nos seus traços revele o cansaço ou a desilusão dos anos que se seguiram, traz-lhe a inveja do momento único e irrepetível, daquele instante fugaz em que tudo foi possível, mesmo aquilo que nunca chegaria a sê-lo. 

Inveja-lhes esse momento que não teve, essa possibilidade de juntar, no mesmo abraço, no mesmo riso, a liberdade de todos e a sua própria, a festa individual e a festa colectiva. 

Teria sido bom, pensa, ter saído da cadeia nesse exacto momento, sem o sentimento de culpa dos ficados para trás, porque todos estariam saindo ao mesmo tempo. 

E o 25 de Abril é também isso, ou antes, a memória disso, desse sair lento, quase contra vontade, o coração dividido entre quem espera lá fora e quem, na cela que se acaba de deixar, ficou de repente mais preso e indefeso, das portas que se fecham à passagem, repetindo, no sentido inverso, o ritual do dia da entrada. 

Da última porta desse primeiro dia, a castanha, aquela por onde espreita o olho de quem guarda, para impedir a fuga ou o suicídio, porque nenhum captor gosta que o capturado se lhe escape, excepto quando o suicídio dele seja obra sua.

Das grades em frente, duplas, abrindo sobre o rio ou sobre um muro outro, com os passos de um guarda em cima. 

Das paredes brancas, de que se aprendem uma a uma, de tanto as contemplar, as rugosidades. 

Dos apitos a ritmar o dia, do bater das grades noite após noite, coisa de verificar se continuavam inteiras, se preso nenhum preparava a fuga através delas. 

Da voz que anuncia: «Prepare-se para sair para interrogatórios.» 

A tosse de um companheiro, no corredor ao lado, indicando o seu regresso de interrogatórios. 

O choro solto de uma presa, na cela da frente, ou o arfar asmático, ofegante, de alguém a sufocar numa cela próxima. 

Os risos das presas muitas jovens na cela ao lado, cada dia fazendo da prisão um lugar habitável onde a vida continue - até conseguirem pôr nela o cheiro de bolos acabados de fazer. 

O grito da mulher chamando o filho, no bairro de barracas em frente da prisão. Os pesadelos dos presos adormecidos. 

O toque do clarim anunciando a morte do ditador. 

O som de passos e o som de portas. 

Até mesmo, um dia, o mais inesperado, o mais esperado dos sons, o assobio de uma coladera, de um amigo que diz: «Sou eu, estou vivo, estou bem, estou a passar à tua porta.» E a voz última: «Junte as suas coisas para sair em liberdade.» 

Liberdade. 

No dia 25 de Abril e nos seguintes, lembra-se, andara perdida pelas ruas, a tentar reter para sempre o que podia significar essa palavra. Da gente que chorava à gente que ria, dos que tinham cravos nas mãos à jovem que desenhava foices e martelos vermelhos nos carros militares que passavam. 

Lembrara-se de Hemingway, porque Lisboa era, nesses dias, uma festa móvel. 

Mas quando lhe perguntam o que foi para si o 25 de Abril, é ainda um som o que lhe ocorre. Ouviu-o nos corredores do Metro da Rotunda. Um som conhecido e desconhecido, um som até então clandestino e nesse dia solto, vibrante, irreprimível, que foi reconhecendo enquanto se aproximava. Surgiam-lhe as palavras na memória, em línguas várias: «De pé, oh vítimas da fome... Il n'y a plus de sauveur suprême, ni Dieu, ni César ni tribuns... Arroupons-nous, hermanos.» 

Era um cego, no seu acordeão. O mesmo que, na véspera, pedia esmola, ao som da Júlia florista.

(P.S. - Publicado há três anos no blogue Caminhos da Memória.)
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Vampiros de todo o mundo, uni-vos




60 a 70 euros por semana, somados ao subsídio de desemprego «es una forma de vivir». 

