19.3.13

Au revoir, adios, bye bye, adeus!



Um texto de Helena Pato, escrito para este blogue. 

Talvez a minha atenção se tenha centrado demasiado no Ministro das Finanças, devido ao facto de a sua incompetência ficar escancarada nas conferências de imprensa. A todo o passo, anuncia, com um mesmo desplante vil e monocórdico, que afinal não foi como previra e que vai ter de tomar novas medidas, que lhes permitam atingir as novas metas. Metas que, daqui por uns meses – todos o sabemos de antemão – nos anunciará que afinal não foram cumpridas e au revoir… É uma desfaçatez arrogante, esta do «quero, posso e mando», já fora dos contornos do regime democrático, própria de um Estado Autoritário, onde o poder político é exercido sem passar cartão aos cidadãos. «Come e cala», que nós vamos-te informando, com antecedência, que terás menos pão, daqui em diante. A figurinha vai às televisões e, numa contenção de quem acusa contrariedade, fala com os jornalistas, sabendo que é o preço que tem de pagar para continuar a ser ministro – uma contrariedade que se obriga a vencer já que, tecnocrata sediado em Bruxelas sem experiência política, se sentiu, subitamente, a incorporar a alma financeira de Salazar. O feitiço terá ultrapassado as suas próprias expectativas e fê-lo reincarnar com o poder de converter à pobreza um povo e de reduzir a pó os principais pilares da nossa economia. Mexe e remexe o caldeirão da austeridade, enquanto a sua autoridade deve iluminar os restantes ministros, que não sabem de finanças, nem consta que tenham biblioteca...

Que fazer? Exigir a demissão de Vítor Gaspar? Ah não! Não basta.

No Governo, outros ministros – que não sabem de finanças nem consta que tenham biblioteca – cativados pelo dom encantatório de Vítor Gaspar e de Passos Coelho e afeiçoados ao mundo financeiro, aplicam, com fervor revolucionário, os ditames da troika. Vão pressurosos às televisões deitar poeira para os olhos da populaça – todos por um e um por todos, que a barca está a afundar. Pois que se corta, que não há dinheiro. Pois que apoios sociais já eram. Pois que somos fantásticos, a nata dos cristãos, uns pobrezinhos solidários, diferentes da Grécia. Pois então que se contentem com um extraordinário plano de emergência de uns míseros cobres para um milhão de desempregados, pois que se consolem com a sopinha das Misericórdias, que orem com a ministra para que chova, e roguem ao Papa Francisco (desde logo, pai dos pobres e, agora, a lembrar que a mensagem mais forte do Senhor é a misericórdia). Pois que o povinho se acalme (ou que se indigne ordeiramente, comportadamente, que cante a Grândola!). Fogem do povo ordeiro, que o medo é apanágio dos fracos. E adios, hasta siempre!
Outros acólitos do primeiro-ministro, de rabinho entre as pernas, depois de consumada a desgraça nas casas que governam, desapareceram no nevoeiro, de certo, por quererem poupar a cara à imundície em que colaboram. Onde está o Crato dos planos inclinados televisivos (tão práfrentex) e catedrático da cadeira de Estatística? Outros, de estrangeiro em estrangeiro, lá vão fazendo a vidinha e, de olhos em Álvaro, fingem que acreditam na recuperação económica.
«Ó Relvas vai estudar!» - Haverá quem dê a cara na defesa de um ministro tão desqualificado, que ninguém consegue falar dele sem juntar mais uma anedota ao seu curriculum? Possivelmente, não. E, no entanto, Relvas é o retrato robot de muitos dos ministros do Governo de Passos Coelho: a incompetência, a ignorância, o autoritarismo, a arrogância, a irresponsabilidade e a mediocridade.

Que fazer? Exigir a remodelação do Governo de Passos Coelho? Ah não! Não basta.

