2.2.13

O Guarda e o porco



No Expresso de hoje (sem link), Miguel Sousa Tavares regressa à história dos porcos tresmalhados na A1 e à «agressão» de um deles por um GNR, nesta deliciosa prosa:

«O célebre descarrilamento dos porcos na A1, que motivou atrasos nos autocarros que traziam professores para uma manifestação e a consequente desconfiança de Mário Nogueira, com legítimas suspeitas de que porcos à solta na auto-estrada fossem a nova arma do Governo contra a contestação, ainda não parou de ser fonte de notícias. Desta vez, a notícia foi a "agressão" a pontapé de um GNR a um dos porcos que não se deixava apanhar. O "bárbaro" acto (um ligeiro pontapé no traseiro do bicho, à passagem deste), foi, obviamente, filmado em telemóvel por um destes cidadãos-repórteres que agora estão em todas as esquinas da vida de cada um, descarregado a seguir no inevitável Youtube, causando aquilo a que os jornalistas gostam de chamar "um efeito viral" e de protesto na blogosfera. Impressionada, alarmada, borrada de medo, a GNR apressou-se (no Facebook, é claro) a condenar o acto do seu agente e a anunciar a abertura de um inquérito, "necessariamente moroso", para investigar "as circunstâncias em que o pontapé ocorreu". O GNR será ouvido em breve e, depois de ouvido também o porco, a investigação, necessariamente morosa como se compreende, concluirá aquilo que está à vista no filme em circulação no Youtube: um porco ia a fugir e o agente da ordem deu-lhe um suave pontapé no traseiro. Um crime sem explicação, sem móbil (visto não ser conhecida qualquer relação anterior entre vítima e agressor) e a justificar plenamente a exigência da Associação Animal de que o agressor sofra "uma punição razoável", talvez mesmo uma pena de "suspensão temporária". Quem sabe até, ser condenado a pagar ao porco uma indemnização por danos físicos e morais, nunca inferior a 50 doses de ração melhorada. Ou, em alternativa, ser condenado a trabalhar a favor da comunidade, limpando a pocilga do porco todos os dias, durante as suas férias de Verão. (...)

Quando estudei jornalismo, ensinaram-me que a notícia era se um porco agredisse um GNR. Agora, é o contrário. Não sei se é para rir ou para ficar assustado.» 
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