Comentários para quê.
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Troikas há muitas (A dança dos feriados)




Um enviado do Papa a Lisboa, Fábio Fabbri, declarou à TSF que «não se podem deitar fora celebrações essenciais», no caso vertente as que têm lugar em 1 de Novembro e em 15 de Agosto. Para além de algumas comparações curiosas (ficámos a saber que se deve festejar a subida da Virgem ao céu, em corpo e alma, já que esse «é o destino de todos nós, de certa forma» e que tal como as mães, a Igreja por vezes cede e faz de conta que não vê que os filhos estão a roubar a marmelada), pergunta-se: Et maintenant?, como canta um, Que faire?, como perguntava outro. 

O que dirá a troika? E vai o governo eliminar (já eliminou?) dois feriados mas manter estes? «Laicamente», não comemoraremos com folga nem Restauração nem República, mas sim Assunção e Todos os Santos? Seria extraordinário, mas nunca se sabe… 

O problema de Passos Coelho é que a troika do Vaticano é outra: o Pai não se mete nestes assuntos, o Filho tem mais que fazer e o Espírito Santo não deve perceber nada de finanças. 
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17.4.12

Em Coimbra, há 43 anos



No dia 17 de Abril de 1969, Alberto Martins, então presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra pediu a palavra, em nome dos estudantes, na cerimónia de inauguração do Departamento de Matemática, presidida por Américo Tomás. Claro que não lhe foi concedida. Foi o pontapé de saída para uma longa crise estudantil.

No vídeo, o comentário do Ministro da Educação (sim, é ele e ainda anda por aí)





Ler: Miguel Cardina, «Crise de 69»: o conflito que nasceu da palavra negada
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Portugal versus Guiné



É isto mesmo:

«Há algum paternalismo de extracção vagamente neocolonial na forma como Portugal aborda e enfrenta as questões relacionadas com os novos países de língua oficial portuguesa. (…) 

Vem isto a propósito do modo como Portugal reagiu ao golpe militar na Guiné-Bissau, mobilizando e mandando de imediato avançar a tropa, o que poderá ser visto como dar continuação à política por outros meios (...). Ou seja, comportando-se como potência administrante de um país independente. 

Há governantes portugueses que parecem não perdoar a si próprios o facto de terem perdido a oportunidade histórica de seguir a política da velha senhora.» 
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«Eu não sei o teu nome, mas sei que te posso ajudar»



Foi o primeiro choque do dia: através do Bruno Carvalho, cheguei a este inacreditável hino do Movimento Zero Desperdício, lançado «com o alto patrocínio da Presidência da República» e que quer «aproveitar os incontáveis desperdícios de bens, produtos e recursos existentes, um pouco por todo o país». 

O espírito insuportavelmente caritativo do movimento está bem espelhado na letra que dezenas de músicos se prestam a cantar. É um insulto aos que da campanha tirarão proveito, um atestado de infantilidade para aqueles que se pretende mobilizar. Uma vergonha para todos nós. 



Nas curvas da vida, levamos por vezes uma chapada de desilusão com actos de alguém de quem não os esperávamos. Hoje foi o meu dia e tem um nome: Sérgio Godinho. 

P.S. - Esta canção tem 35 anos. Nunca pareceu tão actual.
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16.4.12

Mas que dois...



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Quando o PPD era pela Reforma Agrária, mas…



Falar-se de «a terra a quem a trabalha», a propósito do leilão anunciado por Assunção Cristas, vem a irritar-me desde há alguns dias.

Hoje, o Diário de Notícias dá grande realce dá ao tema, dedicando-lhe duas páginas da sua edição em papel, com o significativo título: «Da Reforma Agrária à nova bolsa a terra é para quem a trabalha». Uma mistura de textos, alguns úteis porque refrescam a memória (embora tenha detectado algumas incorrecções) ou divulgam testemunhos sobre as condições complicadas em que o que é agora anunciado se vai passar, outros que revelam colagem às «boas intenções» governamentais e ignorância ou inconsciência ao insinuarem uma comparação, ou pelo menos aproximação, entre duas realidades que se situam nos antípodas: a Reforma Agrária e o leilão da Cristas. A título de exemplo, leia-se na p.4: «O leilão dos derradeiros hectares que restavam ainda da Reforma Agrária –“P’ra dar a terra àquele que a trabalha / Reforma Agrária faremos!”, cantava, em 1975, José Mário Branco com o GAC, eternizando a memória desse temposerve, no fundo, como um sinal de que o Governo pretende rentabilizar todas as terras disponíveis com potencial».