Passos Coelho foi eleito com um programa – de direita, naturalmente – sufragado por uma maioria, em que não terão faltado néscios, agora arrependidos… Rapidamente o ultrapassou, confiante na entrada directa para o Quadro de Honra de Merkel, com que tinha sonhado. E, com a maior bravura, passo a passo, lançou-se num projecto ideológico que deixaria invejosos Marcelo Caetano e os seus condiscípulos, ainda que contentes e orgulhosos da reviravolta. Rodeou-se de um escol de economistas entendidos (oh, oh, se são!) que o escudam, na primeira linha: António Borges que transitou do FMI para o Goldaman Sachs, para voltar ao FMI e, daí, dar um saltinho ao país de origem, onde, dia sim, dia não, deixa breves e magras mensagens, que soam como provocações. Carlos Moedas saiu da Goldman Sachs e veio criar, nesta nossa exaurida pátria, a sua própria empresa de gestão de investimentos, para se tornar, agora, no dinâmico e jovem secretário de Estado responsável pelo acompanhamento do programa de empobrecimento, que nos entra pela casa dentro, à hora dos telejornais. Iluminado pelo mundo financeiro, ilumina: adivinham-se-lhe as certezas a 100%, quando alguma dúvida perpassa pela mente do ministro da tutela ou do primeiro-ministro.
Passos Coelho trocou o país pelos interlocutores do FMI e pelos ouvidos dos contramestres da Europa. Lava-lhes as alcatifas, espalha-lhes flores nos corredores, e coloca-se à porta do quarto, vestido de rendas serviçais. Entretanto, sem esmorecimento, tem sempre à mão mais uma medida de austeridade que lança sobre os contribuintes. Quem, com Abril, veio do nada ao nada torna. Adeus democracia económica! E a Constituição Portuguesa? PSD/CDS Borrifam-se. E as esmagadoras manifestações, vozes legítimas do povo nas democracias? Passos Coelho assobia para o lado. O que lhe importa é pagar os milhares de milhões de euros das “falências” de bancos, resultantes de jogatanas financeiras. O Povo que paga a crise está sugado até ao tutano. Pelo meio, há algumas promessas deste governo, amancebado com a troika por amor e interesse? Sim, há: estão garantidos o desemprego a galope e décadas de austeridade. Desenvolvimento e economia? Adiados. Adios, futuro! Adios vida!
Não podiam ser maiores a falta de credibilidade, a falta de legitimidade politica e ética destes senhores, para governar. (Continuar a ler...)


Que fazer? Exigir a DEMISSÃO do Governo PSD/CDS? Ah não! Não basta.

Não é de incompetência que se trata. Também, claro.
Com este ou outro governo da direita, com Passos e Portas, ou com um outro par (mais ou menos afim) na dança das cadeiras, o Estado continuará a ser atacado, a Economia continuará a afundar-se, a escola pública e o serviço nacional de saúde continuarão a ser destruídos, e a nossa jovem Democracia continuará a perder vitalidade.

Hoje, como nunca antes, está claro aos olhos de QUEM É DE ESQUERDA, (e de alguma outra gente que votou à direita), que políticas de direita não servem. Serão já poucos os cidadãos comuns que não viram a que ponto estes senhores podem chegar. E tudo aponta para que estejam em maioria aqueles que, actualmente, fazem escolhas conscientes à esquerda. E para quê? De que nos serve a continha de somar que vamos fazendo?
Políticas de esquerda serão as executadas em conformidade com os reais interesses do povo português e não com outros propósitos. Chegou o tempo de, como portugueses, impormos na Europa e junto dos nossos credores uma vontade própria. A da Nação. Temos – na esquerda – de nos entendermos acerca dos pilares e instrumentos de construção, fundamentais para vencermos a crise. Uma estratégia de “salvação nacional” terá um custo? Provavelmente. Mas tenho para mim que, perante os nossos interlocutores, não pode haver mais cedências aos despudorados interesses do capital financeiro e aos desastrosos ditames dos políticos europeus, que estão à frente de uma Europa que caminha à deriva. O caos está à porta. A dignidade de um povo terá um preço? Provavelmente. Mas, se existir a Europa solidária que nos prometeram, ela não pode deixar-nos esfarrapados, a pagar esse preço, enquanto caminhamos para o aniquilamento do Estado Democrático. Se não existe, então, bye, bye, vamos tratar de outra forma da nossa vidinha…

