6.3.13

Reformados e indignações



Alguma tinta já correu desde a apresentação pública do MIR (Movimento dos Indignados Reformados), feita ontem e largamente divulgada pelos meios de comunicação social.

Um grupo de pensionistas apessoados decidiu criar um movimento, reuniu dinheiro para contratar advogados e consultores de alto nível, intercedeu junto do Provedor de Justiça e vai fazer tudo o que puder para lutar pela inconstitucionalidade da CES (Contribuição Extraordinária de Solidariedade). Nada contra, são livres de o fazer. É dito que têm todos «reformas milionárias» (eles garantem que não, que entre os 70 membros há quem receba pouco mais de 1350 euros, limite mínimo para a aplicação da CES) e que, por esse motivo, é imoral que reclamem? Talvez, mas quem quiser que lhes atire a primeira pedra: os que têm pensões de 200 euros também não entenderão a revolta dos que recebem 1.351.
Outra questão, bem diferente, é tentar perceber (e eu ainda não percebi exactamente) por que razão a principal cara do Movimento é alguém com o passado profissional de Filipe Pinhal, tanto em termos quantitativos como judiciais. Não sei se se trata de um tiro no próprio pé e / ou de um acto sobranceiro e acintoso com efeitos nefastos colaterais: virar a maioria da população contra todos os que reclamam por serem vítimas da CES (afinal são ricos, quando comparados com os mais pobres), acabando assim, por ricochete, por provocar uma aceitação da medida incluída pelo governo no OE2013.

Também: na conferência de imprensa em que o MIR foi lançado, apareceu um contestatário que interpelou vigorosamente a mesa e que, rapidamente, se tornou o herói do dia nas redes sociais. Também ele reformado da banca e «vítima» da CES, acusou os presentes de «já terem mamado muito à conta do zé trabalhador». Intervenção populista qb e que serve, conscientemente ou não, para completar o cenário: afinal, há reformados «indignados» pobres, ricos e muito ricos. Faltava esta cereja em cima do bolo.

Em resumo, tudo isto serve, às mil maravilhas, para fazer esquecer o fundo da questão: os reformados e os pensionistas são credores do Estado português, como o FMI e outras entidades o são, porque assinaram com ele um contrato. E este tem de ser respeitado, sob pena de nós, cidadãos, termos definitivamente a certeza de que já não vivemos num Estado de direito, que cumpre os seus compromissos. 
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