O cartaz que ilustra este post é de 1975, ano em foi publicado o primeiro texto integral sobre a Reforma Agrária (Decreto-Lei n.º 203-C/75, de 15 de Abril de 1975), completado uns meses mais tarde por um outro (Decreto-Lei n.º 406 – B/75, de 29 de Julho de 1975). Vale a pena relê-los, nem que seja em diagonal.

A história do que depois aconteceu está em grande parte por fazer mas resume-se grosseiramente, na memória colectiva, à condenação do PCP (todos sabemos que os comunistas fritavam criancinhas com torresmos nas cooperativas alentejanas…) e de alguns outros movimentos esquerdistas, seguida pela glorificação do 25 de Novembro que veio «restabelecer» a democracia e, entre muitas outras coisas, iniciar o processo com que António Barreto preparou o enterro da Reforma Agrária.

Era isso que o PPD já apregoava no cartaz que ilustra este post, embora se dissesse a favor (como não, em 75, antes de Novembro!…). Assunção Cristas talvez gatinhasse mas ainda nem saberia andar e nós não sonhávamos que um dia, 37 anos mais tarde, assistiríamos a este «leilão» – felizmente, para a nossa saúde mental.

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Lá no Alto da Fontinha



No seguimento do que publiquei há alguns dias sobre o caso da Es.Col.A do Alto da Fontinha (Carta Aberta, vídeo com a história de um ano de ocupação e texto de Nuno Ramos de Almeida), mais este documento:  

Declaração Conjunta de Apoio

Lá do Alto da Fontinha dá vontade de planar. Vê-se outra cidade a ser construída. Tijolo a tijolo, dia-a-dia, mão a mão, sorriso por sorriso. Aquilo que parecia um abismo – uma escola vazia, abandonada e arruinada – tornou-se o próprio espaço do sonho.

Com os pés assentes na terra, constrói-se a solidariedade, o espirito comunitário, uma ideia de utilidade pública alicerçada na ajuda mútua e na partilha livre do conhecimento. Ali faz-se ainda a democracia directa e participativa que falta. Ali aprende-se a estar vivo. Ali vê-se que a crise que nos quer amedrontados e pieguinhas, foge a sete pés. Não, nem a crise, nem um rio seco e sequioso, nem as cajadadas dos falsos democratas, vão estancar o fluxo desta Fontinha...

Neste momento decisivo, por uma exigência recíproca, cada um deve colocar ao outro as questões humanas e colectivas essenciais.

Esta declaração conjunta de apoio ao Es.Col.A já foi abraçada por dez colectivos e associações, e está aberta a mais adesões de quem quiser e quando quiser. Escreve-nos!

Lá do alto, diremos à cidade que rejeitamos o despejo decretado pela actual gestão do Município do Porto e estenderemos a mão a quem veio por bem e para ficar.

Assinam:

AIT/SP - Núcleos do Porto e Chaves
Assembleia Popular do Porto
ATTAC Portugal
Assembleia Popular de Coimbra
Casa da Achada - Centro Mário Dionísio (Lisboa)
Casa da Horta - associação cultural
Casaviva Carl Orff Projecto
Centro de Cultura Libertária (Almada)
5Dias
Colectivo Hipátia
Gaia
Gap - Grupo de Acção Palestina
Indignados Lisboa
AJA Norte - Associação José Afonso
Gato Vadio Livraria
Marcha Mundial das Mulheres
Partido Humanista
Portugal Uncut
Revista Rubra
Associação SAPATO 43
Terra Viva
Traga Mundos
Tribuna Socialista
Uniao Operaria Nacional
UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta

(Lista em actualização)



Ver também este vídeo.
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O meu único receio é que o Vítor Gaspar leia isto



… e tenha mais uma ideia para nos ir ao bolso. 