É a minha opinião de cidadã. Valerá nada.
Enquanto eu viver, e houver eleições livres, a importância que dou ao voto casa bem com a noção que tenho de cidadania. Sonhei décadas com a Democracia, bati-me como pude por vê-la implantada e, até hoje, nunca me arrependi. Mas a idade (por enquanto) não me tolhe o pensamento ou a acção, quando se impõem formas diversificadas de pressão e de luta.
Pessoalmente, encontro abrigo no actual sistema partidário. Tenho a profunda convicção de que a esquerda pode encontrar a saída, mantendo a sua diversidade.
Mas, aos meus olhos de cidadã sem filiação partidária, se o PS, o PCP e o BE estiverem empenhados em fazer cair o governo PSD/CDS, têm de ser claros na exigência da sua DEMISSÃO.
Se for grande a sua preocupação com a situação do país, terão de encarar, de uma vez por todas, que é preciso pôr fim às políticas de direita e dizê-lo com clareza. Terão de dar passos reais no afastamento do memorando que afundou o país.

Se for autêntica a sua vontade de propor um RUMO para travar a falência material e psicológica deste país, os três partidos políticos da esquerda terão de “dizer” aos jovens desta geração que, por eles, se sentam à volta de uma mesa, juntamente com outros cidadãos que repudiem inequivocamente as medidas políticas que vêm sendo seguidas. Que, por eles, discutirão construtivamente uma plataforma de emergência pós eleitoral.

Senão, que fazer?
Por mim, com mais uma década de esperança de vida, vou esperar, sentadinha, pelo futuro que a Deus pertence…e adeus esperança!
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5 comments:

Susana Maurício disse...

Ao vir comentar, gostei do que li sobre os comentários anónimos.
Agora, sim... eu, Susana Maurício, quero dizer, que sinto uma "inveja" saudável, das palavras que acabei de ler de Helena Pato e, que as subscrevo na íntegra.
São cada vez mais necessários textos, desta qualidade, com a verdade dos factos de tudo quanto estamos a passar e com o APELO à UNIÃO da esquerda. Eu, como a Helena, acredito que é a única forma de se conseguir mudar este nosso país e esta europa, velha... e este "velha" não tem a ver com a idade, mas sim velha, moribunda que nos está levar para derrocada profunda. Não só no nosso país, como em outros, o que é de conhecimento de todos.
Helena Pato, os meus Parabéns por este excelente texto. A "inveja" saudável que refiro, é somente o desejo de assinar por baixo. Não o escrevi... mas subscrevo. Já partilhei e irei partilhar muito mais.
Bem Hajas e Bem Hajam todos os Homens e Mulheres, que assim pensam e que para além do pensar que é insuficiente... AJAM!
Susana Maurício
19/03/2013

Susana Maurício disse...

PS:- Acrescento: É isto Lena, que há tanto tempo na minha forma simples venho a apelar: UNIÃO entre a esquerda e todos os que desejam uma vida com dignidade, liberdade e humanitária. Não só no nosso País... em cada país europeu o mesmo tem de ser feito, e darmos as mãos, por esta luta. Somos muitos. Temos FORÇA. Algo que nunca consegui entender, foi o facto de a Direita se conseguir entender com as suas diferenças... enquanto que a esquerda não. É mais do que tempo de isso acabar. UNIDOS com o POVO e pelo POVO, mantendo as diferenças, mas não deixando que essas diferenças interfiram no que é fundamental. Como tu sou de Esquerda, sem filiação a nenhum partido. Como tu ACREDITO que é a única solução. Susana

evtng disse...

O grande PS, já disse que näo rasga o acordo com a troika!!!!
E isso nunca será uma política de Esquerda!!!!!
Dessa forma näo concordo que o PCP, Verdes e Bloco se juntem a um PS agarrado à TROIKA!!!!

evtng disse...

O problema é que o Ps näo quer ragar o acordo com a troika!!!! E isso nunca será uma politica de esquerda!!!! Será mais do mesmo!!!!

Susana Maurício disse...

Pois evtng, esse o grande problema, concordo.
Tem que existir mudança, ou naufragamos todos... a UNIÃO é necessária e tão urgente. Mas sem troika! Se o governo sair, e formos a eleições "normais", não tenho dúvida que ganha o PS... é a eterna dança de cadeiras. Lá ficamos no mesmo. Não é essa a solução. Teremos de ir pressionando mesmo que com palavras que abanem, alertem e sejam um grito.