8.4.13

A vingança de um primeiro-ministro



Precisei de algumas horas para digerir a imagem e o som que me entraram pela casa dentro, ontem, pelas 18:30. Por muito más que fossem as expectativas quanto ao que Passos Coelho viria dizer, elas foram todas largamente ultrapassadas.
Depois de quase 24 horas de boatos e de teatralizações várias, que foram desde a hipótese de demissão do governo ou, pelo menos do ministro das Finanças, a uma ida a Belém e a um comunicado cúmplice do presidente da República, veio a comunicação ao país mais insuportável que me foi dado ver e ouvir.

Já quase tudo foi dito sobre o inacreditável exercício de vitimização a que assistimos e sobre a tentativa de transformar o falhanço total de quase dois anos de desgoverno num sucesso, apenas posto agora em causa por um efeito marginal provocado pelo chumbo do Tribunal Constitucional.

Mas tão chocante como o conteúdo foi o tom indisfarçado de ameaça em que o primeiro-ministro disse aos portugueses que vem aí o futuro próximo mais negro que imaginar consigam, como se não bastasse a negritude do presente. Pela calada da noite, uma espécie de bruxa má veio amedrontar criancinhas para lhes tirar o sono.

Não só: o discurso de ontem foi um exercício de vingança, não só contra os juízes do Tribunal Constitucional, mas contra tudo e contra todos os que oferecem resistência, por mínima que seja, a um grupo de tresloucados incompetentes que se considera agora com uma legitimidade reforçada. Mas houve um enorme deslize, uma grande lacuna, fruto de imaturidade e de falta de mundo: saber que a vingança é um prato que se serve frio. Assim, quente, é indigesto. E terá efeito de boomerang
.

2 comments:

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

"Sado-monetarismo": Paul Krugman com o seu dom habitual da palavra exacta.

João Manuel Vicente disse...

Questão é que nem o incompetente se demite nem o outro ainda mais incompetente o demite.
E mesmo que tal acontecesse, saber que a alternativa a tal primeiro incompetente é antónio seguro, enfim...