13.3.13

Da inutilidade



Baptista-Bastos, a propósito do Roteiro de Cavaco Silva. Hoje, no DN.

«Estranha conclusão. O homem é o que é: um medíocre brunido, formal e liso. Com penosa disposição li o texto, porque o alarido a tal me impelia. Os habituais tropeços nas preposições, o confuso desalinho com as adversativas, e a ausência total de qualquer ideia. O costume da banalidade, elevado à nobre condição de "tema." (...) As vinte páginas do extraordinário texto são o retrato (haja Freud e a nossa paciência!) da insólita personagem que nos coube na vida. Custa-me dizer isto: mas o dr. Cavaco, o que diz e o que não diz, e não faz, estão longe de poder ser levados a sério. (...)

A pátria está de pantanas, os jovens abandonam o país onde nasceram; os desempregados fazem multidão; os velhos morrem sós, de fome e de miséria; os suicídios aumentam; todos os ofícios e corporações são atravessados pelo despautério de uma política assassina; e a figura que está em Belém demonstra-se incapaz de admitir qualquer conteúdo dos assuntos correntes.

Disse, após mais de um mês de reclusão, que vai ensinar os portugueses a conviver com a crise, e que tem mais experiência política do que a maioria dos seus antecedentes. Perante isto, creio que temos de redefinir a natureza das nossas decepções e os modos de tornar eficazes o que nos indigna
(O realce é meu.)
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1 comments:

Blondewithaphd disse...

Conviver com a crise é o que os portugueses mais fazem desde que se esgotou o ouro do Brasil...