«Esta idea considera penalizar el aborto y a las parejas que lleven más de 25 años sin concebir, a estos últimos se les retendría el 6% del salario del hombre.»
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15.4.12

A ditadura caiu do lado de cá – [25 Abril -10]


  .@João Abel Manta

Retomo excertos de um texto que Antonio Muñoz Molina publicou no Babelia, há cerca de um ano

«Decía Mark Twain que algunas de las peores cosas de su vida no habían llegado a sucederle. Algunas de las revoluciones mejores de la mía les han sucedido a otros. La primera alegría política desbordada de la que tengo recuerdo me sucedió una tarde de finales de abril en Madrid, en 1974, cuando compré el diario Informaciones, que era el que leíamos los antifranquistas, y vi el titular que anunciaba la Revolución de los Claveles en Lisboa. La dictadura acababa de caer, pero había caído al otro lado de la frontera. Para muchos de nosotros la ebriedad de la liberación no era menos estimulante porque fuesen otros los que estaban viviéndola. Tenía un reverso de esperanza, y otro de melancolía. (…) 

Algunas formas radicales de alegría civil no hemos llegado a experimentarlas nunca. No me quejo. Las cosas son lo que son. (…) 

Salíamos aturdidos del cine a la borrosa realidad y comprábamos Informaciones o Triunfo para sumergirnos por delegación en las muchedumbres portuguesas, que lo inundaban jovialmente todo, las plazas y las avenidas de una Lisboa en la que no habíamos estado nunca, los balcones, los tejados, los parques públicos, los pedestales con elefantes o con reyes a caballo. La libertad era posible, aunque fuera en otra parte. Nosotros imaginábamos que una dictadura era como una fortaleza de muros de hormigón y troneras blindadas que sólo sería posible tomar por asalto o derribar a cañonazos: pero en Portugal el edificio entero de la dictadura se había desmoronado sin que los militares alzados contra ella dispararan sus fusiles, y sin que los carros de combate tuvieran otra misión que la de servir para que la gente feliz escalara sus torretas. (…) 

En mi país las grandes alegrías colectivas suelen tener un origen alcohólico o futbolístico, y dejan tras de sí un rastro de toneladas de basura que siempre recogen otros.» 
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Perdidos



Nunca houve tantos jovens no mundo como hoje. Na maioria dos países em desenvolvimento a percentagem de pessoas com idade compreendida entre 15 e 24 anos continua a crescer e, este ano, 121 milhões de adolescentes completarão 16 anos, 90% dos quais em regiões em desenvolvimento. Em 125 países, menos de metade dos jovens encontra trabalho e, em 50, o número passa para menos de 1/3. 

Se a primeira resposta dos governos à crise global foi estimular a economia, a partir de 2010 passou a prevalecer a preocupação com a dívida pública e os deficits fiscais e os planos de estímulo foram substituídos por políticas de austeridade. Mas esta e criação de empregos são incompatíveis e a UNICEF lembra que «a demora em recuperar o mercado de trabalho só exacerba o custo humano da crise», está a levar «à fome e à desnutrição, a piores condições de saúde, a diminuição dos resultados escolares, a mais trabalho infantil, a crianças sem supervisão e mesmo abandonadas e a taxas crescentes de violência doméstica». 

Mais informação aqui

O rei vai nu e já não é só a criança do conto de Hans Christian Handersen que o diz. Mas continua à solta a fazer estragos por esse mundo fora. 
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Se non è vero…



«O Governo quer indexar a idade de reforma ao centenário Manoel de Oliveira. Acontece que o cineasta ainda está a trabalhar, mesmo tendo 103 anos, e por isso o Governo não sabe que número deve pôr no diploma. 

“Se o Manoel de Oliveira trabalha com 103 anos, não vemos razão para que todos os portugueses não o façam”, afirmou fonte do ministério da Segurança Social. 

Entretanto, o Partido Socialista já se mostrou contra esta medida e pediu ao Governo que, no máximo, a idade de reforma seja indexada à Duquesa de Alba. “Consideramos que é suficiente indexar a idade de reforma à Duquesa de Alba, não é preciso ser ao Manoel de Oliveira”, afirmou António José Seguro, no meio de uma rixa com o grupo parlamentar.»  

(Imprensa falsa)